Autarca de Bragança teme “tentativa de encerramento” da maternidade por falta de obstetras

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Ter, 25/01/2022 - 11:51


A falta de médicos obstetras na maternidade de Bragança, a única do distrito, estará afectar o funcionamento da unidade de saúde

Em 2021, nasceram 385 bebés na maternidade de Bragança, menos 52 que no ano anterior, no entanto foram registados no distrito 513 testes do pezinho, o que significa que os bebés da região estão a nascer noutras maternidades fora distrito, nomeadamente em Vila Real. Actualmente há três profissionais desta área a trabalhar, mas são necessários mais dois que, segundo o candidato do PSD por Bragança, não foram contratados porque o ministro das Finanças não permitiu. Com a falta destes especialistas, o presidente da câmara de Bragança teme que seja uma “tentativa de encerramento” da maternidade. Não seria algo inédito, visto há uns anos esteve em risco de fechar. Hernâni Dias afirmou que este é um problema que “terá que ser resolvido”. “Não deixaremos de tomar as medidas necessárias, não tanto sob ponto de vista da execução, porque aí não temos qualquer tipo de intervenção, mas também alertar para esta que é uma situação problemática, representando uma perda enorme para Bragança”, disse. O autarca entende que esta questão é “facilmente resolvida quanto a vontade de contratar obstetras”. “Conheço duas pessoas que estão interessadas em vir para Bragança e elas não são contratadas. Já seria grave que houvesse falta e não houvesse ninguém a querer vir, mas é mais grave ainda quando nós vemos que há interesse e não há vontade de contratar estas pessoas”, afirmou. Perante este cenário, Hernâni Dias contactou a Administração da Unidade Local de Saúde do Nordeste, mas a informação que lhe foi transmitida “não é exactamente aquilo que acontece na realidade”. “Percebemos bem que não há aqui uma vontade clara de explicação daquilo que é a realidade local, o que ainda nos preocupa mais, porque o contacto que temos tido com grávidas que apontam alguns problemas não são confirmados pela Administração Local de Saúde”, criticou. Perante esta situação, o município de Bragança exige “ao Ministério da Saúde e ao Conselho de Administração da ULSNE, o reforço, imediato, do quadro de pessoal de médicos obstetras, da Unidade Hospitalar de Bragança, com vínculo permanente, em quantidade suficiente para assegurar o pleno funcionamento do serviço, em condições de segurança e de qualidade adequada”. A tomada de posição da autarquia vai ser enviada à ministra da Saúde, à Direcção-Geral de Saúde, à Entidade Reguladora da Saúde, à Unidade Local de Saúde do Nordeste, à Comunidade Intermunicipal Terras de Trás-os-Montes, à Comunidade Intermunicipal do Douro e às Câmaras e Assembleias Municipais do distrito de Bragança.

ULS do Nordeste diz que assistência urgente é “sempre assegurada”

O Jornal Nordeste contactou a Unidade Local de Saúde do Nordeste para perceber se faltam médicos obstetras na maternidade de Bragança e se a sua contratação foi negada. A ULS respondeu que a saída de um médico desta especialidade tem provocado “constrangimentos pontuais na constituição da equipa médica de urgência”, no entanto “a actividade assistencial urgente é sempre assegurada por um especialista em Ginecologia e Obstetrícia”. “Continuará a ser garantido o funcionamento da Maternidade da ULS do Nordeste, dando assim resposta às necessidades da população, que se distribui por uma área superior a 6.600 quilómetros quadrados, numa óptica de proximidade e complementaridade, pelo que a continuidade deste Serviço não está dependente do número de partos realizados”, disse, em comunicado. Referiu ainda que é “prioridade do Conselho de Administração da ULS do Nordeste, em articulação com o Ministério da Saúde, reforçar as equipas de médicos especialistas” e que “são abertas, todos os anos, vagas nesta especialidade para a ULS do Nordeste”. Contudo, não confirmou nem negou que o ministro das Finanças tivesse proibido a contratação de profissionais.

Jornalista: 
Ângela Pais