Estação dos CTT de Vila Flor encerrou
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Qua, 02/01/2019 - 11:37
Sofia Colares Alves*
Ao longo das duas últimas décadas as crises humanitárias têm crescido em número, complexidade e severidade, prevendo-se que o seu número continue a aumentar. Por esta razão, agora mais do que nunca, é preciso aumentar substancialmente a ajuda às pessoas necessitadas de ajuda humanitária. A União Europeia não virou costas a esta missão e somos hoje, em conjunto com os Estados-Membros, o principal doador de ajuda humanitária no mundo, um facto de que nos devemos orgulhar enquanto europeus.
A União Europeia está empenhada em dar resposta a estas crises e a fornecer a ajuda humanitária necessária, que tem uma importância vital para milhões de vítimas de conflitos violentos e de catástrofes naturais que ocorrem no espaço da União, mas também no seu exterior. Uma das prioridades da União é a de assegurar que as pessoas carenciadas recebem ajuda humanitária rapidamente e sem entraves, independentemente da sua nacionalidade, religião, sexo ou origem étnica. Parte deste apoio é canalizado para as zonas afetadas através do Mecanismo de Resposta de Emergência da União Europeia, cuja assistência vai desde o envio de bens de primeira necessidade a equipas de especialistas de intervenção ou de salvamento, passando também por postos médicos ou equipamentos. Esta ação salva e protege vidas e é fundamental para evitar ou aliviar o sofrimento humano.
Recentemente, a Comissão Europeia financiou ajuda humanitária de emergência para as vítimas dos terramotos e tsunami que atingiram a Ilha de Celebes, na Indonésia. Além disto, enviou especialistas para coordenar os esforços de socorro da União Europeia e acionou o serviço de emergência do satélite Copérnico para criar mapas que ajudassem as equipas no local. Nestes casos críticos, a Comissão Europeia está ainda pronta a canalizar os apoios suplementares necessários. É o caso, por exemplo, do Afeganistão, país ao qual a Comissão Europeia dedicou um montante adicional de 20 milhões de euros em ajuda de emergência, dado o agravamento da situação humanitária desde o início de 2018 que se deveu, em parte, a uma grave seca que afetou extensas zonas no país. Graças a este financiamento, torna-se possível que muitas organizações humanitárias presentes na região deem resposta às necessidades essenciais mais urgentes.
Estes são exemplos que demonstram como, todos os anos, a assistência europeia chega a mais de 120 milhões de pessoas por todo o mundo. Esta representa apenas 1 % do orçamento total da União Europeia, o que equivale a pouco mais de 2 euros por cada cidadão europeu. É, sem dúvida, uma boa forma de reiterar o valor europeu da solidariedade para com as populações em necessidade. Aliás, esta ajuda humanitária conta com o apoio esmagador dos cidadãos da UE: de acordo com o Eurobarómetro, quase nove em cada dez europeus consideram que a ajuda humanitária financiada pela UE é importante! É fundamental que não deixemos de investir em iniciativas como esta, que nos fazem ter orgulho em fazer parte do projeto europeu.
* Chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal
Quem terá inventado o Inverno e para que serve? Quando fomos expulsos do paraíso terrestre, nesse local, o que se sabe é que era sempre Primavera e Verão: uma sucessão de dias magníficos, luminosos, cheios de sol, amenos e tépidos, até mesmo algo quentes por volta do meio-dia. Todos os cantos de pássaros e vastidões de verduras, coloridas de florzinhas, suavizavam a austeridade mineral do big bang que precedera a Criação propriamente dita seguida de todos os equipamentos e acompanhantes animais de todas as espécies.
O Génesis não fala em nenhum momento das estações frias e intermediárias. Nem do Outono fresco em que começam a murchar as belezas do mundo nem dos Invernos rugosos que beliscam e endurecem tudo aquilo em que tocam. O programa de Adão e Eva não compreendia nada disto. Ficou claro portanto, desde o início, que a mais bonita das estações, na terra, não poderia durar muito.
Os arrepios da carne e os calafrios não enganam sob o efeito maléfico do Inverno com os seus ventos escorregadios, as suas trombas de água gelada ou de neve que tarda a fundir.
Não passa duma fuga permanente o Inverno. Nunca deixa ninguém sossegado nem o espírito descansado através do suave ar purificado. Bate forte, martiriza, vergasta as portas das nossas casas, fustiga as nossas janelas geladas, espalha por todo o lado um cinzento radicalmente triste e sem perspectivas e vai reinando através do barulho que vai espalhando. É perverso o Inverno. E teimoso. Para que serve então? Acentua as desigualdades e torna-as aos pobres ainda mais insuportáveis. A sua única vantagem é, nesta ótica, conduzir o nosso olhar na sua direcção e estimular pequenos reflexos solidários com os nossos semelhantes mal alojados, pouco aquecidos, mal alimentados. Fiquemos por aqui. Não é alegre o Inverno quando os cortejos gelados circulam pelas ruas da aldeia, pelos nossos cemitérios. Mais uma tia, mais um amigo, mais um…“mais velho”, “muito novo”.
A sua única utilidade, pelo que parece: é ensinar-nos, pela sua imposição, a virtude da paciência e a sabedoria da espera. Sabemos pertinentemente que o Inverno não pode durar mais do que uma estação, com os seus longos e escuros dias nas duas extremidades, entrada e saída.
Pela experiência, sabemos que se trata dum túnel com duas saídas e que a recompensa das nossas esperas, são praias de luz acrescida, da aurora ao pôr-do-sol. Ninguém o ignora; enquanto ele nos castiga, as plantas e os animais aproveitam para se preparar – com um ar de quem dorme – para um renascimento primaveril, para uma ressurreição dos ramos e das folhas, asas de verdura e de cor, alegrias renovadas.
Basta esperar. Com toda a confiança, por bem encostados que estejamos num cantinho do mundo, pequeno e recuado. Esperar é uma arma que não engana nunca aqueles que sabem utilizá-la. Os impacientes acabam sempre por tropeçar no tapete, escorregam no chão vidrado, constipam-se com a mínima corrente de ar. Apanham todo o tipo de vírus. Os que têm paciência, estes, insensíveis à dor das manhãs frias e das noites trespassadas de humidade, esperam pela saída com a calma lentidão dos produtos que saem do frigorífico para serem descongelados. Estes sábios entre os sábios são os melhor colocados para acolher antes dos outros a chegada muito previsível do momento climático mais extraordinário do nosso planeta: a Primavera!
A primavera bendita em que o frio nos impediria por pouco de acreditar ainda, na permanência provada desta perspectiva, na ideia de que em confiança, a Primavera triunfará atrás do cinzento, do nevoeiro cerrado e do vento gelado, no momento escolhido pelos planos misteriosos da natureza: as flores, a suavidade, as nuvens brancas, as doçuras do mel e do azul do céu tal é o primeiro ensinamento do Inverno, este mestre é a esperança.
Falar do ano velho enterrado entre exercícios de juízos do juízo do ano obrigava-me a ingente tarefa de procurar eufemismos de modo a não recorrer a linguagem baixa ou obscena para caracterizar o vulcão de lama e escórias de cada um dos 365 dias que lhe deram corpo. Poupo os leitores não lhes recordando o passado recente, poupo-me higiénica e espiritualmente na contabilização dessas enxúndias.
Escrever sobre 2019 ainda mal soltou os primeiros vagidos é, principalmente, alinhavar palavras cuja essência primacialmente assenta nos nossos desejos apesar de poderem estar imbuídos de sopesada reflexão seja de cunho futurista popular, seja de índole futurista de expressões literárias defendidas e propagadas por Marinetti, cujos caibros de sustentação eram o inconformismo, a ausência de humanismo e anti-tradicionalista. Trago à colação o inventivo Marinetti por temer os efeitos dos rebentos em crescendo do enovelado futurismo relativamente ao Futuro não só na Europa, também no resto do Mundo, não devemos esquecer os ensinamentos da história, por isso mesmo agito a água do referido movimento literário surgindo hirsuto, de cabelo lambido, usando três telemóveis ao mesmo tempo, um em cada orelha, a gritar elogios à sua poesia e a defender a destruição de Museus e Bibliotecas. Repito, Museus e Bibliotecas. O estrídulo movimento foi incerto no Fígaro, de Paris, em 1900.
Anunciam-se movimentos a entornarem copos cheios de sumo de laranja por especialistas no espremer de laranjas colhidas há muito tempo cujo objectivo é o de sobrar pouco desse líquido após as eleições legislativas, tais peritos na intriga defendem crua e duramente os seus muitos interesses, não temem a invasão do seu território, só temem a esterilidade do veio sustentador, em face desta realidade mesmo o Senhor de La Palice augurará meses sombrios a Rui Rio. Os politólogos de formação anglo-saxónica apontam-lhe o defeito de instinto de matador político.
Já António Costa é alto representante da escola italiana do stiletto (Mota Andrade é um bom exemplo), manejando-o nas ocasiões graves, as miúdas ficam ao cuidado dos muitos ajudantes, fundamentalmente, preocupa-o a forma expedita e subtil no desfazer os nós sedosos de Marcelo empregando os seus dotes no manejo das palavras na dupla ortofonia ocidental e oriental. Pode apetecer-lhe esticar a corda até cair, levantando-se rapidamente indo à procura da maioria absoluta, no entanto, a constância da cultura hinduísta leva-o a esconder a ânima portuguesa até ao dia do resplandecer a aquela que não tem princípio nem fim, podendo manifestar-se em pessoas, animais, plantas, coisas, dúctil, refreando a vontade de agir imediatamente.
Em 2019, o nosso Presidente, o dos afectos, continuará a colocar no cesto das intenções de voto a conjugação dos abraços, afagos, beijos (mesmo os lambuzados), beliscões doces nas bochechas das crianças, palmadinhas e palmadas nas costa, o intento é superar a votação anterior promovendo o esvaziamento dos putativos adversários, não lhe passa pela cabeça ser apodado de rei sol, agora Presidente Sol, acredito piamente nisso. O açoriano Carlos César tem de esperar. Há anos, nos jardins da fábrica de Chá da Gorreana alvitrei-lhe essa hipótese. Também tenho de esperar. O PSD não escolhe, está escolhido, esteja no comando da nau laranja Rui Rio, esteja mandar Relvas escondido no biombo chamado Passos Coelho. O CDS idem aspas, aspas!
Acerca do PAN não escrevo. Um partido interessado no extermínio dos animais nos provérbios não merece a minha atenção. O caso muda de figura relativamente ao Bloco da esquerda caviar e ao Partido Comunista.
Os bloquistas perseguem o sonho de um dia ocuparem alguns cadeirões do poder, nesse propósito convém-lhes ouvirem ópera em São Carlos e dançarem o chula no Minho na tentativa de aumentarem a sua presença no Parlamento Europeu e na Assembleia da República, não sendo, nem querendo armar em pitonisa imitando a bruxa de Quiraz (ela possuía o dom da duplicidade opinativa das referidas pitonisas) não prevejo a insuflação do seu eleitorado pois quando chegar a altura os rapazes socialistas vão lembrar a sua cumplicidade na governação de Costa apoiado no Senhor das cativações, férreo carcereiro das contas públicas agradando aos conservadores por convicção e a todos quantos estão obrigados a serem.
O Partido Comunista tenta contornar o custoso e evidente envelhecimento do seu eleitorado, a modernização na forma de entendimento do quotidiano, o adoçar preguiçoso da militância com a proliferação de novas formas de luta no quadro sindical, sendo assim e a meu ver é, Jerónimo de Sousa continuará a ser imprescindível a fim de o PC manter o seu grupo parlamentar até porque em caso de necessidade o filho de Orlando da Costa prefere ouvir as palavras comunistas ao palavreado de Catarina. Uma coisa é o aperto de mão dos comunistas, outra são as palavrinhas da Catrina que andaram de mão em mão e foram ter ao pombal de S. João. Lembram-se da canção de ninar?
Votos de Ano Novo. Um novo ano repleto de venturas para os leitores, para redacção do jornal e director, sem esquecer a continuação de vivacidade nos editoriais.
Na falsa educada utilização promíscua das palavras, todos acabam por adiantar algo em que talvez gostassem de acreditar, mas que no íntimo do seu ser, não acreditam ser possível, a não ser no vão contentamento de quem as ouve. Sempre foi assim no deslizar do tempo incomensurável e continuará a ser no que está para vir.
A despedida do ano que agora chega ao fim faz-nos desejar imensas coisas boas. Somos demasiado egoístas ou gananciosos. Deveríamos ser mais comedidos e desejar simplesmente um novo ano com saúde e paz e ficar por aqui. Só isto. Mas é impossível porque queremos tudo e acabamos por cair nos desmandos tremendos que nos levam aos abismos mais profundos. Exageros. Nada de novo. A ambição é própria do homem e a parcimónia raramente faz parte do seu comportamento habitual. Novidade é, ou talvez não, quando para conseguir esses desejos se promete muita coisa em troca, na firme convicção de que nunca vão passar de vãs promessas.
Antes do ano acabar tinha que ser aprovado o Orçamento de Estado para o próximo ano, como é normal, e ser homologado pelo Presidente da República, a fim de ser implementado a partir de janeiro. Discutiram na Assembleia todos os requisitos necessários a esse objetivo e os partidos políticos assumiram as suas responsabilidades tendentes à aprovação em causa. No meio desta discussão, bailava um decreto promessa antigo do governo sobre a contagem do tempo de serviço dos professores a ser implementado a partir de janeiro de 2019, após acordo com os sindicatos respetivos, mas que estava incluído no Orçamento, como sabemos. Estava. Antes da discussão do orçamento o governo tornou bem claro que isso não iria acontecer e fez uma proposta de contar somente dois anos e nove meses e alguns dias. Seguiram-se greves e negociações a par da intransigência do ministro da tutela. Nada se alterou.
Aprovado que foi o Orçamento e perante a teimosia do governo em apresentar ao Presidente da República o tal decreto de conceder apenas dois anos e nove meses aos professores, esperaria certamente que Marcelo o aprovasse e tudo ficaria resolvido. Mas não. Marcelo não só não aprovou como remeteu para nova discussão toda a problemática da contagem a ser cedida. Teremos assim a continuação da saga que já tem algum tempo e muita discussão sem soluções à vista.
Quando o governo dava os primeiros passos nos meandros ministeriais, prometeu tudo e mais alguma coisa para se poder manter em exercício. Agora que já está a ver uma luz ao fundo do túnel, que é como quem diz eleições e a possibilidade de se manter nos gabinetes, puxa dos galões da teimosia e arroga-se da importância necessária para desdizer o que disse e faltar às promessas proferidas. Não está à espera do reverso da medalha!
Se os meus alunos me respeitam, por que razão não me há-de respeitar o governo? Pois bem. Vamos fazer uma proposta aos senhores ministros. Todo o tempo que têm de trabalho não contará nem como tempo de serviço nem para a reforma. Ficamos quites. Será que aceitam? Se os professores podem ficar sem quase dez anos de serviço, como se não tivessem exercido a sua profissão, então eles também podem ficar sem essa equivalência. Que percam todas as mordomias que têm e as regras especiais que os envolvem nos meandros e corredores do poder e vamos ver se aceitam ficar sem tudo isso. E nós não estamos a fazer promessas! São meras propostas. Aceitam? Claro que não.
Constatamos deste modo que as promessas têm sempre uma razão de ser, nem que não seja mais que uma simples promessa para atingir alguns dividendos imediatos, como foi o caso. A verdade é que as promessas ficaram, mas apesar de terem atingido um objetivo de curto prazo, terão de ser renegociadas, custe o que custar. Mas como este ano de 2019 tem eleições decisivas para o governo e para o partido socialista, as negociações poderão ser mais fáceis. No entanto, também se pode dar o caso de o partido socialista estar tão convicto da vitória que não vai arredar pé da sua promessa inicial e arrastar o caso até às eleições. E a ser assim, só um milagre de S. Marcelo pode resolver a contenda.
Para já, resta-nos despedir de 2018 com um ligeiro amargo de boca e com a esperança de em 2019 os professores terem, não uma falsa promessa, mas um entendimento razoável que lhes permita reaver o que lhes foi tirado indevidamente.
Certo é que fica no ar a promessa dos professores de continuar a luta para adquirir o tempo perdido. O governo terá de enveredar pelo diálogo e pela negociação e ver se assim consegue tirar dividendos políticos em ano de eleições. Como diz o povo, assim como assim, as promessas são sempre falsas! Viva a esperança que é a última a morrer.
O primeiro Francisco Vaz que nos aparece com o sobrenome de Eminente, era um mercador de Vila Flor, casado com Isabel Pereira, filha e neta de conhecidos rendeiros, moradores na mesma vila. Francisco era já falecido em 1620, segundo a informação de seu filho, o “Eminente Lopo Vaz”, que, em outubro daquele ano, foi preso pela inquisição.(1) Lopo, nascido por 1593, estava ainda solteiro, casando mais tarde com Genebra Alvim. Tinha 2 irmãos e 3 irmãs, todos casaram e parece que todos puseram o nome de Francisco ao filho primogénito. Depois que ganhou a liberdade, Lopo e a família meteram-se a caminho de Castela.
Em 1638, quando a inquisição fez nova investida em Vila Flor, as primeiras pessoas a ser presas foram 3 “Eminentas” – a mãe, Isabel Pereira, que contava a provecta idade de 84 anos e as filhas Eva Pereira e Genebra Henriques, aquela casada com Diogo Henriques e esta com Diogo da Mesquita Muñoz.(2)
Este tinha sido preso no ano anterior, quando passava a fronteira de Miranda do Douro com 13 cargas de linhos e lenços para vender em Castela, juntamente com seu irmão Pero da Mesquita Muñoz e o companheiro Francisco Vaz Faro. Também o pai de Diogo Muñoz se chamava Francisco Vaz, o Amarelo, de alcunha e tinha um tio materno do mesmo nome, médico de profissão, casado com Inês Vaz. Um filho deste tinha loja de mercador em Lisboa, onde foi preso em 14.5.1630.(3) Como se vê, em alguns casos, entra-se num verdadeiro labirinto quando se trata de fazer alguns genealógicos da gente da nação hebreia.
Já então a família de Diogo Henriques se encontrava a viver na cidade de Pastrana e a sua vida era a de mercadejar entre Portugal e Castela. Para andar mais à vontade entre os dois reinos, adotara o sobrenome Muñoz e trazia na carteira uma certidão médica dizendo que lhe fora cortada a pele do prepúcio, por motivos de doença. Ou seria para disfarçar e estaria mesmo circuncidado, como opinaram os médicos da inquisição de Coimbra?
A prisão das “Eminentas” deixou “a nação” de Vila Flor em clima de grande apreensão, de verdadeiro terror, como se depreende do testemunho de Manuel Alvarenga, em 25.4.1642:
— Disse que defronte dele mora Maria Henriques, cristã-nova, mulher de Diogo Henriques Julião, a qual esteve 2 ou 3 meses antes do auto-da-fé último que se celebrou em Coimbra, temendo-se que dessem nela as Eminentas, que lá estavam presa e não apareceu até que veio um neto do Eminente e lhe deu aviso e logo apareceu…(4)
Se as Eminentas e Diogo Muñoz voltaram a Vila Flor, o mesmo não aconteceu com Pero da Mesquita Muñoz, que foi queimado na fogueira do auto de 30.10.1638,(5) celebrado na praça da cidade de Coimbra.
Estes e outros acontecimentos, foram seguidos de dezenas de outras prisões e da fuga da maior parte dos cristãos-novos, (e muita gente da nobreza da terra, falsamente acusada de judaizar) de modo que, a partir de 1671, praticamente deixou de existir “a nação” de Vila Flor. Obviamente que a generalidade fugiu para Castela e dali se dispersou para os mais diversos destinos.
Pastrana era desde há duas décadas a terra de morada dos Munhóz (Henriques da Mesquita) fugidos de Vila Flor, sendo ali presos, em 1626, vários membros da família, conforme declarou Pero Munhóz, em janeiro de 1638, na inquisição de Coimbra:
— Haverá 10/11 que fora preso pela inquisição de Cuenca, onde esteve 4 meses e saiu livre e foi preso por uns mexericos de dar ajuda e haverem fugido uns presos pelo santo ofício; e naquela ocasião foram presos seu pai, seu irmão Manuel Henriques, seus tios Domingos Henriques e Diogo Henriques e a tia Águeda Correia, mulher de António Henriques seu tio.(6)
Em Castela se reencontraram e cruzaram por casamentos os Henriques com os Rodrigues da Mesquita e os Lopes da Mesquita, fugidos de Vila Flor e Torre de Moncorvo. Entre eles, Dinis Álvares, que casou com Genebra Henriques e seu irmão, Bernardo Lopes da Mesquita, casado com Ângela Henriques, irmã de Julião Vasques, dos Henriques de Torre de Moncorvo. Mark Schreiber,(7) um investigador alemão contou a história desse grupo familiar, consubstanciada na árvore genealógica enquadrada neste texto.
Menos estudadas e muito nebulosas se apresentam as origens de um homem, originário de Vila Flor, que ganhou celebridade em Castela, chamado Francisco Vaz Eminente. Seria certamente um dos muitos netos ou sobrinhos-netos de Francisco Vaz Eminente, falecido em Vila Flor antes de 1620.
A informação mais concreta que temos é de Carmen Sanz dizendo que ele pertencia aos núcleos familiares dos Henriques e dos Pereira, de Vila Flor.(8)
Por 1630, Francisco Vaz aparece referido como mercador e, em 1651, terá arrematado no almoxarifado de Sevilha a cobrança dos impostos sobre os produtos que chegavam das Índias. Por 1653, casou com Violante del Ribero, de origem portuguesa, que lhe deu dois filhos: Tomás António e João Francisco.
Para além dos direitos do almoxarifado, arrendou o fornecimento de géneros aos militares da Armada Real da Andaluzia. Em 1663 conseguiu arrendar o almoxarifado maior de Andaluzia, o que significava o controlo de todos os produtos importados e exportados pelas alfândegas do maior porto de mar de toda a Espanha.
Começaram então os problemas com os grandes mercadores e com os embaixadores e cônsules das nações estrangeiras que se queixavam das excessivas prerrogativas que lhe eram concedidas e que atentavam contra a liberdade de comércio. Acabou por ser preso, acusado de abuso de poder, passando o almoxarifado de Sevilha a ser diretamente administrado pela Fazenda Real.
Foram dois anos desastrosos para a economia do País e para a Fazenda Real, pelo que, em 1667, Francisco Vaz foi reabilitado e voltou à gerência das alfândegas de Sevilha, ainda mais fortalecido. E foi nomeado para um posto de muito prestígio, o de “contador de honor del tribunal de contadoria”.
A partir de 1680 a direção dos seus negócios passou para a responsabilidade do seu filho Tomás, enquanto ele rumou a Madrid. E porque ficara viúvo, casou em segundas núpcias, com D. Josefa Salazar, de uma influente família de cristãos-novos portugueses.
Na qualidade de “contador de honor” e manifestando toda a sua habilidade comercial, apresentou uma série de propostas de redução das tarifas alfandegárias sobre alguns produtos, de modo a estimular a atividade comercial, não apenas em Sevilha e nos portos marítimos, mas também nos portos secos de toda a Espanha. Esse conjunto de propostas aduaneiras é apresentado como o primeiro regimento de comércio internacional e passou à história sob a designação de “Convénio Eminente”. No essencial, vigorou nos portos de Espanha até finais do século seguinte.
A inquisição, porém, mostrava-se inimiga da liberdade, não apenas no campo da religião mas também vida social e na atividade comercial. Em 29 de dezembro de 1689, Francisco Vaz Eminente foi preso e seus bens sequestrados, acusado de ser judaizante. Com ele foi também preso o seu feitor e secretário, Bernardo da Paz y Castañeda, que faleceu no cárcere.(9)
Notas:
1 - Inq. Coimbra, pº 3799. A expressão “Eminente Lopo Vaz” consta de uma informação enviada para Coimbra pelo abade da matriz de Vila Flor, Manuel de Abreu.
2 - Idem, pº 1841, de Isabel Pereira; pº 2174, de Eva Pereira; pº 1843, de Genebra Henriques; pº 7067, de Diogo da Mesquita Muñoz, aliás.
3 - Inq. Lisboa, pº 9949, de Pero da Mesquita.
4 - Inq. Coimbra, pº 6102, de Branca Rodrigues.
5 - Idem, pº 5770, de Pero Henriques da Mesquita, aliás, Pero da Mesquita Muñoz.
6 - Idem.
7 - SCHREIBER, Markus– Marranen in Madrid 1600-1670, pp. 116-119, Franz Steiner Verlag Stuttgart. Inq. Lisboa, pº 5197, de Julião Vasques; pº 2268, de Francisco António Olivares, natural de Cáceres, filho de Manuel Rodrigues e Filipa Nunes, de Vila Flor.
8 - AYIÁN, Cármen Sanz – Los Banqueros de Carlos II, pp. 346-351, Universidad de Valladolid, Secretariado de Publicaciones, 1999.
9 - ALMEIDA, A. A. Marques de – Dicionário Histórico dos Sefarditas Portugueses, Mercadores e Gente de Trato, pp. 246-47, ed. Cátedra de estudos Sefarditas de Alberto Benveniste, Campo da Comunicação, Lisboa, 2009.
Qua, 02/01/2019 - 11:01
Querida familiazinha, feliz ano novo.