Os Santos de Janeiro e o arremate do fumeiro

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Ter, 25/01/2022 - 09:17


Estamos a viver o período mais contagioso desta pandemia. Já são alguns os que connosco tem desabafado a dizer que o “bicho mau” lhes bateu à porta.
Estamos todos muito ansiosos por ver os casos diminuir, para que a vida volte à normalidade.
Nos últimos dias têm-se festejado os santos de Janeiro um pouco por toda a parte. Ao longo dos anos, nesta tradição antiga, estes santos são presenteados com peças de bom fumeiro, salpicões, chouriças, alheiras e outras partes do porco. Apesar de haver cada vez mais localidades em que a matança do porco caiu em desuso, como é o caso de Salselas, Macedo de Cavaleiros, terra da tia Noémia, que nos contou que, nesta localidade, com capela de São Sebastião, recorda a sua infância. Quando andava na escola primária a professora tocava a sineta da capela para assinalar o momento de entrada para a escola. De referir que São Sebastião é o santo que mais “casas próprias” tem na nossa região e, nas localidades onde não tem capela própria, tem um lugar de honra no altar da igreja matriz.
No dia 20, dia do Mártir São Sebastião, quisemos saber quais as localidades onde as pessoas nos ouvem, que tem capela deste santo. No concelho de Bragança, respondeu a gente da aldeia de Grijó, através da tia Lurdes, emigrada em Versailles, França. A tia Palmirinha disse-nos que, além da festa religiosa, tiveram também o arremate das oferendas ao santo. A tia Gina Morais, de Milhão, também compareceu à chamada e contou-nos que, mesmo com a pandemia, não faltou o fumeiro para arrematar. A Avó Laurinda, que também é natural de Milhão, recorda que o São Sebastião tinha muitas oferendas, além das chouriças e salpicões, também era costume oferecer os pés, as orelhas e a queixada.
Só na zona da Lombada há três capelas, em Babe, São Julião e Deilão. Em Caravela tem honras de altar.
Em Varge, Bragança, também fazem a arrematação, e segundo a tia Virgínia, antigamente como todas as pessoas matavam porco, o santo era prendado com muito fumeiro. Era o seu pai que fazia a arrematação e só chegava a casa à noite, rouco de tanto puxar pela voz.
Segundo nos contaram os nossos ouvintes, as capelas situavam-se  à entrada do povo, para não entrar a fome e a peste na aldeia. Apesar de nalguns lugares agora já ficar no centro, devido ao aumento das construções.
Em Baçal, Bragança, o tio Eusébio contou-nos que há cinco anos, um salpicão atingiu o valor de 110 euros no arremate, porque a pessoa que o ofereceu incentivou as puxadas, licitando ela também, acabando por ficar com ele. Como diz o povo “quem mais dá, mais amigo é do santo”. Em Vale de Lamas, Bragança, além do arremate individual das peças de fumeiro, também é tradição fazerem o ramo de fumeiro e o ramo de doçaria para arremate. Em Castro Vicente, Mogadouro, além de ter capela do São Sebastião, festejam o São Vicente dia 22.  costumam fazer o arremate do ramo, composto por fumeiro e animais vivos e que É licitado de uma só vez, entre o grupo dos casados e o grupo dos solteiros, sendo que no fim é repartido por todos, assim como os custos. Em algumas das nossas terras os arremates são abertos a toda a gente que apareça, seja ou não natural da aldeia, o que motiva o despique das puxadas, fazendo subir o valor final. Há também terras onde a tradição só permite às pessoas naturais da aldeia participar nas licitações.
Esta semana chegou-nos a notícia do falecimento do tio Belmiro Fernandes de 88 anos, que morava em Samil, Bragança, de Domingos Ribas de 83, da Póvoa, Miranda do Douro e de Eugénia Afonso, de Vilarandelo, Valpaços. Que em paz descansem as suas almas. Os nossos sentimentos às famílias enlutadas.
Depois de chorar a morte vamos celebrar a vida. Estiveram de parabéns; Helena Romão (84) Caravela (Bragança); Izolino Amaral (72) Barqueiros (Mesão Frio) a residir na Áustria; Maria Augusta Teixeira (61) Parada (Bragança); Ana Teiga (67) Gralhós (Macedo de Cavaleiros); António Rodrigo (63) Rebordainhos (Bragança); Elisa Eiras (62) Melhe (Vinhais); Palmira Borges (61) Grijó (Bragança); Fabiana dos Santos (53) Torre Dª Chama; Luís Teixeira (45) S. Pedro de Veiga do Lila (Valpaços), Cristina Carneiro (51) Lebução (Valpaços); Vítor Pinela (49) Sacoias (Bragança) emigrado em França; Fátima Afonso (47) e sua filha Maria João (15) Castro Vicente (Mogadouro); Sílvio Alves (38) Ifanes (Miranda do Douro); Luís Pires (27) Milhão (Bragança); muita saúde para todos e que para o ano voltem a festejá-los connosco.