As margens condicionam os rios para que saibam por onde correr até se poderem espraiar no oceano imenso que se abre à sua frente. Todos os rios têm margens. É o GPS indispensável para que o caminho não se altere demasiado.
Ora acontece que as últimas eleições deixaram Rio quase sem leito e sem margens. Desgovernado e sem orientação, Rio tenta agora encontrar a segurança das margens e voltar ao leito original. Não será fácil. Este Rio tem demasiados afluentes, mas parece que nem todos correm na mesma direcção, muito embora queiram desaguar no mesmo oceano.
Faz-me lembrar este cenário o de Boris Johnson no Reino Unido, que parece estar cada vez mais desunido e sem rumo certo. As margens já as perdeu e o leito por onde corre é cada vez mais estreito. As verdadeiras margens estão a orientar outros interesses, que são obviamente contrários aos dele. Os objectivos são completamente diferentes. Ele quer sair da EU e os outros querem ficar. Aqui, a segurança parece estar no leito e nas margens da União Europeia que, pelos vistos, não é o que interessa a Johnson. Difícil a solução quer para o Reino Unido, quer para a União Europeia que não quer mais adiamentos. Parece-me que somente um novo referendo resolverá o que realmente quer a União Europeia e se assim for, a escolha será certamente a permanência. Acaba-se o Brexit e ainda bem.
Por cá, já Rio não pode navegar da mesma forma. A escolha de avançar pelo leito que ainda tem, parece ser o mais sensato, mas as margens são demasiado baixas e terá sempre de ter atenção aos afluentes. Alguns têm caudal volumoso e podem causar inundações perigosas.
O oceano para onde correm uns e outros é e será sempre o PSD. Disso ninguém duvida, ao que parece. No entanto, as margens extremam-se e a segurança deste Rio é pouco fiável. A verdade é que este desaguar de interesses pode ser conflituoso, o que não é nada bom para o grande oceano que os espera receber de braços abertos.
Entre montes, serras e rios, erguem-se outras barreiras difíceis de ultrapassar. Montenegro é um afluente que vai correndo em margens diferentes, mas com algumas margens seguras. Maria Luís pode ser uma dessas margens de Montenegro e a outra até pode ser a de Cavaco Silva que parece amparar Maria Luís Albuquerque. Montenegro é assim, o afluente que parece querer encher com a última chuvada e avançar destemido para o oceano tenebroso que o espera. Chegará lá?
Por outro lado, Rio permanece em sossego, no leito estreito, sem nada fazer a não ser, envolver-se na manta de silêncio que o cobre, sem sair da estreita margem que o sustem, deixando adivinhar que quer seguir o seu caminho até ao final.
Para o PSD isto não é vantajoso. Todos sabem que a mudança é necessária, embora isso não signifique uma nova liderança. O líder actual tem mais dois ou três meses para fazer alguma coisa de novo. Talvez uma nova estratégia a partir dos novos deputados dos quais ele faz parte e da composição da nova Assembleia onde haverá muita inexperiência. A sustentabilidade do governo de Costa vai depender muito dessa nova agremiação e do modo como ele vai gerir os interesses do governo e do país. Catarina não parece querer dar tudo de mão beijada, até porque ela não se dá muito bem com esse tipo de cumprimentos. Já o afirmou e continua a dizer que o relacionamento entre o BE e o PS nunca foi fácil e só existiu como um comprometimento nacional cujos interesses abarcavam o país inteiro. Agora, que o espectro político é um pouco diferente e apesar de Costa ter outra sustentabilidade, não lhe dá a certeza de chegar ao fim da legislatura. Aqui, as margens também são estreitas. Na margem esquerda tem a Catarina, na direita tem Rio. Quem o vai amparar? Muito embora o caudal seja maior, não significa que o leito de Costa o consiga segurar até ao desembocar final. Certamente não transbordará.
O que esperar então deste Rio? Sem leito seguro, sem margens que o amparem devidamente e com rumo débil, que caminho seguirá? Avança até às diretas ou até ao Congresso? Fica pelo caminho? Deixa-se ultrapassar pelos afluentes?
Pois a incógnita das margens por onde correm os rios do PSD não parecem nada seguras para impedir que eles percam caudal. Estreitecem à medida que eles avançam e nenhum parece receber mais enxurradas de modo a chamar as margens ao seu dever obrigatório de os amparar do descalabro final. O PSD está à espera que eles cheguem à foz ou que, pelo menos um deles, chegue com o caudal necessário para se afirmar no oceano imenso onde se irão espraiar.
Contudo, o que parece estar a acontecer é que todos os rios estão bem pouco caudalosos e o oceano que por eles espera não se engrandecerá tão depressa. Desafios das correntes.