Todos somos especialistas em determinados assuntos. Licenciados, mestrados, doutorados e com incontáveis pós-graduações. Os melhores exemplos são: o tempo e o amor. Todos nós falamos com autoridade (e nem desgostamos) na hora de comentar as condições da atmosfera e dos corações (nem sempre em condições). Talvez porque todos já sentimos na pele os efeitos de ambos. E é muito mais fácil falar do que nos costuma tocar. Sem grande esforço nos identificamos também com as vivências dos outros, tantas vezes semelhantes ou tiradas a papel químico. Mais do que uma vez me perguntaram o porquê de escrever tanto sobre o amor e as relações. A resposta aqui está. Assertivamente, somos capazes de discursar, sem gaguejo, sobre o clima de hoje. Olho pela janela neste final de manhã e, enquanto vos escrevo, o céu está cinzento, muito nublado, apostando eu o dedo mindinho da minha mão direita (até porque sou esquerdina) que à tarde vai chover. Mais ou menos nesta linha, parece que óptima a dar conselhos amorosos. Rara é a posta de pescada que arremesso, quando assim me é solicitada, que não é recebida com um “incrível”. Outro facto universal é que vós estais conjuntamente neste grupo de gurus. Esta sabedoria teima só em não funcionar para nós mesmos, que passamos a vida a dar com os burros na água. Faz parte da mística da cena. A Meteorologia, mesmo com todos os estudos, pode ser matreira. Depois do jornal das 8 ficamos com uma ideia que às primeiras horas do dia seguinte se esfumaça. Mas nada invalida um volte-face, estão a ver? O amor não lhe fica atrás e adora contrariar. Quantas vezes pensou que era o “amor da vida” e só durou uma semana? “Mística da cena”... Uma ova! Há diferenças. Ao passo que nem conseguimos evitar experimentar o estado do tempo enquanto aqui existimos, no outro dia fiquei com uma enorme dúvida em relação ao amor. E a partir daqui vamos personificar o Amor, passando a escrever com maiúscula. Onde e como raio podemos encontrar o Amor? Ou, melhor explicado, há locais específicos para esbarrar com o Amor? Não anda Ele por aí largado? Se o Amor falha em alguns lados, estamos perante uma complicação que não antevi. Porque, pobre inocente, acreditava que para dar de caras com o Amor também não era preciso nada. Um dia, quem sabe, seria assaltada por esse intrépido sentimento numa esquina mal iluminada. Sem hesitar, diria “por favor, leve tudo!”. Só que percebi que há quem pense diferente de mim. Que certos sítios são dignos de serem frequentados pelo Amor e de outros está banido, citando a título meramente ilustrativo - as aplicações de encontros, as discotecas (porque há pouca luz, não se vê bem se é o Amor) ou as festas de casamento, onde lá mais para o final os homens andam com as gravatas na cabeça e as mulheres com os sapatos de salto alto na mão e as plantas dos pés a parecer que chegaram de uma peregrinação a Fátima. Não há condições. Se para encontrar o Amor tenho que me esforçar, talvez para me fique pela Meteorologia. Não estou a fugir. É quase igual. Raramente as previsões (mesmo a curto prazo) acertam, ou então precisam de ajustes. E eu gosto de ter essa margem de manobra.