O Problema

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A propósito das inaceitáveis ameaças a deputadas e dirigentes de associações cívicas foram recordadas as recentes declarações de Rui Rio, sobre o Chega e de uma possível ou eventual coligação futura com o partido de André Ventura. Foram vários, aliás, os comentários, vindos de todo o lado, inclusive de dentro do seu próprio partido, sobre as afirmações do Presidente do PSD que, à luz da insinuação de Catarina Martins, questionado pela Comunicação social, alegou manter o que dissera a Vítor Gonçalves, na entrevista da RTP3. Há, nelas, três aspetos a considerar. Em termos políticos são, já ninguém duvida, um erro. Dar ao Chega o estatuto que não tem só pode beneficiar o partido da extrema-direita. Branqueia a atuação do seu líder e credita-lhe uma exagerada e inexistente importância eleitoral. Contudo, formalmente, na sua generalidade, as afirmações do antigo Presidente da Câmara do Porto, estão corretas. Diz que o PSD está onde está e não tem que se deslocar para lado nenhum e que, para haver qualquer entendimento, terá de ser o Chega a abandonar determinadas atuações e princípios. Rui Rio que veio para recentrar os sociais democratas não está a puxá-los, agora, para a direita. Não se entende esta referência explícita ao extremismo quando tem à sua direita um partido que ocupa essa área com prática e ideologia total e completamente compatível com o regime democrático saído do 25 de abril de 1974. É verdade contudo que, em entrevistas, nem sempre se diz tudo o que se quer e não se pode deixar de responder às questões colocadas pelo interlocutor. Admitindo a correção formal, genérica, da resposta de Rui Rio, há nesta, contudo, um pormenor que faz toda a diferença. E, para não ser injusto para com o líder do meu antigo partido, vi e revi a sua alegação final, sobre o assunto. Disse, ipsis verbis: “Se o Chega continuar numa linha de demagogia, de populismo, da forma como tem ido, está aqui um problema porque aí não é possível, efetivamente, um entendimento com o PSD”. O líder laranja deve esclarecer bem, afinal que problema é este. Se o PSD vai manter-se onde está e vai recusar qualquer diálogo com a sua direita mais radical, enquanto esta não mudar de discurso e de objetivos, é natural que não haja qualquer hipótese de entendimento. É a consequência expectável do percurso das duas formações partidárias. Não tem de ser um problema, mesmo que tal circunstância possa ser o único obstáculo para abrir, ao portuense, as portas do palácio de S. Bento. Há ainda quem, no PSD, venha reclamar que quem aceita acordos com a extrema esquerda não tem moralidade para criticar igual atitude à direita. Extremismos são extremismos, é verdade. Não são recomendáveis nem são, como é sabido, a opção da esmagadora maioria do povo português. Não são, igualmente, a minha opção. Não subscrevo nem apoio a organização política e social defendida pelos partidos marxistas muito menos a tomada de poder. Mas não receio a sua benéfica influência junto de quem governa. Apesar de não contarem com a minha militância política, são várias as iniciativas, missões e propostas que, vindas dessa área, merecem a minha total concordância. Não encontrei ainda nenhuma, na área do Chega, que me desperte qualquer simpatia.

José Mário Leite