No dia 19 deste mês de maio, o Movimento Cultural das Terras de Miranda (MCTM) publicou um pequeno vídeo em que, sob o título “Terras de Miranda, Mulheres Intemporais, Heroínas Anónimas” apresenta, um retrato de um rosto feminino, envelhecido e com rugas muito marcadas, da autoria da pintora Balbina Mendes, comentado pela própria. A artista mirandesa quis homenagear as mulheres da sua terra contemporâneas da construção das barragens do Douro Internacional. O traço vincado e monocromático traduz, segundo a autora “a quelor de lanuite que era a quelor de lálma na delor que se perpetuaba na perda temperana de ls filhos”. Aquelas rugas profundas são uma das várias parcelas da fatura do progresso que, entre muitos outros, o ministro do Ambiente desfruta na comodidade do seu gabinete, que João Matos Fernandes, a custo deixou para vir ao Praino, não para mercar fumeiro e artesanato local, mas para trazer, segundo as palavras do MCTM “uma mão cheia de nada”, uma migalha perante o longo historial de proveitos já arrecadados bem como a choruda venda que se anuncia. A esta voz temerária que, felizmente, nem o vergonhoso ataque ao mirandês José Maria Pires conseguiu atemorizar e, muito menos calar, juntou, inconformado, a sua, o autarca de Mogadouro: “A meio das reuniões tínhamos cerca de 440 milhões... [para] ...projetos como regadio ou reativação da linha férrea do Sabor.” Mais do que justificado desagrado e frustração de Francisco Guimarães, relatados pelo Francisco Pinto, na edição do Mensageiro 13 de maio e onde igualmente relata que, Nuno Gonçalves, pelo contrário “disse que os 91,7 milhões anunciados são suficientes para os projetos anunciados”! A audiodescrição de Balbina Mendes fez-me recuar cinquenta anos, para o momento da descoberta, do livro do padre Telmo Ferraz, “O Lodo e as Estrelas”, traduzido para mirandês pelo saudoso Fracisco Niebro (Amadeu Ferreira). Não é de agora que as vozes incómodas das Terras de Miranda se fazem ouvir e não é fácil fazê- -las calar. Quando, depois de concluído o empreendimento hidroelétrico do Baixo-Sabor, os Barrais da Vilariça foram inundados, foi deliberado na Assembleia Municipal de Moncorvo, convocar o responsável de EDP para vir explicar qual era afinal o papel da segunda barragem denominada de “contra-embalse”. Só que quando foi contactado informou que esse assunto já tinha sido abordado em reunião com o Presidente da Câmara. Este confirmou, por e-mail, alegando que esse era um assunto do Executivo. Provavelmente tinha razão. O problema é que não foi publicado o teor das explicações da EDP, se é que as houve e, por outro lado, quando o Douro encheu de novo, os Barrais voltaram a ficar inundados destruindo as culturas de um ano inteiro! Por onde anda a ambição que deveria presidir à liderança do concelho? Quando e onde se perdeu a capacidade de falar alto e grosso a entidades que, como a EDP, ganham milhões com os recursos naturais da nossa terra?