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Do que se fala e não se fala

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Há sempre uma imensidão de assuntos para se abordarem, mas na impossibilidade de os meter a todos no mesmo saco, o melhor é mesmo referi-los sem grandes preferências. Mas como temos de falar neles, quais escolher? Vamos falar do que sucedeu em Nagorno-Karabakh? Esta República separatista com cerca de 120.000 habitantes arménios a viverem neste enclave, acaba de desaparecer. Mais de 100 mil arménios fugiram com medo de uma exterminação étnica. O território é do Azerbeijão e nunca foi reconhecido internacionalmente. A Rússia quis meter-se como intermediária para apaziguar a situação e resolver o possível agravar do conflito. Não houve tempo. Vamos falar da guerra da Ucrânia uma vez mais? Nunca é de mais referir o cansaço que esta guerra está a provocar nos países que estão a ajudar Kiev. A agravar a situação, está a proximidade de eleições na Eslováquia e na Polónia. Porquê? Dependendo de quem ganhar as eleições, as ajudas a Kiev podem escassear muito. As sondagens sobre as eleições na Eslová- quia apontam para uma van- tagem apertada da esquerda progressista sobre o candidato pro-Moscovo. Pois se este ganha as eleições, Putin terá mais um aliado e Kiev mais um inimigo. Mas na Polónia pode acontecer o mesmo. De momento já se está a verificar certa resistência entre o governo da Polónia e os países da União Europeia, a vários níveis. Desde a exportação de cereais, à entrada de migrantes e à cedência de material de guerra à Ucrânia, os polacos estão cada vez mais a fechar-se. Também aqui o resultado das eleições pode ser desastroso para Kiev. Além disso há ainda os turcos e os húngaros que estão na espectativa e certamente irão virar-se para onde tiverem maiores vantagens políticas internas. Também o Kosovo está a fervilhar. Será que há ligações russas aos homens envolvidos num dos mais graves confrontos desde que o Kosovo declarou a independência da Sérvia? Como Putin se mete em tudo, também aqui há essa possibilidade. Se tirar vantagens, certamente que ele lá terá alguém. Quem sabe se alguém do grupo Wagner, já que agora tem novo comandante! Será que vale a pena abordar a loucura de Medvedev? Não sei se ele é realmente louco ou se as afirmações que faz são para assustar os outros e se defender a si próprio. Veio prometer neste fim de semana que a Rússia irá fazer mais anexações da Ucrânia e que essas anexações só acabariam com a destruição completa do regime nazi de Kiev. Entre linhas, queria dizer que até à libertação dos territórios originalmente russos, essa conquista iria continuar. A verdade é que já estamos habituados ao que diz este senhor. Consegue dizer mesmo o que Putin não tem coragem para dizer! De uma irreverência atroz e de uma arrogância sem limites, este Medvedev encarna bem o poder do mal. Até quando isto vai durar? Já fala na Nova Rússia! Francamente! Mas Putin não lhe fica atrás, pois também ele refere a Nova Rússia e uma vez mais, referiu que defenderá os concidadãos do Donbass e da Nova Rússia, seja lá onde for, pois estará a defender a própria Rússia, a soberania russa e os valores espirituais e a unidade da Rússia. Certamente isto será para que o povo russo acredite que na realidade Moscovo está a ganhar a guerra, mas não está. E para que todos lhe batam palmas, resolveu decretar o dia 30 de setembro como o dia da reunificação. Decretos destes qualquer um pode fazer. O papel arde com o fogo e o que lá se diz desaparece, mas o território, esse, tem fronteiras, pessoas, casas, cidades, aldeias e não se pode reunir por decreto quando se quer e porque se quer. Mas enfim! Podemos falar também do que se passa cá dentro. Porque não? As misérias não são só apanágio dos outros países. A nossa Educação anda pelas ruas da amargura neste início de ano letivo. O governo não ata nem desata. O líder do PSD já desdisse o que anteriormente tinha referido e agora vem propor que se pague aos professores o tempo a que têm direito em cinco anos. Nem uns nem outros se entendem. Costa até chamou o Ministro da Educação para ter uma conversa particular, mas ninguém sabe o que lhe disse. Um puxão de orelhas ou um conselho de amigo? Se formos à Saúde, pior um pouco. Está mesmo doente! Médicos em greve, enfermeiros em greve, urgências fechadas, cirurgias adiadas, Hospitais sem valências durante dias, enfim, sofre quem está doente e quem necessita de cuidados médicos. Um descalabro! Os médicos são obrigados a trabalhar mais horas extra do que o legal e não aceitam essa obrigatoriedade e com razão. No entanto, as universidades fecham-se à formação exagerada de médicos e o governo prefere mandar vir médicos de Cuba e de Espanha. Será que está certo? Alguma razão está por detrás da saída dos nossos médicos e enfermeiros para o estrangeiro, especialmente Espanha e Inglaterra e Suíça. E depois dizem que há falta de médicos. Claro. Sejam honestos e digam o que devem dizer com sinceridade. Falar é fácil, mas falar o que se deve pode ser embaraçoso.

Luís Ferreira