CULTURA, ARTE E CIÊNCIA

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No passado dia 3 a entrevistada de Fátima Campos Ferreira, no programa televisivo “Primeira Pessoa” foi a pintora nordestina Graça Morais, sobejamente conhecida no país e no estran- geiro e cuja obra, o filósofo e pensador Eduardo Lourenço, diz estar ligada ao berço da civilização ocidental com raízes na filosofia grega, expressando o mais profundo da nossa existên- cia, atenta ao espetáculo da comédia humana. Nos seus famosos e impressionantes retratos, Vasco Graça Moura viu o mimetismo do meio rural e a idade do granito modelada pelo tempo. Muitos outros, desde a poetisa Sofia até ao Nobel Saramago, passando pelo nosso Torga, teceram rasgados e fundados elogios à artista do Vieiro. Com base nisto, a jornalista da RTP apelidou-a de símbolo ao que Graça Morais contrapôs, de imediato que não era um símbolo mas sim uma referência e, sobretudo uma identificação. Curiosamente, na sequência desta afirmação, tratou de alertar para as pessoas que tendo feito as suas carreiras só na política eram, humanamente, incompletas e, para bom entendedor... No meu entender, a fra- se da vilaflorense que sintetiza o seu pensamento e, ao mesmo tempo, apela para a necessária reflexão que urge fazer e que condicionará os tempos que se aproximam veio, em jeito de conclusão: “É pela arte e pela ciência que nós vamos criar uma nova humanidade. Não é pela economia!” Os decisores de hoje a quem os eleitores confiaram a missão de prepararem o futuro, têm de estar alinhados com esta verdade que, mesmo que nos queiram fazer crer o contrário, se afirma e se impõe como o verdadeiro paradigma para o desenvolvimento regional, o combate à desertificação e ao empobrecimento progressivo do interior. Mesmo que, aparentemente, possa, ainda, parecer o contrário. Basta uma reflexão, a que Graça Morais nos convida com a sua afirmação convicta e fundada, para constatar que as atividades económicas tradicionais estão em queda contínua, mesmo que lenta. A agricultura é, cada vez mais, de sobrevivência (e ás vezes já nem isso); a floresta vai ardendo ao mesmo ritmo da sua destruição ígnea; as indústrias pesadas, extrativas e poluidoras pertencem, definitivamente ao passado – só mentes limitadas e tacanhas o podem ignorar. O turismo, apesar da pujança atual, tem um risco associado ligado à sua génese e substância intrínseca: só é sustentável e resiliente o que se baseia na cultura autóctone e na tradição. Apesar das supostas roupagens modernas os “enlatados”, comprados no mercado na modalidade “chave na mão”, só se aguentam enquanto se mantiverem os dinheiros públicos que os suportam e alimentam. Se deles nascerem programas que, mesmo com alguma dose de imitação, integrem a cultura regional (é preciso colocar os pelouros municipais a fazerem um trabalho sério e competente, em vez de se limitarem a fazer uma pesquisa de mercado) poderão, ter algum futuro. De outra forma, estarão condenados à vulgaridade da cópia, à banalidade do “take away” pseudocultu- ral. É bom refletir sobre os golpes na base económica regional desferidos pela diminuição dos serviços públicos de pequeno valor acrescentado. Está aí, e é imparável, queiramos ou não, a Inteligência Artifi- cial com os seus algoritmos. Que não haja dúvidas: o que for algoritmável... sê-lo-á. Queiramos ou não, doa a quem doer! À cultura, verdadeira, tradicional, sem perder a modernidade que, mesmo sem o apoio devido dos poderes locais, existe, mantém-se e persiste, há que juntar a arte e a ciência. Felizmente, temos a Gra- ça Morais. Felizmente, temos o IPB. Temas para tratar em próximos textos.

José Mário Leite