No dia em que se completaram sessenta e três anos sobre a morte de Calouste Sarkis Gulbenkian, a Fundação que nos legou e que adotou o seu nome encheu o Grande Auditório para fazer a entrega dos Prémios Gulbenkian, em cerimónia presidida pelo Presidente da República. Os prémios nacionais concretizam as linhas orientadoras da Instituição da Avenida de Berna, desde a mais antiga (o apoio aos mais desfavorecidos levado a cabo pelo projeto “É uma casa” que se propõe dar um lar aos sem-abrigo), passando pela mais conhecida e destacada (o apoio às artes, com relevo para o território do interior, presente no “Espaço do Tempo” de Montemor-o-Novo) até à mais recente (a assumida vocação ecológica expressa nos objetivos da Coopérnico, uma cooperativa, sem fins lucrativos e baseada no associativismo e voluntariado que promove as energias renováveis e o desenvolvimento sustentável). A Presidente da Gulbenkian, Isabel Mota, frisou esta realidade a que acrescentou a aposta na Ciência, com o anuncaido reforço de empenho e compromisso no Instituto Gulbenkian de Ciência. Mesmo as apostas mais recentes resultam do percurso já iniciado anteriormente. A verdadeira novidade chegou com o anúncio do prémio internacional que o júri, presidido pelo antigo Presidente da República, Jorge Sampaio, atribuiu à Organização não Governamental Article 19.
Esta ONG que se fez representar pela jovem e elegante advogada Jennifer Robinson, dedica-se à defesa da liberdade de expressão e informação, baseando a sua missão no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos do Homem e daí retirou o nome. Criada em 1987 tem assumido, incompreensivelmente, maior importância no atual mundo das “fake news”, pós-verdades, de títulos fabricados, descontextualizados, de abuso das fontes, de julgamentos na praça pública e notícias ebocmendadas. Tudo isso foi devidamente relevado pelo júri, como deu conta Jorge Sampaio. Sem dúvida que a decisão foi, como é habitual, livre e independente. Não se pode, contudo, ignorar o alinhamento deste galardão, com a nova linha orientadora emergente, na Praça de Espanha e que tem por trás, reconhecidamente, a mão do mais novo administrador, Pedro Norton. Não é possível dissociar este agraciamento da mais recente inciativa do Conselho de Administração de reservar a verba de 150.000 euros para atribuição de Bolsas de Investigação Jornalística, até dez por ano, das candidaturas escolhidas por um juri de excelência onde pontuam, entre outros, Flor Pedroso, Cândida Pinto e João Garcia.
O conhecimento, a experiência, a sensibilidade e o dinamismo de Pedro Norton são o garante do sucesso e, sobretudo, da relevância desta iniciativa, na senda de outras a que a Fundação que nos foi deixada pelo Senhor Cinco por Cento, já nos habituou e irá, seguramente continuar a surpreender.
A excessiva dependência do jornalismo de investigação de poderes económicos, tem aqui um contra-peso de relevo.
A Democracia agradece.