Em linhas gerais, os criadores desta dieta asseguram-nos que a alimentação praticada pelo Homem do Paleolítico, ou seja, há cerca de 2,5 milhões de anos, se mantém a mais saudável para os dias de hoje. Garantem que o nosso organismo não evoluiu, desde então, o suficiente para processar o novo estilo alimentar que foi adotado após o surgimento da agricultura e da domesticação dos animais (há cerca de 10 mil anos).
Assim, indicam que se deve dar maior destaque à proteína de origem animal, podendo, de acordo com esta dieta, comer-se carne, peixe, ovos e marisco à vontade, escolher a fruta e os legumes mais pobres em amido e usar sementes e frutos oleaginosos em abundância. Por outro lado, erradicam os laticínios, todo e qualquer tipo de cereal ou derivados, as leguminosas, os açúcares e os alimentos refinados e processados.
Pensar no que comemos
Seria necessário um espaço muito maior do que o deste “Olho Clínico” para analisar ao pormenor todos os prós e contras da Dieta Paleo, pelo que sugerimos vivamente a leitura dos dois artigos que nos serviram de referência para a elaboração do artigo. Contudo, é fácil salientar alguns pontos essenciais para reflexão:
• A eliminação de açúcares e de produtos refinados e processados é claramente uma vantagem. No entanto, alguns livros de receitas e menus paleo incluem os refrigerantes, o que vem contradizer um dos pilares da dieta.
• A eliminação de grupos essenciais da roda dos alimentos, tais como as leguminosas, os cereais e os laticínios, exclui também nutrientes essenciais que não podem ser garantidos de outra forma que não por suplementos. Não terá sido precisamente a inclusão destes alimentos no leque de opções da dieta da espécie humana um dos fatores responsáveis pela nossa evolução, e não o contrário?
• É uma dieta perigosa a nível ambiental. O aumento drástico do consumo de proteína e de gordura de origem animal é, além do prejuízo para a saúde, comprovadamente uma das maiores causas de poluição a nível mundial.
Filosofia não é ciência
Concluindo: são percetíveis as graves falhas da filosofia Paleo:
1. A demonização do leite, do glúten e dos legumes/leguminosas não tem qualquer fundamentação científica;
2. Os humanos continuaram e continuam a evoluir desde há 10.000 anos (a persistência da lactase é um dos exemplos disso);
3. As plantas e os animais de hoje em dia foram drasticamente alterados através da reprodução seletiva;
4. As doenças da modernidade não são nada modernas… simplesmente são mais frequentes porque erradicamos as outras;
5. Alimentos como os cereais, demonizados pelos Paleo, já faziam parte da nossa dieta há milhões de anos.
A dieta Paleo é uma dieta baseada em filosofias, teorias e conceitos não validados cientificamente. Logo, é uma “fad diet”, ou “dieta da moda”, uma dieta de culto que promete vantagens para a saúde sem apoio científico.
Para saber mais sobre a Dieta do paleolítico, recomendamos a leitura dos seguintes artigos:
– “Dieta Paleo… A Nostalgia pelo Homem das Cavernas” – Dr. João Júlio Cerqueira. 24 janeiro 2018, disponível em https://www.scimed.pt/geral/dieta-paleo-a-nostalgia-pelo-homem-da-caverna/
– “Comer como um homem das cavernas” - Jornal Público, 22 fevereiro 2015. Disponível em https://www.publico.pt/2015/02/22/sociedade/noticia/comer-como-um-homem-...
Serviço de Nutrição e Alimentação
Unidade Local de Saúde do Nordeste