Produtores de gado obrigados a usar matadouro de Vinhais porque o de Bragança tem falta de pessoal

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Ter, 13/12/2022 - 11:21


Município disse já ter afectado mais dois funcionários para resolver constrangimentos

Alguns produtores e talhantes do concelho de Bragança queixam-se do matadouro da cidade não estar a prestar os serviços na totalidade, devido à falta de trabalhadores.

Assim, são obrigados a recolher aos matadores de Vinhais e do Cachão, mas os gastos aí já são outros, visto que a distância é outra e o tempo de viagem também.

O Jornal Nordeste apurou, junto das instalações, na semana passada, que o abate de animais só está a ser feito à segunda e quarta-feira e que há um défice de cinco funcionários, três porque estão de baixa e dois porque sairam deste posto de trabalho.

Amadeu Caetano é funcionário da Cooperativa Agro-Pecuária Mirandesa e é ele quem vai buscar os animais aos produtores e os leva para abate. Todas as semanas levava até ao matadouro de Bragança, à segunda-feira, entre 15 a 20 animais para serem abatidos na terça-feira. Mas há "10 semanas" que lhe dizem que não têm trabalhadores suficientes e, por isso, "não conseguem".

"Nós abatiamos em Bragança, Miranda e Vinhais, onde fosse mais perto para os animais. Os animais de Vinhais deixavamos em Vinhais, os de Macedo de Cavaleiros e Bragança metiamos em Bragança e Vimioso, Mogadouro e Miranda metiamos em Miranda do Douro", explicou. Mas agora os animais recolhidos em Bragança têm que ser levados também para Vinhais. Uma situação que disse ser "muito chata", porque leva "muito mais tempo", além dos gastos também aumentarem.

"Se carregarmos em Bragança e levarmos para Vinhais são mais 30 km para lá e 30 km para cá, são muitos custos, da maneira que está o preço dos combustiveis. Às vezes vou à zona da Lombada, Babe, Vila Mea, vir até Bragança era pertinho e agora tenho que ir ainda até Vinhais", contou, frisando que é "complicado".

Licínio Rodrigues é um dos produtores do concelho de Bragança que tem gado mirandês. Há cerca de um mês foi confrontado com a necessidade de ter que tirar a "guia" para Vinhais, em vez de ser para Bragança, para que a cooperativa lhe pudessem levar os animais para abate.

"Há cerca de um mês fui surpreendido quando me disseram que vinham buscar vitelos e tinha que tirar a guia para Vinhais. E eu perguntei porque não para Bragança e disseram-me que tem falta de pessoal e fiquei um bocado surpreendido com a situação", contou o agricultor.

Depois desse dia não voltou a entregar mais nenhum animal para abate, mas está indignado por o matadouro de Bragança não estar a funcionar na sua plenitude. "Se temos um matadouro em Bragança, se tanta pressão foi feita dos agricultores para que se fizesse cá o matadouro e agora não abater, é um bocado estranho", disse, acrescentando que o facto de os animais irem para Vinhais causa, inevitavelmente, "constragimentos".

Com Luísa Correia a situação foi um pouco diferente. Agendou o abate, esperou "algumas semanas" e depois de morto foi-lhe entregue. O problema foi que não veio "fatiado", como acontecia habitualmente. "Vou ter que solicitar serviços a outra pessoa, para me terminarem o trabalho", afirmou. "Isto já começou em Julho, mas a situacção ficou mais grave a partir de Outubro", disse, salientando que "os animais têm que ser abatidos agora em Vinhais ou no Cachão, logo o consumo de gasóleo e todas as despesas são maiores".

 

Situação está a ser resolvida

Depois das várias queixas dos produtores e até de talhantes do concelho, o Jornal Nordeste falou com o presidente da Câmara Municipal de Bragança para tentar perceber o porquê da falta de funcionários e o que está a ser feito para resolver a situação.

Hernâni Dias reconheceu que houve problemas, mas que já estão a tentar solucioná-los. Dos 11 funcionários do matadouro destinados à linha de abate, o autarca confirmou que dois estão de baixa, visto que um terceiro elemento que também estava já regressou ao trabalho na passada sexta-feira, e dois deixaram os postos de trabalho, a "1 de Outubro". Ainda assim, o município "para tentar resolver este problema, afectou mais dois trabalhadores de outros serviços, no sentido de debelar alguns problemas", sendo que ainda assim estão ainda em défice dois trabalhadores.

"Vamos tentar colmatar esta situação através de um procedimento concursal, mas tem que haver tempo necessário para que esse trabalho seja feito para podermos afectar os trabalhadores ao matadouro", explicou o autarca. Para que seja aberto um procedimento concursal, é preciso aprovação na Câmara Municipal e também na Assembleia Municipal, uma vez que obrigada à alteração do mapa do pessoal do município. Além disso, encontrar recursos humanos para estes cargos é também um problema, uma vez que é preciso mão-de-obra especializada.

"Sendo certo que a falta destes dois trabalhadores possa criar ainda alguns constragimentos, vamos tentar fazer com que sejam os menos possíveis, para os produtores se dirijamm ao matadouro e numa altura também de bastante trabalho que é agora o Natal e a passagem de ano, tentarmos evitar grandes problemas aos nossos produtores", frisou Hernâni Dias.

O município não garante que os serviços vão voltar à normalidade a 100%, mas disse estar a tentar para que tudo corra dentro da normalidade "possível".

Jornalista: 
Ângela Pais