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Carção: capital do Marranismo

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Ter, 19/08/2008 - 11:00


Foi recentemente publicado o livro “Carção capital do Marranismo”, da autoria de António Júlio Andrade e Maria Fernanda Guimarães. Trata-se de uma trabalho baseado na leitura de processos instaurados pela Inquisição a cristãos-novos daquela aldeia existentes na Torre do Tombo.

A edição foi promovida pela Associação Cultural dos Almocreves, Associação CARAmigo, Junta de Freguesia de Carção e Câmara Municipal de Vimioso. A apresentação está marcada para o próximo dia 29, em Carção, mas o livro já pode ser adquirido na aldeia ou através do mail: www.almocreve.blogs.sapo.pt.
Pretende-se que a publicação desta obra seja mais um passo para a criação de uma rota de turismo cultural que os autores vêm delineando há anos: a Rota dos Judeus. No entanto, a execução deste projecto não será possível sem o empenho das autoridades e organizações locais e regionais, nomeadamente as juntas de freguesia e as câmaras municipais, os governos civis e as regiões de turismo. A rota não pode circunscrever-se a Carção, nem a Vimioso e tão pouco ao Planalto Mirandês. É que a herança judaica e marrana é património comum dos Portugueses e especialmente dos Trasmontanos.

Episódios dos tempos judaicos vividos em Carção compilados em livro

Trabalhando o tema há vários anos, os autores já publicaram vários trabalhos sobre outras terras trasmontanas e em algumas encontraram marcas bem mais fortes da presença judaica, nomeadamente em monumentos de arquitectura e personagens de relevo. Aliás, em Carção, parece nunca terem existido judeus e a comunidade marrana da aldeia ter-se-á constituído apenas no período que se seguiu à expulsão dos judeus de Espanha e de Portugal. Era gente que ia de outros sítios e que não tinha ali heranças materiais, nem culturais, nem tão pouco religiosas. O mesmo é dizer que em Carção não tiveram sinagoga, nem cemitério, nem qualquer outra referência. E foi já na condição de marranos que eles construíram uma “praxis” religiosa muito própria e genuína, bem pouco ortodoxa e não moldada aos ditames da Lei e da Tradição Judaica.
Existem exemplos significativos desta original “praxis” marrana como é o caso das “missas secas” celebradas em casas particulares e na capela de Santo Estêvão, das procissões em que levavam a Nossa Senhora do Rosário no andor com vestidos de luto pertencentes à viúva de um dos relaxados pela Inquisição, da utilização de paramentos da igreja matriz para enfeitar carros de bois e vestir meninos e meninas, ou das celebrações do Kipur (a maior festas dos judeus) não às escondidas no interior das próprias casas, mas em comunidade, indo em romagem para os vinhedos, em grupos de homens e mulheres.