Já não resta qualquer dúvida. A Inteligên- cia Artificial (IA) vai invadir a nossa vida e condicionar todas as ati- vidades que, de alguma forma dependam ou este- jam ligadas à informática que, como é notório, está presente no dia a dia de cada um restando apenas saber quando e como. E o que é que isso tem a ver, com o segunda língua oficial portuguesa, o mirandês? É o que tentarei demonstrar. O Conselho Europeu, na sua Resolução de 21 de novembro de 2008 afirmou que: “a diversidade linguística e cultural é um elemento constitutivo da identidade europeia; essa diversidade é simultaneamente uma herança partilhada, uma riqueza, um desafio e um trunfo para a Europa.” Num documento datado de março de 2013 o Parlamento Europeu, através da sua Direção Geral das Políticas Internas disse a propósito dos riscos enfrentados pelas línguas minoritárias: “Os falantes de muitas destas línguas ameaçadas de extinção não consideram que as suas línguas tenham estatuto ou valor económico e por isso, não as transmitem às gerações seguintes”. Alfredo Cameirão já tinha alertado para a necessidade de associar a economia à importância da língua nativa das Terras de Miranda. A preservação do mirandês, mais do que uma questão cultural e de identidade como, magistralmente Amadeu Ferreira evidenciou no seu manifesto é, igualmente, uma trave mestra, indissociável e indispensável de qualquer estratégia de desenvolvimento regional do progresso económico das suas instituições, da melhoria de vida dos seus habitantes. É, sem qualquer margem para dúvida, a maior e mais poderosa ferramenta para combater a crescente desertificação. Protegê-la, potenciá-la, promove-la, tem de ser, um dos principais deveres (quiçá o primeiro e mais importante) de todas as autoridades locais a começar, obviamente, pelo poder autárquico! Nada se pode sobrepor à preservação do património milenar, sob risco de lesão séria dos direitos dos locais e dos deveres de quem os dirige e representa. Este desígnio tem dois utensílios essenciais e interligados: a escrita e a tradução. Vários estudos têm demonstrado a importância da tradução para a manutenção, neste mundo globalizado, de todas as línguas, muito especialmente as minoritárias como alertam e defendem Sérgio Ferreira e Cláudia Martins do Instituto Politécnico de Bragança, num artigo científico dedicado à língua do Planalto. Aí se refere que, neste campo, as línguas menos disseminadas estão em desvantagem. Esta situação agrava-se com a chegada da IA. É certo que a intervenção humana é, (sê-lo-á sempre) essencial para a produção de textos traduzidos, com qualidade. Porém, os próprios tradutores já sabem que, de futuro, terão de contar com a IA, não como um substituto da sua atividade, mas como uma ferramenta de trabalho. Quem conheça os mecanismos que estão por trás desta ferramenta de “machine learning” fa- cilmente percebe que se não houver, a montante, produção suficiente, os resultados do uso deste mecanismo serão desas- trosos, acelerando a po- tencial decadência já alertada pela Universidade de Vigo. É difícil entender a relativa indiferença com que este grave problema está a ser encarado pelas autoridades locais apesar do louvável e determinado esforço da Associaçon de Lhéngua i Cultura Mirandesa.