Conhecidos políticos domésticos que fazem gala de se dizer de esquerda, têm vindo a lançar confusão entre pátria e nação, entre nacionalismo e patriotismo, melhor dizendo, com um único propósito: confundir e domesticar o povo. E um só efeito prático: inibi-lo de ser civicamente independente e participativo e de assumir uma relação digna e positiva com outros povos. Começaram por banir a ideia de pátria, preferindo o conceito de nacionalismo socialista para se demarcarem do inconveniente nacional-socialismo, embora a ambição seja a mesma. E afirmam-se como internacionalistas, um tanto à maneira de Putin, para quem a nação extravasa a própria Rússia e se estende a toda a Europa e à própria China, relegando a Nação histórica, independente e soberana para passado, pelo que deverá ser denegada. Daí que de tudo se aproveitem para denegrir a História de Portugal, que reduzem às maldades daquilo a que, em consonância com o Estado Novo, também chamam Império Colonial Português, quando sabem muito bem que Portugal nunca foi um império e só num período muito curto foi colonialista, com muitas e boas realizações, nos últimos tempos, como, de resto, ainda está à vista de toda a gente. Consensualmente a Nação é hoje, isso sim, o conjunto de cidadãos que vivem do seu trabalho, seja ele qual for, e que pagam impostos, com exclusão, note-se bem, dos que detêm o poder e de quantos nele participam, por interposta pessoa, com o propósito único de sugarem o erário público. A Nação é o povo, portanto, poder à parte, seja ele qual for, democrático ou autocrático, mundial ou tribal. Assim se compreende que, mais uma vez, no recente debate sobre o Estado da Nação que ocorreu na Assembleia Nacional, que não é propriamente uma assembleia popular, se tenha baralhado Nação e Estado, com o governo e a oposição, o que é inédito, a admitirem que o estado da Nação é deplorável em todos os domínios. De facto assim é. O Estado português continua a esbracejar numa profunda crise moral e funcional que extravasa o plano económico e financeiro. Correlativamente, no que ao povo propriamente dito diz respeito, ou à Nação, melhor dizendo, a desgraça acentua-se, dia após dia. Salva-se a nação emigrada que continua bem, felizmente, tanto que se recusa a regressar à pátria, embora continue a enviar as providenciais remessas monetárias e a construir moradas em solo pátrio. Igualmente os políticos e afins, o tal poder, continuam a viver bem, sem razões de queixa, e assim vai continuar a ser enquanto os dinheiros da União fluírem desgovernadamente. Uma das coisas que melhor ilustram essa crise moral e funcional do Estado é a lei da nacionalidade estabelecida por esse mesmo poder, sinistro porque é contra o povo. Em Inglaterra, por exemplo, para um estrangeiro obter a nacionalidade britânica, para lá de ter que cumprir, no mínimo, cinco anos de residência e trabalho, é obrigado a realizar, com sucesso, testes exigentes de conhecimento da língua e da história inglesas. Sendo que atribuição da nacionalidade é feita em cerimónia pública, com a entrega do competente diploma, tudo com a pompa e circunstância adequada a conferir ao acto a devida dignidade. Em Portugal, como é do conhecimento público, não é bem assim. A certos safardanas, oligarcas íntimos do sinistro Putin em especial, mesmo que nunca tenham vivido em Portugal, incapazes de articular uma palavra de português sequer e muito menos conheçam minimamente a História de Portugal, é-lhes oferecida a nacionalidade de mão beijada, sem que se lhes pergunte o que pretende fazer com ela, que não será boa coisa, por certo. Em nenhuma circunstância devem ser confundidos safardanas com sefarditas, porém. Os sefarditas, assim eram denominados os judeus de Portugal e de Espanha na Idade Média, constituíram uma componente fundamental da Nação portuguesa, com papel decisivo no período áureo das Descobertas, e que deixaram muitos e bons descentes e uma valiosa herança cultural por todo o território nacional, com especial incidência no norte do país. Historiadores há que defendem, até, que o declínio de Portugal começou precisamente com a sua perseguição e expulsão. Ora, vende pátrias, safardanas e não sefarditas, que fique bem claro, são, isso sim, os que agora vendem a nacionalidade portuguesa, não ao desbarato, por certo, uma vez que se dão ao desplante de selecionar os compradores. Incluindo, claro está, os políticos que para tal criam as necessárias condições jurídicas. Safardanas que enlameiam a memória dos verdadeiros mártires sefarditas, distorcem e aviltam a História portuguesa e como tal devem ser sancionados, política e judicialmente.