Ter, 18/05/2021 - 10:07
Apesar de o ano passado, muitos não terem tido a oportunidade de passar pela bênção das pastas e pela queima das fitas, este ano, o cenário é outro, ainda que com restrições. Ainda assim, o estado de espírito fica muito aquém do que a ocasião exige. Diana Rodrigues termina este ano a licenciatura e veio de Chaves para estudar no Instituto Politécnico de Bragança. Este é o fim de uma etapa que deseja festejar junto dos familiares, mas que a pandemia não permite. Os pais e o irmão estão no estrangeiro e só a duas semanas da queima das fitas é que soube que iria haver cerimónia. Tempo insuficiente para que tenha consigo aqueles de quem mais gosta e deixando à flor da pele um “misto de emoções” “Vai ser um dos dias mais importantes, mas também vai ser um dos mais tristes, porque não vou ter comigo quem gostava de ter, ou seja, os meus pais e o meu irmão, que estão noutro país e não conseguem vir cá”, contou. Aluna do curso de Gerontologia, metade do seu percurso académico foi passada com restrições pandémicas. “Ser finalista em tempos de pandemia é preciso bastante adaptação e aceitação, porque não podemos viver basicamente aquilo que nós imaginamos. O que idealizei foi tudo por água abaixo”, afirmou. Nestes momentos importantes, com a família longe, são os amigos que acalmam o coração. Amigos que foram feitos na praxe e que também a pandemia impediu que acontecesse. “Em princípio os meus padrinhos de praxe vão estar comigo e depois, posteriormente, quando não houver tantas restrições vou festejar com os meus amigos”. Diana Rodrigues não quer pôr fim à sua vida académica e, por isso, vai avançar para uma segunda licenciatura. “Quero tirá-la cá em Bragança porque há coisas que temos que terminar”, concluiu. Também Paulo César termina este ano a licenciatura e a queima das fitas é um dos momentos mais esperados. Apesar de estar ansioso, admite que com todas as restrições a “emoção não é a que deveria ser”. “Eu acho que vai ser um dia rápido. A missa vai ser simples, a queima na escola também deve ser uma coisa muito rápida e muito simples”, lamentou. Este é apenas um dos dissabores que a pandemia lhe deu. O outro foi não puder praxar. A pandemia obrigou ao cancelamento das praxes académicas e não só não foram praxados os caloiros, como também não puderam praxar os doutores, como são designados os praxantes com três matrículas. “Não pude praxar. Era importante para mim, porque quando eu entrei na universidade, toda a vida académica que eu vivi, a praxe, depois foi a queima das fitas do meu padrinho e da minha madrinha e era um sonho também vir a ser praxante e ter a minha queima”, contou. Passou pela praxe enquanto caloiro e é um dos que pode falar dos seus benefícios. Para muitos está claro que a pandemia veio evidenciar a importância da praxe para a integração dos caloiros. “Os caloiros este ano estão muito perdidos, por falta da vida académica. Este ano não houve aquele laço, os caloiros estão muito dispersados, em grupinhos e não estão com o espirito”, reforçou. Também ele vai continuar a estudar em Bragança e fazer aqui o mestrado. “Foram os melhores anos da minha vida”, afirmou.
Pandemia dificulta integração dos novos alunos
São os próprios caloiros a confirmarem a importância da praxe na vida académica. “Foi triste e desmotivador. É muito mais difícil fazer amizades, a integração também é mais complicada, não temos as festas que são feitas todos os anos”. Esta é a opinião de Inês Afonso, uma das caloiras do IPB, mas que parece ser idêntica à de tantas outras de outros novos alunos. Está a estudar Dietética e Nutrição no Politécnico de Bragança e quase a terminar o ano lectivo ainda só conhece “um terço da turma”, já que a situação epidemiológica do país levou à divisão das turmas e muitas aulas foram leccionadas online, para não falar do tempo em que os estabelecimentos de ensino estiveram fechados no confinamento. “Faz-me sentir que perdi muita coisa. Parece que ainda estou no secundário”, disse quando questionada sobre o impacto que a pandemia está a ter no seu percurso académico. Ainda que não tenha passado pela experiência de ser praxada este ano lectivo, há a oportunidade de ser no próximo ano. Mas nessa altura, o espírito já será outro, até porque “não vai ser a mesma coisa”, visto que vão ser “só duas semanas” e os alunos do segundo ano serão praxados em conjunto com os do primeiro ano. “Mas eu quero ser praxada. Quero ter a experiência total da universidade. Eu estou com expectativas altas por causa das histórias que a minha irmã me contou”, disse de imediato. Os mais velhos tentaram ainda que os novos alunos se sentissem acolhidos, com a realização de reuniões online, mas que ficou muito aquém de como seria se houvesse praxe. A praxe não só facilitará a integração dos caloiros, como também é um dos principais rituais para que possam trajar e fazer a queima das fitas. “Não posso trajar este ano, porque não fui praxada. Também me sinto um bocadinho triste por isso, porque acho que é importante trajarmos. Também faz parte da vida académica e a partir do momento que trajamos também nos sentimos mais incluídos”, referiu Inês Afonso. Sabrina Gomes é outra das caloiras que sem a praxe se sentiu desamparada. “Quando cheguei a Bragança pensei ‘Meu Deus agora não há praxe, vou ficar sozinha, não conheço ninguém’”. Disse ter ficado “muito triste” por não poder ter passado pela experiência que muitos outros passaram, principalmente quando houve as histórias que os seus colegas mais velhos lhe contam. “Obviamente que ser praxada no segundo ano de curso não é a mesma coisa, porque uma coisa é chegar a Bragança, não conhecer ninguém e com a praxe conhecer pessoas novas, outra é no segundo ou terceiro ano já conhecermos as pessoas”. Também ela está preocupada com a possibilidade de não poder vir a trajar, já que sem ser praxada isso não é possível. Mas nem tudo é mau, já que se sentiu acolhida pelos colegas de curso mais velhos. “O que gostaria mesmo era usar já o nosso traje e pertencer a eventos de caloiros, mas o mais importante é que os mais velhos nos acolheram muito bem, mesmo não havendo praxe”, terminou. Segundo o presidente da Associação Académica do IPB, as cerimónias vão acontecer mediante as restrições impostas pela Direcção- -Geral de Saúde. Ainda estão a ser feitas reuniões para determinar em que moldes irão acontecer. Hugo Nobre adiantou ainda que este ano vai também realizar-se a missa de bênção das pastas e a queima das fitas dos finalistas que terminaram o curso no ano lectivo passado.