Lágrimas de crocodilo

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Já li contos dedicados às crianças onde os crocodilos choravam, também soltei gargalhada estrídula quando ouvi a anedota referente a um crocodilo a voar baixinho autenticada pela boca de um agente do KGB, fora isso os crocodilos que vi em África e na América inspiravam receio e cautela, na Tailândia apreciei carne dos sáurios temperada com abrasiva mostarda. Crocodilos chorosos, lacrimejantes, envergando vestidos flamejantes, fatos e gravatas topo-os nas televisões ao torto e ao direito sempre que tudo quanto foi visto, sentido e ouvido durante anos e anos derruba barreiras e muros de opacidade transformando-se em opinião pública, escândalo informativo, chamativo da atenção da generalidade das populações. Neste momento as e os crocodilos derramam lágrimas que nem Marias Madalenas relativamente à triste sorte dos desprotegidos de tudo vindos da Ásia a fim de trabalharem de ver a ver nos campos agrícolas do Baixo Alentejo, fazendo reviver a nefanda saga dos portugueses vendidos ao molho através dos passadores (alguns ainda vivos) de Trás-os-Montes, Minho e Beiras retratados num livro a escorrer sangue pelo Padre Telmo Ferraz, o qual na esteira do Padre Abel Varzim dedicou a vida a defender e acarinhar os trabalhadores humilhados e ofendidos cá e lá, na Espanha, França, Luxemburgo e Alemanha, pois no «paraíso» salazarista da terra brotavam abrolhos, cardos, silvas e sarças. O governo de António Costa, a geringonça hipócrita a desprezar milhares de trabalhadores fora da coutada das periferias das cidades, os patrões quais sanguessugas sedentas nunca dedicaram uma migalha de interesse aos novos elementos (mulheres e homens) que são protagonistas de um novo e imaginário livro intitulado Sete palmos de terra e um caixão. O tristemente célebre ministro Eduardo Cabrita renomado génio da asneira permanente anunciou a intenção de resolver o problema da doença e morte lenta das desamparadas criaturas colocando-as em residências ocupadas coercivamente remetendo-nos para o passado dos kolkoses soviéticos da repressão leninista e estalinista. O país das conquistas de Abril, da União Europeia, membro dos tratados de defesa dos direitos humanos a envergar as vestes ditatoriais do regime chinês (opressor do Nepal) é o significante da hipocrisia de decisores políticos vesgos quando têm de conseguirem conceder gasalho aos mais desvalidos a Leste do Paraíso, entenda-se das ânforas dos votos e da propaganda política. Há lodo nas estrelas? Continua a haver e, muito. Cabe- -nos a tarefa de o extirpar? Cabe-nos o dever de o tornar campo de cultivo no qual a dignidade humana implique salários justos, alojamentos confortáveis e mantença a condizer.

Armando Fernandes