Regionalização, sim ou não?

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Volta que não volta o tema da regionalização surge na agenda política mercê da teimosia de alguns autarcas e agentes do poder convencidos de a dita regionalização ser a panaceia capaz de resolver todos os problemas e atrasos existentes nas terras onde exercem funções e/ou cargos de execução de políticas emanadas dos governos ou da Assembleia da República, afirmando residir no Terreiro do Paço as causas da atrofia das parcelas dos pequenos reinos.

Estar a despender energias referindo geógrafos, historiadores, cientistas sociais e politólogos que ao longo dos anos enunciaram a inexistência de realidades justificativas da alteridade administrativa do território não vale a pena, não existe cego pior daquele que não quer ver, vencidos clamorosamente no referendo ocorrido há vinte anos alimentam a esperança de uma reviravolta conducente de terem possibilidades tudo e mais alguma coisa excepto cunharem moeda, porque hinos e bandeiras ecoam e drapejam de forma vincada ou discretamente em vários terrunhos do País.

Deve-se a Marcelo Rebelo de Sousa o referendo demonstrativo de a grande maioria do povo português rejeitar a encomenda cujo conteúdo agradava e satisfazia egos glutões de notoriedade e eivados de complexos provincianeiros e não provincianos pois o conceito de provinciano assenta a todos a principiar pelo alfacinhas dado Portugal ser um pequeno País, felizmente, isento de querelas linguísticas, religiosas e raciais travejamentos de regionalizações inçadas de conflitos mais ou menos virulentos como são exemplos a Bélgica e a Espanha. Porque o nefando terrorismo está na ordem do dia veja-se o sucedido em Bruxelas e Barcelona em virtude da multiplicação de estruturas e hierarquias terem atrasado o combate de prisão dos autores dos atentados. Os exemplos podem-se multiplicar em todas as vertentes da governação seja no tocante à desmesurada engorda de burocratas e amiguistas no aparelho de cada autonomia traduzindo-se na inércia parasitária parideira de intrigas, vanidades e consequente esbanjar de dinheiros.

Há vinte anos empenhei-me no combate à ideia de regionalização, recordo-me de uma reunião realizada em Cortes na casa memória João Soares onde ouvi o filho explicar porque regionalizar era péssimo e profundo erro perante a aprovação de figuras do talante do Professor Ferrer Correia natural de Semide, Miranda do Corvo, e do Dr. Proença de Carvalho, natural de Castelo Branco, ou seja, dois ilustres provincianos. A campanha contra a regionalização deu azo a Marcelo refulgir enquanto estratega, ao saudoso Vasco Graça Moura e Miguel Sousa Tavares (dois filhos do Porto) ressumarem maestria na desmontagem da vulgata dos defensores do sim.

Na altura não apareceu o candidato a vice-rei do Norte o inefável Rui Moreira que já deu sobejas provas de «quero, mando e posso» em todo o Norte do País incluindo Trás-os-Montes, parafraseando o acerado jornalista do Felgar sempre pronto a auxiliar os da nossa terra, não sou do Norte, sou transmontano. O autarca portuense lembra a deputada da ortodoxia feminista e racista, não admite o contraditório e a mais leve crítica, concedendo as duas criaturas grávida sabedoria ao provérbio – se queres ver o vilão mete-lhe o pau na mão –, em registo de arrogância e exclusão.

Na altura de o professor Marcelo ter sido eleito fiquei duplamente satisfeito, a sua ampla vitória foi o triunfo da inteligência, da solidez de princípios e valorização do mérito por um lado, por outro o enterrar da regionalização. Só que tal como os zombis teimam no ressuscitar da pretensão ampliada na comunicação social nortenha. No Congresso da Associação Nacional dos Municípios o Presidente da República advertiu e lembrou os perigos do fantasma ganhar corpo desprovido de alma sensata, multidisciplinar na visão do complexo mosaico passível de nos levar a um Alcácer-Quibir violento e irreversível.

 

PS. Escrito na véspera do 1.º de Dezembro.

 

Armando Fernandes