MUNDO NOVO - (Outras Praias)

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No passado dia 5 de junho comemorou-se o dia mundial do ambiente. Neste mundo complexo que nos calhou em sorte e cuja sorte todos nós traçamos, no dia a dia, são contraditórios os sinais que me chegam.

Em Portugal há mais de quarenta praias com índice zero de poluição, sete delas no concelho de Torres Vedras e duas no interior (nas albufeiras de Santa Luzia em Pampilhosa da Serra e de Castelo de Bode em Tomar). Por outro lado chegam notícias dantescas sobre o uso e desperdício de plástico, com a acumulação incomportável nos oceanos, a exigir mudanças drásticas enquanto morrem cada vez mais animais marinhos por ingerirem sacos e outros artefactos baseados em polímeros. Em sentido contrário, chegou à minha caixa de correio eletrónico uma mensagem da Presidente da Fundação, Isabel Mota, apresentando o Projeto Gulbenkian Sustentável sinalizando o rompimento da instituição com o ciclo do ouro negro que, por sinal, proporcionou ao seu fundador a fortuna que esteve na base do legado que generosamente nos deixou.

É bom assinalar que esta mudança não é de agora. Em sintonia com a reconhecida mudança de cor do

ouro que antes de ser preto foi exclusivamente amarelo e que nos dias de hoje é, sobretudo, cinzento: a maior fonte de riqueza dos dias de hoje está na "indústria" do conhecimento.

Uma simples consulta à lista ordenada das maiores empresas mundiais facilmente se constata que os lugares que há duas dezenas de anos eram da Exxon Mobil, da Shell, da Chevron e da BP, estão agora ocupados pela Google, Microsoft, Amazon e Apple.

Ciência, cultura e competência são, desde sempre, imagens de marca da Gulbenkian. Conhecimento valioso e reconhecido, sendo-lhe transversal, tem uma especial concentração e atinge altos níveis de reconhecimento no Instituto Gulbenkian de Ciência. Mas se as instalações de Oeiras estão muitíssimo bem capacitadas no que diz respeito a massa cinzenta já  no que concerne às instalações físicas o cenário é radicalmente diferente à luz do novo alinhamento crescente na Avenida de Berna. O cinquentenário complexo edificado nas imediações dos Jardins do Palácio do Marquês de Pombal, apesar das muitas melhorias ali feitas nos últimos anos, continua com necessidade de melhorias na eficiência energética a que se somam uma configuração funcionalmente desajustada (à luz dos tempos atuais) e, pior que isso, foi construído em leito de cheia provocando grandes e frequentes arrepios sempre que a ribeira da Lage transborda ou quando as marés vivas ameaçam de inundação os pisos

inferiores dos vários edifícios da rua da Quinta Grande.

Recentemente, foram construídos alguns institutos de investigação, na capital que, naturalmente, evitaram estes problemas tendo, para o efeito, consultado os responsáveis do IGC aproveitando o conhecimento ali adquirido. Tiveram, é certo e contrariamente a este último, a vantagem de construirem os respetivos edifícios de raiz coisa que não se pode fazer sem investimentos elevados, cuja disponibilidade não é frequente. Nos últimos anos foi feito um esforço de modernização, também neste capítulo, dentro das limitações que as naturais condicionantes impunham.

Contudo, numa altura em que o imobiliário está em alta, valorizando, como nunca as atuais instalações, que a Câmara de Oeiras reafirma o seu empenho na valorização e desenvolvimento do cluster científico e que precisa de uma funcionalidade âncora para o mega projeto de renovação do espaço da antiga Fundição de Oeiras, estão criadas condições como nunca houve no passado e, suponho, dificilmente se repetirão no futuro para se poder construir, de raiz, um edifício ecológico, eficiente, económico, funcional e seguro.

Se a Faculdade de Medicina quando avançou com o IMM e a Fundação Champalimaud quando decidiu construir o CCfU não dispensaram o know how acumulado pelo IGC ao longo dos últimos anos e dele tiraram o respetivo proveito, seria difícil de entender que, a mesma Fundação não tire igual benefício do conhecimento por si adquirido e desenvolvido. 

José Mário Leite