Ter, 23/05/2017 - 11:13
O fim-de-semana foi quase trágico na região, com dois episódios potencialmente mortíferos, que podiam ter contribuído para agravar o distanciamento com que somos olhados pelo resto do país.
Só nos faltava mesmo que as fadas más se tivessem conjugado, colocando-nos as armadilhas do azar ali mesmo, para que os efeitos demolidores ecoassem até remexerem os íntimos propensos à rejeição do que se considera remoto, literalmente atrás das estevas, senão do sol posto, embora, por cá, o sol nasça antes de começar a aquecer o lombo de todas as lisboas.
De facto, se, apesar de tudo, como diz o povão, não tivéssemos tido muita sorte, o soslaio que nos dedicam poderia tornar-se esgar de arrepios. Já só nos faltava que também nos passassem a descrever como território onde se abrem bocarras do inferno e onde até tentativas de promover referências únicas, como o vigoroso repuxo, no espelho de água de Mirandela, se transformam em razões ridículas de catástrofe.
Não se trata de uma postura desconfiadamente pessimista: pelo contrário, é somente a natural expectativa perante a forma como, em geral, a região e as gentes são tratadas nos folguedos soluçantes da maralha costeira.
O que se passou em Bragança, pela madrugada de 20 de Maio, ficou resvés na fronteira da tragédia, que poderia ter tido consequências insuspeitadas, que agora nem quereremos lembrar. Na realidade, o que aconteceu foi o abatimento de uma laje de cobertura de um poço enorme, que existia na quinta onde, há mais de três décadas, se começaram a instalar três escolas do IPB. A cobertura fora anterior às obras, tapada com terra, o que conduziu, pelos vistos, a que não fosse do conhecimento certo dos próprios responsáveis da instituição.
Ali se instalou um parque de estacionamento e uma escada de acesso à Alameda de Santa Apolónia que, todos os dias, foi subida e descida por centenas, senão milhares de alunos. Pouco mais de um dia antes do desabamento estiveram sobre a laje cerca de 300 pessoas concentradas numa iniciativa que animou a cidade (Corrida IPB For All).
Valeram-nos duendes protectores a que nunca agradeceremos. Se a laje tive cedido naquele momento estaríamos agora a viver angústias indizíveis porque, apesar do prestígio que tem granjeado o Politécnico de Bragança, ao sangue e à dor facilmente se seguiriam outras maldições, de que não precisamos mesmo nada.
Cuidados e caldos de galinha não fazem mal a ninguém e, no caso em apreço, tudo o que contribua para esmorecer a evolução daquela instituição é definitivamente perigoso para o futuro da cidade capital do distrito e do nordeste transmontano em geral.
Assim, é fundamental que a situação seja totalmente esclarecida, que sejam apresentadas, com toda a clareza, medidas de resolução rápida e segura do incidente e dos seus efeitos, mas também de verificação técnica de outras eventuais situações de risco que a quinta possa envolver, tendo em conta a memória, aparentemente difusa, do que foram longos anos de exploração agrícola e, depois, de inactividade propícia a surpresas.
Se, hoje, os tablóides, impressos ou de universo televisivo, estivessem por aí a recolher lágrimas, lamentos e gritos de desespero e ódio, até à exaustão das almas, a cidade poderia preparar-se para passar um longo mau bocado.
Por Teófilo Vaz