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O MANSO E O GUERREIRO IV – O CARTÃO E A CASACA

Quando o Júlio Manso se senta ao lado do velho amigo Tomé Guerreiro este responde-lhe maquinalmente à saudação e nem tira os olhos do jornal.

– As novidades deixaram-no preocupado, ti’Guerreiro.

– Nem por isso. Nem são novidades nem é preocupação o que sinto.

– Homessa! Hoje está muito enigmático. Explique-se, homem.

– Estou a reler uma prosa que veio publicada no Jornal Expresso já em maio.

– E o que é lê aí, que o deixa tão cisudo?  

– É um artigo de opinião do Pedro Santos Guerreiro que, a propósito dos papéis do Panamá e quejandos, veio garantir que ele e os que se meteram nesta tarefa hão-de levá-la até ao fim porque é esse o seu dever e que assim haverão de “regenerar um sistema em falência”.

– Mas olhe que isso mexe com gente muito poderosa!

– E ele não o sabe? Veja o que o homem diz: “Mesmo que ponha em causa poderes instalados – sobretudo se põe em causa poderes instalados – continuaremos inquietos e a inquietar. Mesmo que encolham os ombros nós mexeremos os braços. Mesmo que as opiniões públicas desistam, nós insistimos.”

– Pois essa deve ser a determinação de quem escolhe o serviço público, seja na administração, seja na comunicação social, seja na política.

– Na política não é assim tão simples. Nem tão direta. Nem sequer tão óbvia.

– E sabe porquê?

– Para começar porque o comportamento dos atores está longe de ser sensato e congruente. Basta ver a quantidade de gente que, a pensar no lugarzinho, já anda a mudar de companhia para o próximo ato eleitoral.  

– O virar de casaca partidária é uma moléstia a que já nos habituámos.

– Virar as costas ao partido nem sempre é mau  nem censurável.

– Essa agora!

– É verdade que as candidaturas integradas em partidos dão várias garantias aos eleitores. São estruras sólidas, permanentes e com muita inércia programática.

– E isso não é bom?

– Claro que sim! Contudo o problema é que os programas não têm força de lei e, como tal, podem ter interpretações e execuções muito diversas de acordo com quem lidera o poder executivo.

– É verdade. Mas, como sabe, a adesão a um partido é um ato voluntário. Ninguém é obrigado. Muito menos a integrar qualquer lista eleitoral. Quem aceitar a bandeira partidária aceita as regras estatutárias que integram certos preceitos de lealdade e fidelidade às opções, definidas por quem tiver legitimidade para isso.

– Concordo totalmente. Mas nem sempre tem de ser assim!

– E porque não?

– Pela própria natureza partidária.

– Agora é que fiquei completamente baralhado.

– Os partidos foram criados para exercerem o poder, em nome dos eleitores. A fidelidade dos seus membros aos respetivos estatutos serve precisamente para garantir aos votantes o cumprimento do programa partidário, genericamente, e o eleitoral, em particular. Por isso se exige aos eleitos que sejam coerentes e fiáveis.

– Sem dúvida!

– Contudo se alguém que aderiu a um partido com o genuíno sentido de serviço público, verificar que o interesse comum não está devidamente acautelado, não será legítimo ignorar os ditames estatutários? – Mesmo que isso implique a perda do cartão de militante..?

– Mesmo que a consequência seja essa! Porque, neste caso em concreto, o verdadeiro virar da casaca seria manter-se calado e cúmplice!

Adeus a Nuno Nozelos

Mestre no minifundo literário que é o conto, uma das especialidades transmontanas, Nuno Nozelos (Fradizela, 1931) faleceu, em 18 de Julho, na nossa Torre de Dona Chama, que lhe inspirou o clássico Gente da Minha Terra (1967; também título do excelente contista vila-realense António Passos Coelho, 1961). Em 2 de Julho, a terra homenageara-o, acrescentando o seu nome à toponímia local.

Poeta, estreia-se com Iniciação (1963) e Retrato (1964), assinando Nuno Álvares. Em 1987, podou essas árvores, para reeditar, em Vozes Distantes, 12 poemas daquele e 18 deste. Nesta trintena, há versos magníficos. De 1963, aconselho o segundo, “Paradoxo”, e o também soneto “Desejo louco”. De 1964, em que o ‘retrato’ do sujeito está no seu canto de fraternidade, realço “Aquele quarto de aldeia”, enquanto resumo de uma existência ‒ vista de ‘fora’, de ‘dentro’, e ‘em mim’ ‒, vida em choque permanente. É já de compleição citadina, e suas contradições revolvidas por esse ser solidário, o conjunto de 22 poemas de Canto Aberto (1973), reforçado por A Cidade e Eu, Poeta (1978). Aqui, se ainda paira lembrança aldeã («…E é isto mais ou menos a cidade / ‒ poulo na minha arada de poeta / onde às vezes, por milagre, / irrompe o caule de um verso.»), surpreendem-nos temáticas raras na lírica nacional, dedicadas ao metropolitano, aos semáforos ou ao “Supermercado”, muito antes d’A Caverna de José Saramago, que julgou inventar nos centros comerciais as modernas catedrais e a religião do consumo. Aos 70 anos, encerra Musa Preterida (2001) com um hino à Mulher, relação que perpassa no geral dos seus versos, e cujos ângulos, luzes e sombras pediriam um rastreio pormenorizado.

O ficcionista, porém, sobrepôs-se ao poeta, na recepção crítica. O diário inaugural de Ambos, Afinal... (1973) começa a ser escrito em 1969. Dois anos antes, saíra Gente da Minha Terra. A cidade recentra o olhar de quem inventaria pequenas cenas do quotidiano e mostra o interior e exterior das criaturas, em oposições violentas: cisne branco / águas fétidas, pureza / imundície, etc. São 13 narrativas em que vozes ‒ por meio de diário, carta, diálogo, monólogo ‒ se desnudam nos seus sonhos e fracassos, ou vivem vidas alheias, como a intitulada “Um homem estranho”, que é uma obra-prima. São, ainda, de assunto urbano Histórias ou Algo Mais (1985), Relatos Nebulosos (2003), em que realço o sarcasmo sobre os enganos conjugais, e o romance Soçobrado (1992).

Se, em Ambos, Afinal..., poderíamos eleger os autores preferidos do narrador, neste romance, temos o universo da pintura, figurado na insatisfação de um ex-docente da Escola Superior de Belas-Artes e pintor, Luís Sacadura, de origem transmontana. Entre a frieza, fuga ou insulação da esposa Marília e a sedução de uma Sónia que se revelará seropositiva, assistimos às relações promíscuas de finais de 80, em tempo de também política com Gorbatchov, ou ao incêndio do Chiado em 1988, intervalando com um quadro de Mirandela no capítulo X e larga demora em aldeia vizinha. O regresso à capital é doloroso: morta Sónia, igualmente infectado pela SIDA, Luís suicida-se…

A vertente localista e regional está, antes de Contos Nordestinos do Natal (2008), na dúzia de Ecos de Nordeste (1999), ecos que se diluem pela Linha de Cascais e aforas do Nordeste, mas prolongam, na sua maioria, o já clássico Gente da Minha Terra.

No prefácio da 3.ª edição (1987) deste, Nozelos diz ter procurado construir «uma tela, embora modesta, que retratasse as gentes nordestinas, relevando essencialmente a sua personalidade, os seus costumes, o seu linguajar e as suas carências. Tela que, como salientei na nota prefacial da segunda edição da obra [1975], se inspirou em motivos colhidos “no alfobre da minha infância e juventude”.»

Entramos facilmente em literatura que é a do nosso chão. Depois, a resistência é virtude dos sobreviventes; e temos «a força inabalável dos fraguedos», como, em decassílabo de “Pretenso auto-retrato” (Delações Poéticas, 1996), Nuno Nozelos caracteriza os transmontanos.

 

Prevenção de acidentes no Verão

A maior parte dos acidentes acontece devido à má avaliação dos riscos, nomeadamente do estado do mar (correntes, ventos, rebentação), profundidade dos locais de mergulho, realização de desportos sem a devida proteção ou doenças debilitantes ou que não aconselhem atividades como o banho de mar, piscina ou mergulhos.
Para prevenir acidentes e garantir a sua segurança e a da sua família deve ter em atenção as seguintes medidas:
• Frequente praias vigiadas e respeite os sinais das bandeiras e as instruções dos nadadores salvadores;

Políticos somos todos

Ter, 25/07/2017 - 10:44


Virtude maior de qualquer cidadão é a participação cívica, visto que as sociedades humanas não existem nos caminhos paralelos em que, ausente a política, se consuma o poder da força bruta, que esmaga ou dilacera ao ritmo do instinto.

“Representar Portugal é sempre bom e ser capitão tem um gosto acrescido”

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Ter, 25/07/2017 - 10:44


Prestes a iniciar os trabalhos de pré-época no F.C. Porto B, Rui Pires foi homenageado em Mirandela, terra natal do jogador, depois da participação no Campeonato da Europa de sub-19 com a camisola de Portugal.
Em entrevista ao Nordeste falou do segundo lugar conquistado no europeu e a sensação de capitanear a selecção nacional.