Ter, 19/06/2018 - 10:44
Estranhamente o país de Abril, prometendo Maios encantados, tem conhecido governos que elegeram como alvo de medidas orçamentais de contenção da despesa do Estado um grupo profissional que já foi bandeira de progresso, depois utilizado como trunfo eleitoral e agora aparentemente destinado a ser o bombo de uma farsa que pode terminar em verdadeira tragédia.
Chegados à democracia, confrontámo-nos com a exiguidade inadmissível das estruturas educativas. No outro tempo, a prioridade fora perpetuar um país ordeiro, submisso, atento e obrigado à generosidade de suas excelências os herdeiros de tempos anteriores às tontarias do século XIX e dessa rebaldaria que foram os dezasseis anos da primeira república.
Naturalmente, como se esperava de uma democracia a sério, a educação foi constitucionalmente instituída como um direito dos cidadãos, uma obrigação do Estado e das famílias, reconhecendo-se que só haveria liberdade a sério se os cidadãos tivessem autonomia, suportada na racionalidade que o conhecimento sólido pode proporcionar.
Viveram-se tempos de aparente boa vontade. Abriram-se novas escolas um pouco por todo o país, contando com a generosidade de estrangeiros entusiasmados com a mudança no jardim do pôr do sol. Encheram-se de alunos e de quase professores, mas o que importava era abrir as escolas do futuro. Dali a uns anos chegaria a qualidade, conquista gratificante de todos, ruptura com o modelo arcaico, elitista e segregador, que descarregou gerações inteiras na ignorância, na miséria ou na diáspora.
Mas, afinal, o que sucedeu foi a desvalorização do conhecimento, a acomodação a uma escola de passagem, o trabalhar para estatísticas ilusórias, instalando o facilitismo que redunda na incompetência, na iliteracia generalizada, mas diplomada, na percepção distorcida da realidade, na consagração da doutorice a raiar o ridículo, culminando nas licenciaturas de domingo.
A sociedade não se elevou. Pelo contrário, foi ficando entorpecida, de alma balofa, mais atreita ao grunhido do que à palavra, cheia de empáfia, mas oca, a celebrar o imediato em detrimento do futuro.
Para reverter o resvalar para o abismo seria preciso olhar para as escolas como recurso fundamental, onde os professores têm papel insubstituível, desde que estejam cientificamente preparados e não gastem a vida a remoer angústias, ansiedades, inseguranças e humilhações.
As proclamações de paixão pela educação revelam-se ditirambos desafinados da prática, que continua a privilegiar as aparências, em vez da essência, remetendo os professores para burocracias e formalidades que lhes esgotam a energia necessária para partilhar a reflexão, promover a pesquisa e suscitar a análise crítica dos cidadãos do próximo futuro.
O tiro ao professor, promovido pelo poder e aplaudido por serventuários, oportunistas vivaços e outras espécies invertebradas revelar-se-á mais cedo ou mais tarde um demolidor tiro no pé. Melhor fora que se encarasse a educação como responsabilidade primeira e se mudasse de rumo, a caminho da dignidade dos cidadãos, que passa pela dignificação da escola e dos professores.
Teófilo Vaz