Ter, 17/01/2017 - 10:01
Um sorriso quase empolgado aflorou-nos ao rosto quando foi divulgada a informação de que a maternidade de Bragança viu nascer, no ano findo, mais 22 crianças do que em 2015, tal é a vontade de acreditar que ainda é possível inverter a tendência demográfica e celebrar primaveras de novíssimas vidas a alegrar-nos o horizonte.
Mas, quase logo sentimos um abanão, que nos retirou do engano de alma, quando vimos mulheres deste nordeste transmontano, entradas na idade e na solidão, a agradecer um botão que lhes permite ligar à guarda e aos bombeiros quando sentirem a turvação da insegurança, a angústia da doença ou a melancolia do abandono. Falavam dos filhos que estão por ali e por além, longe do colo que os criou, num êxodo sem terra prometida, senão aquela onde ninguém cria raiz.
Reconduzidos à racionalidade, crua e fria, fomos indagar os dados estatísticos, arfando de esperança que nos pudessem revelar razões para improváveis optimismos.
Eis que tivemos que nos retorcer de dor, como se um golpe definitivo nos atingisse. De facto, partindo de 2011, portanto nos últimos cinco anos, o número de nascimentos de crianças registadas no distrito de Bragança tem diminuído acentuadamente, chegando-se ao ponto de, em 2015, terem ficado como naturais destas terras menos uma centena do que em 2011, quando já se atingira o número impróprio de somente 811 novos bragançanos. De facto, em 2015 só foram registados 718 nados vivos.
Acresce que destes, 237 partos foram realizados fora do distrito, o que constitui uma ameaça à manutenção do serviço de obstetrícia. Talvez por isso, a ULS respirou de alívio, quando constatou uma ténue recuperação da procura da maternidade de Bragança.
Se estas duas dezenas de nascidos aqui, a mais que no ano anterior, pudessem ser indicador de um efectivo aumento dos que foram por cá registados, cá estaríamos para respirar fundo.
Mas não parece que os deuses estejam dispostos a partilhar os nossos desejos. A dinâmica regressiva ameaça continuar a fazer-se sentir, mesmo nos municípios mais populosos do distrito, acompanhando a realidade decadente de todo o país. Nos outros, fica-se com a sensação de que, em breve, já ninguém dali será natural, mesmo se as câmaras insistem em premiar os parcos rebentos de vida.
O próximo futuro ficar-se-á por garantias de policiamento de proximidade, dedicado ao amparo desiludido e já não à garantia do exercício de viver. Quando, tempo além, se fizer a história, serão claras as razões desta agonia e talvez as hipóteses que desperdiçámos, em nome de interesses e comodismos sem perdão.
Mas, então, a terra, a que voltaremos, já nos terá transformado em simples seiva para alimentar soutos e carvalhais, onde o vento assobiará o nosso remorso por não termos feito sentir, ontem e hoje, a nossa força e determinação.
A não ser que os trambolhões que o mundo promete dar nos tragam a surpresa de inéditas alterações, dolorosas, mas que se poderão revelar capazes de gerar outras formas de fazer a festa da vida.
Por Teófilo Vaz