A escola e os demagogos

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Ter, 18/09/2018 - 00:08


Nas democracias a sério o acesso de todos os cidadãos à escola é um direito inalienável, garantido pelo Estado, recorrendo a todos os meios de que dispõe, materiais, humanos, jurídicos ou policiais.
Foi longo e difícil o caminho civilizacional até ali chegar, há pouco mais de um século, num número reduzido de países, enquanto milhares de milhões de seres humanos continuam a passar pelo mundo num ambiente sombrio em que o conhecimento se confunde com a superstição e a feitiçaria, longe da racionalidade da ciência.
Por isso, a educação se entende como instrumento de liberdade e autonomia dos cidadãos, na esperança de que o futuro conheça uma humanidade capaz de lidar com o mundo de forma cada vez mais inteligente, traduzida no recúo dos instintos e na construção de uma comunidade de destino, solidária nas angústias, serena e generosa nas conquistas.
A escola para todos requer de cada um participação no esforço colectivo, contribuindo para a equidade, diferente do igualitarismo, que se revelou causa de equívocos demolidores em diversas sociedades no último meio século.
Naturalmente, a escola não pode ser senão inclusiva. Cumpre-lhe acolher todos os cidadãos e proporcionar-lhes todos os meios para que realizem a autonomia, a liberdade e assumam a responsabilidade.
Neste país as políticas educativas têm sido condicionadas por pressupostos ideológicos que colidem fragorosamente com a vida real ou, ainda pior, por tácticas político-partidárias mais relacionadas com o imediatismo eleiçoeiro do que com os desígnios firmes e sólidos do país.
Pela década de 70, depois da festa de Abril, a escola, que estivera fechada à maioria, encheu-se. A massificação trouxe a propensão para o facilitismo. Uma onda de mediania entorpecedora instalou-se sob a capa das oportunidades para todos, produzindo ignorância diplomada, com efeitos nefastos nas décadas seguintes.
Depois veio a ressaca. Chegaram os exames nacionais que revelaram contradições insanáveis, legitimando colégios privados que reservaram lugar cativo num ranking, aparentemente criado para pôr em causa a estrutura educativa do Estado. Devia ter-se concluído que democratizar não é mediocratizar, porque incluir todos não pode resultar em prejuízo dos dedicados e esforçados, que também têm direito à profundidade dos conhecimentos, até porque sem eles, provavelmente, a estagnação tomará conta do futuro.
No entanto, depois de um safanão, apresentado como instrumento de reposição do equilíbrio, estamos em novo momento de transe, quando nos querem convencer que a escola para todos implica a desvalorização do esforço e da vontade de alargar horizontes, especialmente quando um secretário de Estado disse que o reconhecimento do mérito dos alunos é prática que não considera importante, apesar de estar prevista na lei desde o tempo da ministra Maria de Lurdes Rodrigues.
Enredando-nos nesta teia de contradições, que só a demagogia pode urdir, certamente não encontraremos forma de cumprir o maior objectivo da escola, que é garantir a todos condições de sabedoria, dignidade e talvez felicidade.

Teófilo Vaz