Quem ainda oferece o ramo à madrinha?

PUB.

Ter, 27/03/2018 - 09:46


Olá familiazinha!
Já entrámos na hora de Verão. Nestes primeiros dias ainda estamos a habituar-nos à mudança da hora nas nossas vidas. Embora haja muita gente que defende a tese de que não devia mudar a hora, a verdade é uma, é que daqui a algumas semanas quase se ganham duas jeiras… Também já estamos na Semana Santa, a caminho da Páscoa.
Nestes dois últimos domingos fizemos horas extra para a Família do Tio João, numa edição especial do Domingão: no Domingo de Lázaro estivemos em directo da Feira da Rosquilha de Argozelo (Vimioso) e no Domingo de Ramos o programa foi transmitido da Feira do Pão, em Caçarelhos (Vimioso). Continuamos a promover as feiras e os eventos das nossas terras e continua a ser o concelho de Vimioso o que mais aposta e ganha com a sua promoção.
Uma menção honrosa para o nosso tio António Cavalheiro, de Vilarandelo (Valpaços), assinante deste jornal, que compôs e cantou um fado inspirado no texto da moda das
calças rotas, do tio Belmiro dos Santos, de Grijó de Parada (Bragança). A nossa família
aprecia, cada vez mais, estes bons momentos com que os artistas do povo nos brindam.
Quero mostrar também o meu contentamento porque alguém me disse há dias:
“— Eu nunca o ouvi, mas leio-o sempre!”
Agora vamos aos aniversários. O ministro dos parabéns, o meu João André, quase ficava rouco de tanto cantar os parabéns esta última semana. Principiámos pela nossa tia Gina Salazar (59), de Bragança, que fez questão de vir trazer-nos uns miminhos para festejar os seus anos também connosco; a tia Albidina (78), da Fradizela (Mirandela); a tia Helena (69), de Barqueiros (Mesão Frio), esposa do “rei do chau-
-chau”, tio Isolino; o Carlos Silva (49), de Vinhais, o nosso menino especial; o Luís Correia (55), de Mós (Bragança), emigrado em Bremen, na Alemanha; o tio João Atanásio (81), de Santa Valha (Valpaços); a tia Celeste (91), da Sarzeda (Bragança); e os gémeos José Augusto e Manuel José (50), da Cernadela (Macedo de Cavaleiros).
Que haja saúde para todos e que coza o forno.
Agora, como somos todos muito bem comportados, vamos à madrinha!

 

Eu ainda tenho por hábito oferecer todos os anos o ramo à minha madrinha e que o possa ainda fazer por muitos anos. Como o tema desta semana é dedicado às madrinhas, vou-vos falar da minha, Lurdes Ribeiro, que é muito conhecida devido ao facto de ter trabalhado durante 50 anos na «Farmácia Confiança», em Bragança, onde era conhecida pela “menina Lurdinhas da farmácia” e juntamente com o já falecido tio Ramiro, do Café Lisboa, foram os dois “monumentos” da Avenida João da Cruz. É também a madrinha dos meus dois irmãos mais velhos e do meu sobrinho, filho da minha falecida irmã. Como fui criado também em casa dos meus avós paternos e a casa da minha madrinha era em frente, sempre me lembro de ir para sua casa, onde vi pela primeira vez televisão e recordo também que nas datas festivas, como o Natal, a Páscoa, ou no meu aniversário, lá vinha uma nota gorda da minha madrinha, coisa que deixava os meus amigos de infância com água na boca, porque em geral todos recebiam das suas madrinhas um pacote de amêndoas ou bolachas em troca do ramo enquanto eu a tal nota grande.
Posso considerar-me afortunado por ter tido sempre a minha madrinha muito presente em toda a minha vida, inclusivamente agora, que há cerca de dois anos, está a morar em minha casa e sinto neste convite que lhe fiz uma forma de lhe agradecer todo o miminho que me deu e continua a dar, visto não ter filhos que a possam amparar na sua velhice, porque já não tinha condições para estar a viver sozinha.
Também na família do Tio João é tratada carinhosamente por toda a gente como “a madrinha”. Já fez muitos amigos nas viagens e nos convívios que temos feito, além dos que já tinha do tempo em que trabalhou na farmácia e onde era muito conhecida e solicitada.
Durante a última semana, ao pedir aos nossos ouvintes que nos falassem das suas madrinhas, tive conhecimento de histórias de pessoas que nunca conheceram a sua madrinha, inclusivamente pessoas que têm como madrinha Nossa Senhora. É certo que a madrinha teve sempre um grande significado e uma grande importância principalmente na infância, em que todos recordamos a expressão “lindo menino, hás-de ir à madrinha!”, quando nos portávamos bem.
A tradição de oferecer o ramo à madrinha, por altura do Domingo de Ramos, vem de tempos imemoriais e ainda hoje se mantém, embora cada vez com menos frequência, pois é um hábito que se vai perdendo, como acontece, infelizmente, com muitos outros. O ramo de oliveira para a madrinha tem de ser bento na Missa de Ramos e normalmente é enfeitado com alecrim, loreiro e outras verduras, ou ainda com rebuçados, chocolates e outras guloseimas, como acontece em algumas localidades. A madrinha como “paga” oferecia um folar ou amêndoas, além das doçarias que já iam no ramo e voltavam ao afilhado(a). Hoje dá-se mais dinheiro que outra coisa, mas ainda se ouve a pergunta:
— Já levaste o ramo à madrinha? Ou então:
— Já deste o folar aos teus afilhados? Olha que tens muitos, vai-te ficar caro!
Fazemos votos que esta tradição nunca se perca e para todas as madrinhas já falecidas, o seu eterno descanso.