Um rio doente no Parque Natural de Montesinho

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por: Leonardo Marotta

 

O meu nome é Leonardo Marotta, sou italiano, profissional especializado na área do ambiente (doutorado, com um pós-graduação em Hidráulica); lecionei na Universidade IUAV de Veneza e na Universidade de Parma e desenvolvo, desde há quase trinta anos, trabalho de desenho, gestão e implementação de projeto e estudos de impacte ambiental.
Estive de férias no Parque Natural de Montesinho (PNM), localizado no noroeste de Portugal, parte integrante da Reserva da Biosfera Transfronteiriça da Meseta Ibérica, reconhecida pela UNESCO. Na aldeia de Aveleda, perto de Bragança, encontrei o Rio Pepim, afluente do Rio Sabor, num estado lastimável! Fiquei muito chocado ao ver toda a zona completamente cheia de areia e seixos. Subindo o rio, a situação piora. O habitat foi severamente danificado, trata-se de uma situação urgente, e de um inquestionável crime ambiental, por três razoes: a segurança hidráulica da área habitada, a proteção do ecossistema fluvial e a recuperação de danos ambientais. Pesquisando no google quase não encontro informação. Felizmente no blog: http://ambio.blogspot.com/2010/04/as-minas-do-portelo.html, é referida a origem a este problema nas minas do Portelo, de onde escorreram os sedimentos. A data referida despertou minha curiosidade: janeiro de 2010. Desde essa altura, os sedimentos invadiram o Rio Pepim: depois de causar danos na aldeia de Portelo (em 2010, conforme mencionado no Blog), hoje ameaçam a Aveleda. No blog, li que o material está poluído com metais pesados.
Ainda segundo a fonte atrás referida, desde 2007 que a EDM – Empresa de Desenvolvimento Mineiro tem um plano para intervencionar a mina atualmente desativada. No entanto, os sedimentos invadiram o Rio Pepim no percurso de, pelo menos, 10 km: considerando uma área média do leito do rio de 3 metros quadrados, pode-se imaginar uma quantidade de cerca de 30.000 metros cúbicos de areia e seixos. Por que não foi feita uma limpeza e executado um plano de resolução do problema em 9 anos? A intervenção numa zona prioritária de um parque natural de Interesse Nacional e, ainda por cima, reconhecida pela UNESCO, num rio de alta riqueza ambiental, parece-me impossível de adiar!
Ao subir o rio, a norte da aldeia de Aveleda, onde há um belo parque de merendas, conheci um habitante que me perguntou: “Você está à procura de peixe?”, de seguida disse, “Quase não há! A areia mata tudo.”