Da observação da ruralidade versus mundo urbano, resultam algumas situações algo absurdas, mas bem esclarecedoras do absoluto desconhecimento, por parte de certos setores da sociedade, relativamente à vida real neste “cantinho do Céu”. Então, ... a imagem duma co- bra de água supostamente “salvando um peixinho de morrer afogado”, quando, na verdade, o capturou para se alimentar… … alegados maus-tratos aos animais por parte do pastor que transporta, pendurado nas mãos, o cordeiro recém-nascido no campo... … a ovelha que está a lar- gar as “libras” e se encon- tra no pasto a ingeri-las, num ato perfeitamente natural para não perder os preciosos nutrientes que se encontram nesses sobrantes biológicos do parto… … a organização de De- fesa da Natureza que con- funde o nome “amendoal” com uma produção de amendoins… … o caso dos citadinos que optam por residir numa aldeia e, depois, reclamam e exigem um ambiente completamente livre de caganitas de ovelhas e de cabras e dos ectoparasitas que as acompanham, o que é normalíssimo no ambiente rural e vai sendo controlado por ações de sanidade animal… … já para não falar nas bostas de vaca que ficam nas ruas, sempre que circulam, pachorrentas, a ca- minho dos lameiros… … e dos galos que, de ma- drugada, no seu ancestral papel de “donos do gali- nheiro” cantam ao desafio e acordam tudo e todos… … confundir “Gestão de Combustíveis” com gestão de bombas de abasteci- mento de combustível... Fantástico! E acrescento mais alguns episódios ca- ricatos: … populares a darem bo- lachas aos javalis e a uma raposa na serra da Arrábi- da… …e, mesmo agora mais recentemente, caminhantes, em Espanha, com muita pena de um cordeiro que ficou para trás do rebanho, lhe deixam salsichas, como se de um cachorro se tratasse... Mas, a mais incrível e que me tem feito rir a bom rir foi a reportagem televisiva de senhoras vegan e animalistas a exigirem que o galo fosse separado das galinhas porque estas lhe fugiam e, portanto, ha- via ali sexo não consenti- do…! Esta é demais…!!! Enfim… é um nunca mais acabar de desmandos as- sim, com que alguns nos- sos concidadãos nos brin- dam nas redes sociais. Mas, na verdade, o caso não é para rir…!!! E, como todos sabemos muito bem, são algumas pessoas assim que circu- lam pelos corredores e pelas bancadas da Assem- bleia da República. E são esses cidadãos quem manda no país! Porque são muitos mais e, por isso, o seu poder opinativo é muito mais forte… Isso mesmo! São eles que fazem maiorias nos centros de decisão e inclusive na Casa da Democracia. Pois… é deveras preocupante – até ameaçador – que o pequeno mundo dos seus saberes, que tomam por singulares e universais, se sobreponha, quase sempre, à pluralidade doutros saberes. Porque, na verdade, há outros sa- beres! Assusta quando perce- bemos que nos querem obrigar a cumprir regras e normas de conduta apenas adequadas a essas suas vidas e completamente des- fasadas da realidade doutros mundos; e que nos querem impor a abolição de práticas e outros modos de viver que não são do seu agrado. Lamentamos profunda- mente, a imensa dificul- dade desses setores da sociedade em entender como funcionam os nossos ecossistemas sãos e biodiversos, a sua estrutura, as dinâmicas e a função de cada um dos seus elementos…!!! Ora digam lá se isto tudo não é uma ameaça…?
Agostinho Beça