Porque não há gestão profissional das Zonas de Caça no Nordeste Transmontano?

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E porque será que continuo um caçador de perdizes (e de codornizes) satisfeito?! Parece que a resposta é simples: porque, apesar de tudo, ainda há recantos onde, por circunstâncias felizes e pela extraordinária resiliência destas espécies, a coisa ainda vai funcionando…! Podemos, então, dizer que o mais difícil em gestão cinegética, por incrível que pareça, não é tratar das espécies de caça, mas sim mudar mentalidade e que as mesmas demoram cerca de uma década a mudar… E isto a propósito do que vou vendo, ouvindo e lendo quanto às formas de gerir Zonas de Caça e às formas de caçar nestas nossas terras transmontanas… Pois… não sei bem como falar disto sem ferir as suscetibilidades dalguns confrades caçadores-gestores-de-zonas-de-caça mais sensíveis e, porventura, convictos que as suas práticas são inquestionáveis e corretíssimas…! Mas, lá vai… Quando temos problemas de saúde valemo-nos dos serviços e apoio de diferentes profissionais do sector – médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas... Se o problema é de ordem jurídico-legal, lá iremos contratar juristas, advogados ou solicitadores… Mas se o que temos para resolver é relacionado com avarias, manutenção ou reparação de máquinas e viaturas, procuramos mecânicos, eletricistas de automóveis, chapeiros... Já quando surgem, lá em casa, as irritantes fugas de água, rachadelas nas paredes, portas e janelas empenadas, interruptores avariados, eletrodomésticos que “pifaram”, chamamos canalizadores, trolhas, carpinteiros, eletricistas e outros especialistas… E por aí adiante… Mas, quanto à gestão cinegética, parece que qualquer caçador – só porque o é – “domina a fundo” as técnicas e boas práticas para gerir a sua Zona de Caça…!!! E, assim, paradoxalmente, parece que ninguém considera útil ou necessário recorrer aos serviços dos profissionais/ técnicos com qualificações académicas, saberes e competências nessa área!!! Nada mais errado…! Neste contexto, poderia enumerar um vasto conjunto de decisões e atitudes tipicamente orientadas para o fracasso do funcionamento de uma zona de caça. Porém, como os resultados obtidos estão à vista de todos, nem é preciso fazê-lo… Passaram mais de três décadas desde o início das figuras jurídicas do Ordenamento Cinegético em Portugal…! Pouco mudou…! Porque será que desta vez as mentalidades ainda não mudaram? Em definitivo: • Só é possível manter, de ano para ano, populações saudáveis de perdizes e codornizes se houver habitat favorável – o sistema tradicional de rotação de sequeiro cereal- -pousio! [Não adianta pensar que a colocação de bebedouros e alimentadores para fornecercereais em grão, só por si, é suficiente...!]; • Só é possível fazer boa gestão de zonas de caça com profissionais habilitados e qualificados para o efeito; • Só é possível que as “Leis dos Homens” sejam respeitadas se as “Leis da Natureza” forem tidas em consideração no que diz respeito à gestão da fauna e da flora silvestres. Termino com um desafio, a exemplo do que dizia Arquimedes: “Dai-me uma alavanca e um ponto de apoio e moverei o mundo”. [Entenderá quem o quiser fazer, mas posso explicar, de forma mais simples, que as populações destas espécies (perdizes e codornizes) são dotadas de uma extraordinária capacidade para recuperar, após declínios desastrosos como aconteceu nas últimas duas épocas. A isto se chama resiliência! Assim, adaptando a citação, sempre podemos afirmar: “Dai-me meios financeiros e logísticos (alavanca) e o conhecimento técnico (ponto de apoio) e conseguirei recuperar as populações de perdizes no Nordeste Transmontano.]

Agostinho Beça