O triunvirato da vergonha

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Na crónica anterior, aqui publicada, privilegiei o senhor primeiro-ministro António Costa. Texto que não viralizou, como agora soe dizer-se, longe disso, nem eu tal esperava. Ainda assim, mereceu comentários espontâneos de leitores amigos que justamente me persuadiram, cada um à sua maneira, de que António Costa não é o único grande responsável pelo actual status quo nacional, que é deplorável. Pois não. Também há que chamar à liça o inefável Presidente da República e, já agora, o inestimável presidente da Assembleia da República. É que Marcelo de Sousa, António Costa e Augusto Silva têm longos e pesados passados de exercício efectivo de poder, já que desempenharam, ininterruptamente, múltiplos e diferenciados cargos governamentais do mais alto gabarito. Muito em especial Augusto Silva e António Costa, e de tal forma, que poderão ser considerados dois lídimos dinossauros do poder em Portugal. Do poder socialista, claro está. Ninguém melhor do que eles conhecerá, por certo, os cantos à casa, que é como quem diz, os arrumos, as águas furtadas e as cozinhas do palácio governamental. Dito de outra forma: Marcelo de Sousa, António Costa e Augusto Silva corporizam o triunvirato melodramático da presente vergonha nacional que, apesar dos continuados escândalos e fracassos, mantem intocável o regime político que institucionalizou a mentira, o nepotismo, a corrupção, a desigualdade social e territorial e a incompetência governativa. Reparos do Regime e muito menos reformas não são com eles. Assim foi que Marcelo de Sousa que é suposto ser o guardião do Regime, se transfigurou no seu principal perversor, deixando a tarefa de garante para Augusto Silva que, por tudo e por nada, não se coíbe de malhar à direita e à esquerda, desde que a ordem socialista estabelecida seja beliscada. É que, para Augusto Silva, a democracia nasceu com o PS, cresceu com o PS, muito embora possa morrer com outros, que não com o PS. Ainda que os seus cangaceiros e cangalheiros possam ser socialistas. Já António Costa, não passa do que é: um treinador de governos familiares, de terceira divisão. Sendo que a taça mais pesada da sua já longa governança foi ter convertido a Transportadora Aérea Nacional num empreendimento de submarinos pelo que, o mais certo será o novo aeroporto de Lisboa vir a ser construído na Base Naval do Alfeite. António Costa que dá mostras de não ter outro projecto para o país que não seja convertê-lo numa coutada autocrática, gerida por um grupo restrito de correligionários, familiares e amigos. Durante os primeiros sete anos em que exerceram os cargos que ainda agora ocupam, Marcelo de Sousa e António Costa, levaram a vida a elogiar- -se reciprocamente, divertiram- -se em conjunto, e alegraram-se com os mais felizes e choraram lágrimas de crocodilo com os mais tristes momentos da governação. Ainda que da sinceridade ou cinismo desse seu relacionamento só eles possam falar Aparentemente esse seu entendimento até poderia ser positivo, se não tivessem desrespeitado, sistematicamente, o que é grave, a sacrossanta separação de poderes, pedra angular da democracia que, por esta via, tornaram promiscua e inoperante, sobretudo em domínios fundamentais, como os a Justiça, a Saúde, a Educação ou do combate à corrupção. O verniz estalou, porém, quando António Costa se recusou a demitir João Galamba, seu ministro dilecto, como era desejo expresso de Marcelo de Sousa. Foi, sobretudo, a partir daí que passou a falar-se de crise como se ela tivesse a ver, apenas, com o relacionamento afectuoso de Marcelo de Sousa e de António Costa. A verdadeira crise, porém, vem de longe, é visceral do Regime político vigente que vicia a própria democracia. Daí que o povo esteja farto de discursos ideológicos que só interessam a meia dúzia de intelectuais de partido e que vivem à sombra da bananeira política. O povo quer actos transparentes e consequentes. Não basta que lhe deem liberdade. Requer igualmente justiça e igualdade. É por isso que qualquer português de lei, se sente revoltado, humilhado, ofendido, prejudicado com a presente governação. Marcelo de Sousa, António Costa e Augusto Silva demonstram repetidamente serem governantes que não estão à altura dos acontecimentos, incapazes de fazerem com que a democracia funcione em plenitude e Portugal alcance o objectivo simples que continua adiado: o nível de vida dos parceiros da União mais evoluídos. Felizmente a democracia ainda suporta um primeiro ministro medíocre. Eventualmente poderá suportar um primeiro ministro e um presidente da república medíocres. Seguramente não sobrevirá a um triunvirato medíocre e vergonhoso. Lamentavelmente os portugueses continuam a dormir tranquilamente à sombra da bananeira comunitária, refastelados nas redes que o Regime tece. A propósito: qual é o escândalo que se segue?

Henrique Pedro