“O tal” possível

PUB.

Este texto é inclusivo. Pode ser lido por solteiros ou comprometidos. Não quero traçar já aqui uma linha, o que me iria fazer perder leitores. E isso era uma grande chatice. Sem querer parecer alarmista, mas… já vi- ram quantas relações amorosas correm mal? Não possuo estudos estatísticos, estou só a deixar aqui esta afirmação com um objetivo definido - causar coceiras, inquietações e deixar-vos a pensar precisamente nisso que estão a pensar neste momento: quantas histórias sobre términos e falsas partidas vos foram relatadas ou experienciaram? Todos, em algum momento da nossa existência, pensámos em encontrar “o tal”. A pessoa que definimos na nossa imaginação, que tem tudo com que sempre sonhámos e que, de caminho, ainda gosta de nós da mesma forma porque só assim estão reunidas condições para viver um amor eterno e sem sobressaltos. Nos filmes, “o tal” é sempre o óbvio. Só que andam sempre às turras até que um belo dia acordam e descobrem que, afinal, “o tal” é o tal que estava ali mesmo à frente do nariz, bom de ver. E que era escusado o tempo que foi dedicado a ignorar ou a afastar o que tinha de ser. Bem diz o ditado, o que tem de ser tem muita força. Mas isto de viver em tempo real e sem guiões nunca foi bem algo certo, como o são as fórmulas matemáticas. Portanto, às vezes não tem de ser nada, ou, pelo menos, nada acontece. Então e se forem tão fra- quinhos como eu com os números, as chances de dar ruim dão astronómicas. Vai daí, penso que muitos dão desistência desta causa algures durante o processo, vencidos pelo cansaço e prontos para encontrar um lugar para descansar o coração. Contentam-se com “o tal” possível, que defino como alguém que “não era bem isto que tinha em mente mas que faz as vezes com bastante eficácia”. E assim se acaba com quem nos deixa meio felizes, quem apresenta qualidades, sim senhor, mas nem sempre as que gostaríamos . Muitas das vezes, “o tal” possível é aquele que sobrou, o que apareceu no tempo certo, o que gostou de nós e não nos causa transtornos. Tento decidir se isto é bom ou não. Se chega para encher uma vida ou não. O amor tende a dar trabalho, assim como as pessoas, no geral. Não é qualquer um que está para isso, com tanta preocupação que há para nos ocupar a cabeça, como… bem, não me ocorre agora nenhuma, por isso preenchem, por favor, caros leitores, o espaço das reticências como a vós vos fizer mais sentido, como contas para pagar no final do mês ou o preço da alface. Se calhar andamos a ver tudo mal e talvez não haja só um “o tal”. Talvez nós próprios de- vêssemos ser o nosso primeiro “o tal”, como um espelho. Voltando ao dizer popular, esse lugar-comum onde há espaço para todos, “se não gostar de mim, quem gostará?” Por isso, antes de em- barcar em qualquer sen- da épica pela metade da laranja, vamos sabo- reando com veemência a que já temos - a nossa essência. O ponto de partida está lançado. O resto logo se vê.

Tânia Rei