Indecisões

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Se pudessem haver somente certezas na vida, perder-se-ia possivelmente, o interesse que a mesma vida encerra, pois, os dias tornar-se-iam demasiado monótonos e desinteressantes. Faltar-lhes-ia o condimento essencial que os torna mais apetecíveis. A incerteza do que vai acontecer cria no espírito humano uma ansiedade e uma esperança enormes e ao mesmo tempo uma vontade de saber como tudo vai acabar. Dia após dia, é sempre assim. Como só a morte é uma certeza absoluta, ainda assim permanece a incógnita do dia em que ela ocorre e ainda bem. O contrário seria desolador. Mais cedo ou mais tarde todos teremos de a enfrentar e com ela acabam-se as certezas e as esperanças. A par de tudo isto, as in- decisões que todos temos e enfrentamos quando estamos perante determinados problemas para os quais temos de procurar soluções, permanecem igualmente dia após dia. Se elas se resumem ao que nós, simples mortais, devemos ou não fazer no nosso dia a dia, nada de especial poderá alterar o rumo do que seria desejável. Pior é quando essas indecisões são vividas por quem tem o dever de decidir coisas importantes e que poderão alterar as vidas de quem delas depende. Neste campo estão os governantes. O poder que lhes é dado para decidir entre o bem e o mal, entre o que devem fazer e não devem, entre a indecisão e o seu contrário, é tão grande que o erro da indecisão momentânea pode ser fatal. É uma corda bamba sempre prestes a rebentar. Na hora de decidir, a maior parte deles fica indeciso e quando todos esperam saber a decisão, ela demora e a crítica surge, mordaz e terrível. Por vezes a decisão é tão aberrante que mais valia prolongar a indecisão e escolher o melhor caminho. Se olharmos à nossa volta e tentarmos ver bem o que sucede na maior parte dos países e o que os poderosos decidem em determinados momentos, verificamos as asneiras imensas que eles praticam e as consequências terríveis que disso resultam. Olhemos por exemplo, para o que se tem passado na França, na Hungria, no México, na Argentina, na Alemanha, em Portugal, na Finlândia, na Venezuela, na Rússia, na Bielorrússia e tantos outros. Que indecisões estão por detrás das decisões tomadas? Que consequências surgiram? Remeter para as indecisões toda a culpa das consequências nefastas que esses governantes tomaram, possivelmente será demasiado pois as conjunturas determinaram limites e impuseram barreiras, mas o tempo que durou cada indecisão até ao momento final, foi demasiado. Alguns ainda se mantêm numa indecisão preocupante e perigosa. Curiosamente, as indecisões parecem prender-se com a noção de democracia ou a sua aplicação deturpada. Na verdade, para Maduro, a Venezuela vive em plena democracia, mas não se decide por eleições livres e justas. Porquê? Perderia certamente o seu poder e cairia a ditadura a que ele chama democrática. Enfim! Mas também a Argentina tem um dirigente que pensa que é democrático ser de extrema direita, embora fosse eleito, vá-se lá saber porquê! De indecisão em indecisão ainda não se decidiu pela política certa para o povo da Argentina que vive momentos aflitivos. Culpa de quem? Da Bielorrússia quase não vale a pena falar, pois as decisões são as que Putin dá ao seu criado e este só tem de cumprir. A política passa ao lado, mas é sempre uma ditadura pura e crua. Ele também não se decide a tomar o pulso do governo e libertar-se das algemas que o prendem e subjugam à Federação Russa. Paciência! Mas já agora e a talho de foice, Putin entende que a humanidade atingiu o fundo quando se usa o assassinato para eliminar adversários políticos. Dizia isto referindo-se à tentativa feita a Trump. Isto é mesmo uma aberração. Ele que tem eliminado todos os adversários políticos que lhe fizeram frente, tem uma afirmação destas? Ele atingiu de facto, o fundo há muito tempo e ainda vive! Os franceses já têm tomado decisões erradas ao longo da sua História. Nas últimas eleições não souberam decidir ou decidiram mal, de tal modo que na segunda volta tiveram de alterar a sua decisão inicial. Mais vale tarde que nunca, mas com a democracia não se pode brincar. Macron está à pega e os franceses à espera do que não vem. O que será? Também em Portugal, Montenegro não se decide sobre o que fazer quanto ao dialogar com os partidos da oposição, especialmente o PS e o Chega. Não basta dizer que sim, que há diálogo, que se de- bateu isto e aquilo, que não se quer ultrapassar linhas vermelhas e azuis e não sei que mais, quando na verdade sabemos que isso não está a acontecer. Sentem-se de uma vez por todas e conversem sobre o essencial e deixem-se de vaidades. Decidam-se. As indecisões podem custar demasiado caro e o povo é quem vai ter de pagar as arrogância e vaidades alheias.

Luís Ferreira