Rir é o melhor remédio

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Ter, 29/05/2018 - 15:10


Ser de Trás-os-Montes  e ter optado por ficar, resistir às voragens que a infeliz história política deste país nos destinou e continuar a acalentar certezas de que haveria outros caminhos está a tornar-se condição de insanidade irremediável, a roçar a paranóia, que nos remete para o ridículo.

No entanto sabemos que risíveis são os sorrisos amarelos que acompanham as loas ao interior, as expressões embatucadas dos rostos dos que prometem sem querer cumprir e as justificações trôpegas sempre que são pedidas contas.

Também merecem gozo destemperado os que, de entre nós, se tornaram veneradores do centralismo que desequilibrou o território, ao serviço de desígnios nunca confessados, mas sempre com resultados que subtraíram até ao quase nada as condições de manutenção destas terras com gente dentro.

Não faltam por aí herdeiros do morgado de Caçarelhos, essa ficção/realidade que terá feito rebolar de riso a alma do grande Camilo, esperando que tal figuro servisse de lição para tempos que haveriam de chegar.

Partilhando da desilusão que o estará a acometer, fica claro que cada vez mais, em muitos dos que aqui nasceram, se constata a propensão para a mediocridade enfatuada, o oportunismo imediatista que depressa renega a condição e a cobardia cúmplice perante os que mandam e distribuem tenças e prebendas , à maneira dos tempos de glória do império breve, que nos deixou séculos na penúria.

Assim se foram criando condições para que só restem últimos suspiros sem provovar sobressaltos na festa pachorrenta e untuosa da celebração da vileza e da indignidade. De vez em quando, para aliviar o fastio, iludir a consciência ou, simplesmente, contemplar o próprio umbigo até à baba, afloram às esquinas do tempo personagens que lograriam fazer rir as próprias pedras, mesmo as fragas que moldam o carácter dos verdadeiros transmontanos.

Como se só nos restasse um golpe de misericórdia, propõem-se promover memoriais, à maneira de velórios, longe da incomodidade e da tristeza, que renegam, mas de que são corresponsáveis. Não estará longe disso a festarola que teve lugar em Lisboa, designada com ousadia Congresso de Trás-os-Montes e Alto Douro, porque não resultou da participação dos mais interessados, os que cá vivem, nem da identificação dos passos irrecusáveis no futuro imediato para apresentar revindicações sólidas junto do poder político, muito menos da conjugação de esforços dos poderes locais na prossecução do verdadeiro interesse regional , assim como na concertação, firme e honrada, de não abandonar o combate enquanto não for revertida a ameaça que está a matar-nos todos os dias.

Não é com folestrias que se ganha o futuro. Aliás, ao mesmo tempo, decorreu outro congresso, do partido que lidera o governo, onde se ficou a saber que, afinal, a prioridade do desenvolvimento do interior, proclamada anteontem, já não o é hoje, muito menos amanhã. De facto, ninguém ouviu uma palavra ao líder sobre o assunto. Talvez porque já estarão postas em prática todas as medidas anunciadas e estaremos à porta do paraíso. Ou talvez nos estejam a preparar um fim entusiasmante: rebentar a rir.

Teófilo Vaz