Ter, 27/09/2016 - 10:14
Estamos a finalizar o mês de Setembro e como diz o povo “quem não tem vacas nem bois, tem de ser antes ou depois”. Por isso mesmo, já se estão a combinar as vindimas, porque para serem feitas à torna jeira (tu vais para mim, eu vou para ti) é preciso marcar as datas atempadamente. Diz-se que este ano não há muita uva, mas a qualidade é boa. Nas nossas terras a vindima ainda continua a ser uma das festas do lavrador.
Entretanto, neste número vou apresentar-vos o meu avô paterno, que era barbeiro e tinha a alcunha de Rabel.
“Olha! Aquele foi ao Rabel”, ou “Foste ao Rabel?”
são expressões que foram usadas há uns anos, quando alguém tinha ido ao barbeiro, cortar o cabelo. Mas, afinal, quem era o Rabel?
De seu nome António Fernandes Sernadela, nascido a 8/9/1910 e falecido a 20/4/1986, pai de cinco filhos e avô de 19 netos, um dos quais sou eu, criado com ele até à idade dos meus 18 anos.
A história da origem desta alcunha, Rabel, é o que me proponho agora contar e tem a ver com o facto de o meu avô só aos dezasseis anos de idade ter começado a ir à escola, porque até ali andava de pastor de uma cabra. Um certo dia, na escola, num ditado que a professora estava a fazer e que falava de duas personagens que se chamavam Raúl e Isabel, o meu avô, por distracção, juntou as primeiras letras de Raúl e as últimas de Isabel, dando o resultado de RABEL, ficando para toda a vida com esta alcunha.
Foi barbeiro entre 1930 e 1975, estabelecendo-se por conta própria em 1933, na Rua Direita, em Bragança, no tempo em que desfazer uma barba custava uma coroa e um corte de cabelo três coroas, sendo os dias de maior trabalho os sábados, até à meia-noite e os domingos, na sua casa particular, onde habitava, por não poder abrir o estabelecimento. Estes dias eram os escolhidos pelos agricultores para irem ao barbeiro, porque durante a semana tinham os seus afazeres nas aldeias. Foi também durante muitos anos o barbeiro oficial do Seminário, do Patronato e do Paço Episcopal.
Teve muitos aprendizes que, por vezes, pagavam as aulas em géneros alimentícios, como por exemplo, batatas, couves, vinho, azeite e restantes produtos hortícolas da época. O último aprendiz que teve o meu avô foi o Tio Aurélio Pires, actualmente em actividade e com estabelecimento aberto na Rua do Loreto, em Bragança, que nos contou que começou a trabalhar de porta em porta. O pagamento era um alqueire e meio de trigo por ano. Nessa altura tinha de se pôr em bicos-de-pés para chegar às cabeças dos fregueses e esteve em Portugal até 1970, altura em que emigrou para a França, onde se manteve por mais dezasseis anos na arte. Regressado há trinta anos a Bragança, ao lugar onde ainda exerce com o seu filho. Na actualidade, os barbeiros são mais cabeleireiros que barbeiros por ser raro desfazerem barbas. Parabéns Tio Aurélio Pires!
Refira-se que Bragança é dos locais do país onde o corte de cabelo é mais barato.