“Quem morre só nos leva a dianteira”

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Ter, 24/01/2017 - 10:25


Olá familiazinha! Estamos a viver um período triste, em que os falecimentos têm sucedido com muita frequência. Exemplo disso é o facto de, segundo nos contou o nosso tio Alcino Silva, na semana passada se terem realizado nove funerais num só dia, no concelho de Vinhais.
Do nosso conhecimento, na semana passada faleceram o tio Justino, de Serapicos (Bragança), um dos pioneiros da Família do Tio João e também o marido da nossa tia Tininha, de Água-Revés (Valpaços), depois de muito tempo acamado. Como dizia o saudoso tio Manuel Sapateiro:
“Está a morrer muita gente que nunca tinha morrido”. E eu ainda posso acrescentar que: “Se não morrermos antes, chegamos aos 100...”
Deixo-vos com um pouco da história de vida do tio Justino e também com dois dos jogos da minha infância.

Breve história da vida do Tio Justino, pioneiro da família do Tio João
Justino Augusto Pereira, o Tio Justino, como era com era conhecido na nossa família, nasceu a 29 de Julho do ano de 1927, na Freguesia de Serapicos, Concelho de Bragança, filho do Regedor da Freguesia (António Garrido).
Aos 7 anos entrou na escola primária local, onde fez a 3.ª classe. Decorrido um mês após ter começado o ano lectivo na 4.ª classe, o pai comprou uns vitelos. Como o Justino já tinha 10 anos, foi obrigado a largar a escola para ir tomar conta dos vitelos. Aos 14 anos volta à escola, conclui a 4.ª classe com aproveitamento de Excelente. Trabalhou na vida da lavoura, em casa do pai, até aos 23 anos.
Casou no dia 11 de Novembro do ano de 1950 (Sábado), com a tia Maria de Lurdes. Do programa da boda fez parte o transporte dos noivos para a igreja em carros de bois, copo d’água na casa da noiva com cordeiro a refogar nos potes ao lume. À noite no baile da boda, ao som dos bandolins, das violas, das guitarras, dos realejos (gaita de beiços) e da rabeca, bailou-se até de madrugada.
A 14 de Setembro de 1951, nasce o 1.º filho, o António Manuel, a 1 de Novembro de 1953 nasce o 2.º filho o Luís Mário, as bocas aumentam, os rendimentos da lavoura diminuem, aventura-se e monta uma taberna, onde se vendia de tudo (o bacalhau, o petróleo, os fósforos, os selos, o arroz, o polvo fresco nas cestas de cana, os quartilhos de vinho, os cálices de aguardente e de anis, etc.
Em finais de Dezembro de 1962 emigra para a França onde, nos primeiros meses de estadia na cidade luz, viveu na cabine de um camião abandonado, passando depois a partilhar a barraca das obras com mais dois companheiros.
A 28 de Setembro de 1963, nasce o 3.º filho, o Zé Jorge. Passados poucos meses regressa a Serapicos, onde se encontra a tia Maria de Lurdes a aturar os três filhos e os clientes da taberna. Agora sim, agarra-se com mais entusiasmo ao trabalho da terra e à taberna, sempre com a valiosa colaboração da esposa.
A 11 de Novembro de 2000, coincidência um sábado, celebra as bodas de ouro, com a imponente cobertura televisiva da SIC e da TVI, onde se tentou fazer um réplica da boda de 1950, (transporte dos noivos em carro de bois, vitela assada na rua para o povo comer, banda de música para o baile).
A família foi aumentando, surgindo 3 noras, 3 netas, 1 neto, 1 bisneto e 1 bisneta.
No dia 17 de Janeiro de 2017 a família começou a diminuir com a partida do Tio Justino, acompanhado por Deus e esperando por nós.
Aquele abraço