Quem ainda quer ganhar a jeira?

PUB.

Ter, 19/03/2019 - 10:15


Olá, cá estamos nós novamente, a escrever para a nossa gente.

Esta edição tem a bênção de São José, pois 19 de Março é o Dia do Pai. Ao contrário do Dia da Mãe, que foi transferido do dia 8 de Dezembro para o primeiro Domingo de Maio, o Dia do Pai já há alguns séculos que se festeja no dia de São José Operário, pai adoptivo de Jesus Cristo.

Em conversa com os nossos professores doutores catedráticos da universidade da vida contaram-nos que, antigamente, era este o único dia na Quaresma em que se podia cantar e dançar. Era um dia grande de festa. A propósito, temos que nos lembrar do célebre provérbio que todos conhecemos: “filho és, pai serás, como fizeres assim acharás”.

O João André, o ‘senhor’ meu filho, diz que o pai dele tem os mesmos anos que ele, pois na realidade eu só fui pai quando ele nasceu. Tem sido uma experiência única. Tenho colegas de escola com a minha idade que já têm netos da idade do meu filho. Por isso, sinto-me pai e avô ao mesmo tempo.

Ser pai nos tempos de hoje é muito diferente de outrora, pois agora os filhos exigem muito mais dos pais. Embora muitos pais não tenham tempo para os filhos, eu felizmente tenho, devido a trabalhar de madrugada e não ser muito amigo do sono. Por vezes tenho oportunidade de ser pai a tempo inteiro e um pai feliz com um filho como o meu. Uma saudação a todos os pais e um beijinho especial ao meu e a todos os filhos que, infelizmente, já viram partir o seu para a eternidade.

Na Rádio Brigantia temos ouvintes que nos mimam com prendas, como foi o caso da nossa tia Palmira dos Santos, de Grijó de Parada (Bragança), que se dedica a fazer na renda quando vai pastorear as ovelhas e nos visitou, na quinta-feira passada, para nos presentear com um tabuleiro decorado com uma renda feita por si, como se pode ver na foto. Em nome de toda a equipa, agradecemos as horas que passou a realizar este lindo trabalho.

Agora vamos festejar a vida de quem compartilhou o seu aniversário connosco: tio Sampaio, ‘o Sacristão’ (70), de Água Revés (Valpaços); António José (40), de Parada (Bragança); tia Lurdinhas (60), de Grijó (Bragança), que nos ouve e participa desde Versalhes, em França; tia Alice (84), de Alfaião (Bragança); Luísa Mesquita (42), de Rabal (Bragança); Raquel Andreia (26), de Especiosa (Miranda do Douro); tia Ana (69), de Lebução (Valpaços) e Cristofer Hostleter (56), marido da nossa tia Irene, da Suíça. Parabéns a todos e que para o ano os passamos festejar também. Parabéns também para o casal José Carlos e Amélia, de Parada (Bragança), pelas suas Bodas de Ouro Matrimoniais. Que continuem a festejar o pão da boda.

As jeiras e os jeireiros ou jornaleiros foram o tema dos nossos programas na última semana. Vamos tentar conhecer melhor esta profissão. Nos dias que correm ainda há muita gente com a mão inchada de andar com a enxada na mão. Jornaleiro é uma profissão típica da agricultura: trata-se de pessoas que trabalham para outras na agricultura em troca da jeira ou jorna, dependendo das localidades onde vivem. Segundo a tia Olga, de Baçal (Bragança), antigamente dizia-se que “homem jeireiro, nem tulha nem palheiro”, porque antigamente o trabalho à jeira era muito mal pago e as pessoas quase só trabalhavam para comer. Felizmente agora as coisas mudaram e quem saiba executar certos trabalhos agrícolas mais especializados, como o de podar, enxertar, limpar, tem jeiras garantidas para mais de dois meses, como é o caso do tio João, de Murça, de 57 anos de idade, que há dois meses começou a podar e não chega para as ‘encomendas’, tendo trabalho garantido para pelo menos outros tantos.

As jeiras para trabalhos especializados é de 60 a 70 euros por dia ‘secos’ (sem direito a almoço) e as jeiras normais são cerca de 50 euros diários. Agora o horário de trabalho diário está estipulado em 8 horas, mas em tempos que já lá vão, a jorna de trabalho era de sol a sol, ou de ver a ver, ou seja, muito mais que as 8 horas.

Foram muitos os participantes no programa que nos disseram não conseguirem arranjar que, queira trabalhar à jeira nas suas localidades. O contrário também acontece noutras regiões, como é o caso de Bemposta (Mogadouro), terra da nossa tia Lúcia Parra, que nos disse que não há ninguém que dê uma jeira a ganhar, apesar de haver muita gente disponível para esse trabalho. É caso do nosso primo Bruno, de 19 anos, que vive em Bragança e nos ligou para ver se conseguia arranjar umas ‘jeiritas’. Muita gente também nos disse que agora a juventude não quer nada com este tipo de trabalho, sendo o Bruno um dos poucos casos que contrariam esta tendência generalizada.

Na nossa região o termo usado é jeireiro, ou aquele que vai ganhar a jeira. No resto do país o termo mais usado é jornaleiro, ou aquele que vai ganhar a jorna.