Ter, 24/05/2016 - 10:35
Uma ovelha que não seja tosquiada e se mantenha com a lã para o verão, vai sobreaquecer e perder a capacidade de regular a temperatura corporal. Além disso, a lã também implica um aumento substancial de peso à ovelha, o que lhe vai causar desconforto ao animal e atrapalhar a constante mobilidade do rebanho.
Em termos de higiene, ao longo de um ano de crescimento, a sujidade natural da lã e uma grande quantidade de matéria vegetal vai-se acumulando no pêlo, factores que variam consoante as condições em que vive o animal. Por causa disso, a lã fica bastante suja, o que se traduz no desconforto do animal, principalmente na zona traseira e genital, onde se acumulam também a urina e as fezes, podendo causar queimaduras e provocar doenças, além de atrair insectos e vermes que se alojam na lã e nas rugas da pele do animal. Então por que é que as ovelhas devem ser necessariamente tosquiadas? Porque é um passo indispensável para garantir o seu bem-estar.
Três motores elétricos, pendurados de maneira a estarem sempre à ‘mão de semear”, zumbem como moscardos. Está um dia de Primavera. Com a chegada do calor chegaram os tosquiadores à Quinta de Cabanelas, no concelho de Bragança. Uma equipa de quatro homens, necessária para tirar a lã a 180 ovelhas, em mais ou menos três horas de trabalho. Na corriça já há um grupo de animais que foi separado do rebanho e aguarda a sua vez para apernar, trabalho que exige perícia para atar as pernas dos animais com um nó que tem de ser suficientemente resistente para manter as ovelhas presas, e ao mesmo tempo, fácil de desapertar. À correia de cabedal usada antigamente para o efeito chama-se apernadeiro e a pessoa que faz esse trabalho é o apernador. Actualmente, é utilizada outra técnica em que o tosquiador prende os animais com os joelhos, substituindo assim o apernamento com a correia. À medida que a lã é cortada, vai sendo colocada em sacos de serapilheira, para mais tarde facilitar o seu transporte.
As ovelhas são animais dóceis e pacientes. Com os olhos esbugalhados, parecem assustadas mas mantêm-se praticamente em silêncio e sem estrebuchar. Quando o tosquiador as larga, no final do trabalho, desandam completamente carecas, em direcção às outras e ficam a tasquinhar enquanto observam as que esperam vez para o ‘barbeiro’. O trabalho é pago à unidade. Amílcar Geraldes, de Grijó de Parada, contou-nos que antes de 1979 a tosquia era com tesouras manuais e o trabalho demorava cinco vezes mais, sendo pago à jeira ou em troca da lã das ovelhas tosquiadas. O preço da tosquia varia mediante a raça: A churra galega bragançana é mais barata, custando 1,20 euros por cabeça; se for a raça badana, como dá mais trabalho por que tem mais lã e os animais se mexem mais, custa 1,60 euros por ovelha.
Depois do trabalho concluído, fomos brindados com um magnífico repasto, de que fizeram parte todos os intervenientes na tosquia.
Um dos tosquiadores que participou desta tosquia, genro de Amílcar Geraldes, é também proprietário, em Paçó de Rio Frio (Bragança), de um dos maiores rebanhos da nossa região, com cerca de 650 cabeças.
Nesta edição, dedicada ao labor da tosquia, deixamos também os versos do nossos tio Paulo, pastor em Brunhozinho (Mogadouro).