Qui, 07/05/2020 - 11:08
Olá gentinha boa e amiga!
Continuamos a ter que viver com muita prudência e muita paciência, pois continuamos com o pesadelo que nos atormenta diariamente e ainda temos muito pano para mangas.
A tia Julieta, de Suçães (Mirandela), contou-nos que este ano a sua aldeia manteve a tradição de ter no 1º dia do mês as casas engalanadas nas portas e janelas, com giesta florida para não entrar a fome.
Alguns membros da família também mantiveram a tradição de roer a castanha no 1º de Maio, para o burro não morder.
A data da feira das cantarinhas de Bragança passou despercebida a muita gente, mas quem notou a sua falta foram os nossos tios feirantes, porque sem feiras também não podem ter o seu ganha pão.
No domingo passado comemorou-se o dia da mãe que, afinal, é todos os dias, mas esse é o dia de mais miminho para a mamã. Vou compartilhar convosco os versos do dia da mãe da autoria da tia Lurdinhas, de Bragança.
Abril despediu-se com chuva e Maio com chuva começou, embora Domingo tenhamos tido direito a um dia de Verão.
Nos últimos dias fizemos a festa do aniversário, na rádio, dos 60 anos de matrimónio (bodas de diamante) do tio António Castro e da tia Chanqueira. De realçar que festejaram os 35 anos na primeira excursão da família. Quem também assinalou as bodas de ouro foi o nosso tio Lita e a tia Alice Romão, de Caravela, que deixaram a festa em banho maria até um dia!
Festejaram o seu aniversario de vida o Hugo Miguel (29), Milhão (Bragança); Martim Morais (5), Rio Frio (Bragança); Abílio Morais (77), Vila Nova de Monforte (Chaves); Maria Lúcia (62), Pinelo (Vimioso); Lúcia Borges (60) e Justina Ferreira (83), ambas de Grijó de Parada (Bragança); Artur Morais (79), Mirandela; Gualter Gomes (88) e Maria Magalhães 70), ambos de Agrochão (Vinhais); Fernanda Batista (84), Santa Comba de Rossas (Bragança); Natália Silva (69), Vinhais; Susana Mesquita (38) ,Bragança; Jorge Santos (46) Castelãos (Macedo de Cavaleiros) e Manuel Castanheira (51), Cidões (Vinhais).
Para todos muita saúde e que coza o forno.
Agora vamos conhecer melhor a tia Glória Pastora, de Vilar Seco de Vimioso.
O Bom Dia Tio João e os Amigos da Onda da Rádio Brigantia são a sua distracção para enganar um pouco a solidão.
Maria da Glória Fidalgo da Fonseca nasceu na casa de seus pais em Vilar Seco a sete de Junho de 1958. Teve uma vida difícil e sacrificada. Depois de ter feito a 4ª classe ficou a ajudar em casa, deu mais dois braços para o trabalho, eram 5 irmãos, 1 rapaz e 4 raparigas. Como os seus irmãos estavam emigrados na França ela, aos 15 anos, também emigrou, regressando passados 3 anos. Aos 18 casou-se.
«O meu casamento foi bonito, ele não tinha nada, eu nada tinha, eramos dois num só. Naquele tempo não havia nada, os pais não tinham para nos dar. O meu marido era pastor e começámos a viver com um rebanho ao ganho. O rebanho era do patrão e quem tratava dele eramos nós, na venda dos cordeiros repartia-se o ganho. Depois com o decorrer do tempo, os filhos começaram a aparecer, tive nove filhos, mas um morreu. Ao longo da vida tive muito que arranhar para criar tanto filho, passava os dias a lavar a roupa, ia levar e buscar os filhos à escola, tratava das refeições e ainda tinha de arranjar tempo para ir com o rebanho. Com o passar dos anos, os filhos mais velhos começaram a trabalhar nas obras e na floresta para ajudar a casa. Estou viúva há dez anos, sinto- -me sozinha, agora só sou eu, o rebanho e os meus cães. Tenho 180 cabeças e os cordeiros são o meu ganha pão, vendi uma “cordeirada” na Páscoa e daqui a duas semanas já volto a ter para venda.
Não tenho horário, como não consigo dormir desde a morte do meu marido e como não me sinto bem em casa, vou para junto delas, sou pastora a tempo inteiro, passo muito mais tempo no termo do que em casa. Tenho uma vida triste e de solidão mas feliz por ver os meus filhos emigrados a ganhar a sua vida.
No dia da mãe tenho sempre um raminho de rosas que me traz a florista de Vimioso, oferta dos meus filhos. No Verão eles dividem as férias para que eu tenha mais tempo de companhia.»
Depois de termos conhecido um pouco da vida da nossa tia pastora, vamos continuar diariamente a ajudar a derrotar a sua solidão com a nossa companhia.
Mãe tesouro sagrado
Caixa de segredos dos filhos teus
Estrela da manhã a iluminar
Os caminhos que ligam a terra aos céus
Para ti mãe solitária
Que vives na ausência do filho querido
Não chores mãe, tem fé em Deus
Um dia o Dragão que o tenta será vencido
Tu és a estrela da madrugada
Que ele há-de reconhecer um dia
E de braços abertos correrá para ti
Devolvendo-te tua suspirada alegria
Tu és o silêncio da noite
Que guardas tantas saudades
À espera da madrugada
Com tantas razões de gritar
Mas sofrendo sozinha, sempre calada
Hoje é dia da mãe
Rebentem essas cadeias
Muralhas de solidão
Já não pode mais sofrer
Esse pobre coração
Tesouro feito de luz
Irradiado também
Do amor, mais puro e santo
Do coração de uma mãe
Tenho saudades da minha
Que partiu para o além
Lá no céu junto do pai
Pede por nós minha mãe
Lurdes Pires
In livro Retalhos