António Pires - Há 56 anos na arte de dar ao dedo

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Ter, 04/01/2022 - 09:35


Os últimos dias do ano velho foram atípicos para a época, com as temperaturas mínimas muito altas para a nossa região. Diz avó Laurinda que este tempo não é  bom para as matanças, porque o fumeiro precisa de geada e tempo sem humidade.
Estamos a estrear 2022. Em cada ano que se inicia só temos algumas certezas, que o início do ano é dia 1 de Janeiro, o Carnaval é numa terça e o Natal, dia 25 de Dezembro. Mas também é cheio de incógnitas. Um acidente, um problema grave de saúde, nosso ou de familiares, pode alterar por completo a nossa vida. Por isso mesmo, o maior desejo das pessoas é um ano cheio de saúde e paz.
Quando chega é sempre pleno de esperanças. Espera-se o Ano Novo para começar vida nova, para estabelecer novas metas de vida, propósitos renovados, para tantas coisas...
O Ano Novo deve ter um significado especial. Renovação de hábitos, de atitudes, como estar mais com a família e amigos. Sair com amigos, abraçar amigos, sorrir pelo simples prazer de sorrir. Usar o telefone para dizer um olá, desejar boa viagem, feliz aniversário! Isto é viver o Ano Novo. Vamos lutar pelas alegrias que as tristezas na nossa vida certas são! O tio João, que representa o nosso povo, acima de tudo, deseja-vos 365 dias de vida, aproveitem cada momento, vivam intensamente e sejam muito felizes.
Este ano, o maior desejo de todos foi o fim da pandemia, para voltarmos à rotina das nossas vidas sem medos!
Estes últimos dias estiveram de parabéns: Eulália Machado(88) Fradizela (Mirandela); Ernesto Oliveira (82) Bragança; António Castro (81) Sendim (Miranda Do Douro); Delfina Canelhas (66) Paradinha de Outeiro (Bragança); Lurdes Almeida (66) Vimioso; Os irmãos gémeos, Paulo e Anabela Fernandes (50) Algoso (Vimioso); Iolanda Pacheco (48) Sacoias (Bragança); Henrique Pires (38) Rio Frio (Bragança); Tiago Domingues (23) Caçarelhos (Vimioso); Sérgio Maravilhas (23) Salselas (Macedo de Cavaleiros); para todos muita saúde e paz, que o resto a gente faz!

 

Hoje vou falar-vos de uma profissão quase extinta em Bragança, a de alfaiate.
Vamos conhecer um pouco da vida de António Francisco Pires, alfaiate há 56 anos.
Nasceu em 1953, em Samil, Bragança, onde ainda reside.
Toda a gente o conhece como o “Jaleco”, com o seu atelier na rua do Loreto, em Bragança.
Desde os fatos completos a pequenos acertos, tudo se faz no “Jaleco”, até porque quem faz questão de vestir bem, não dispensa o olho treinado e os preciosos ajustes do alfaite.
À conversa, confessou-nos que esta é a arte da sua vida, tendo aprendido o ofício logo de menino.
“Aos 12 anos, e já depois de ter feito a 4ª classe, assentei praça na alfaiataria Garrido, em Bragança, dia 19 de Dezembro de 1965. Há, portanto, 56 anos que continuo a dar ao dedo. Aprendi com muita facilidade, isto apesar de ser difícil, aprende-se como outra coisa qualquer. A minha primeira féria foi de sete escudos e cinquenta centavos, na primeira semana que trabalhei, e cheguei a casa todo contente com aquele dinheiro. Dos 12 aos 15 anos aprendi a fazer calças. Claro que comecei do zero, aprendi a dedilhar, a trabalhar com a máquina, a casear num paninho, para o dedo ficar em forma e com o dedo preso para o dedal, pois mete-se na face do dedo e não na ponta, é por isso que o dedal dos alfaiates é furado na ponta. Andei vários meses a treinar a fazer casinhas num pano, aprendi a trabalhar à máquina com ela destravada, pois a máquina era a pedal. Andei ali uns meses, depois com a máquina travada, a seguir aprendi a cozer com a máquina desenfiada, mas com agulha, e num papel com linhas, com retas, com curvas, para aprender a manobrar a máquina.
Com os meus 18 anos fiz o meu primeiro fato completo. Trabalhei 17 anos na alfaiataria Garrido, de onde saí aos 29 anos. Nessa altura estabeleci-me por conta própria, na rua do Loreto em Bragança, já vai fazer no próximo mês de Abril 40 anos. Sou dos últimos alfaiates da cidade, e com casa aberta sou o único. Ao longo destes anos tenho feito várias obras, casacos, calças, coletes, fatos completos. Ainda há gente que gosta de usar fatos feitos no alfaiate, pois são feitos por medida. Alguns gostam de casaco preto e calças de fantasia. Ainda usei e fiz muitas calças à boca de sino, com cerca de 70 cm no fundo perna, usava-se muito na década de 70.
Tenho tido sempre trabalho, ainda no último Verão fiz cinco fatos. Agora faço mais calças, que demoram cerca de 5 a 6 horas a fazer. Um fato pode demorar uma semana, dependendo do tecido. O custo de um fato ronda os 600 euros.
Antigamente havia sempre raparigas que vinham para aqui a aprender a fazer calças. Cheguei a ter funcionários, mas agora trabalho sozinho e, apesar de tudo, vai dando para viver. Além de já ter problemas de saúde causados pela arte, nos dedos, nos braços e nos ombros, ainda me sinto com vida para trabalhar muitos mais anos.”
Aqui ficou um pouco da história de António Pires, o último alfaite de Bragança com casa aberta na rua do Loreto, o nosso “Jaleco”, ele que fez o meu fato de casamento, já lá vão quase 31 anos!