Algumas das nossas terras já não têm transportes públicos

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Ter, 30/11/2021 - 09:05


Estamos  a fechar o mês de Novembro. Esta edição é abençoada por Santo André, e como diz o povo: “ no dia de Santo André pega o porco pelo pé, se ele disser quié-quié, diz-lhe que tempo é; se ele disser que tal, que tal, guarda-o para o Natal.”
Alguma da nossa gente disse-nos que juntaram a apanha da castanha com a da azeitona. A tia Maria de Lurdes, de Mós de Celas, Vinhais, diz que por este andar ainda tem castanhas até ao Natal.
Quem nos disse que andava com os ossos todos desengonçados, foi o tio Rebelo de Real Covo, Valpaços, pois andou três dias apanhar azeitona com a “máquina da batata,” quer isto dizer teve que ser à maneira tradicional de vara na mão.
Alguns dizem que têm que optar pelas máquinas, pois já não encontram gente à geira.
Ao ler os versos do David Pires, de Valverde, Bragança, que hoje reproduzimos aqui, lembrei-me de procurar à família se havia aldeias sem transportes públicos e cheguei à conclusão que algumas aldeias também não têm.
Algumas foram as que confirmaram não haver transportes, das quais; Valverde e Mós em Bragança, Celas, Mós de Celas, São Cibrão e Negreda de Vinhais. Outras só têm transporte em tempo de aulas, como Vilã Chã de Braciosa e Prado Gatão, em Miranda do Douro, Nuzedo de Baixo e Soutilha, em Vinhais.
Certo é que essas pessoas têm de se valer do carro próprio ou táxi para se deslocarem à sede de concelho para tratar da saúde ou de outros assuntos.
Faleceu aos 88 anos, a pouco mais de um mês de completar os 89, o tio Aquiles Ferreira, de São Martinho, Miranda do Douro. Era ouvinte assíduo e muito participativo. Também faleceu de ataque cardíaco, João Carlos, com 44 anos, filho da tia Donzília, de Casas da Estrada, Alijó. Que em paz descansem as suas almas e os sentidos pêsames às famílias enlutadas. Depois de chorar a morte vamos celebrar a vida.
Faz hoje 12 anos o João André, é o ministro dos parabéns, nomeado assim por ser ele que, durante todo ano, canta os parabéns a quem está de aniversário.
Na semana passada também esteve de parabéns a avó Laurinda, que festejou a sua juventude dos 94 anos, e nos confessou ter cada dia mais vontade de viver. Francisco António Gonçalves, de Parada (Bragança), completou um século de vida. Janota Alves (85) Santulhão (Vimioso); Deolinda Rodrigues(62) Coelhoso(Bragança); Luz Celeste Terra (58) Castelo (Alfândega da Fé) a residir em França; Celina Mendes (53) Lagoas (Valpaços); Filipe Costa (47) Argemil da Raia (Chaves) a residir em França; Sónia Marisa(40) Lanção (Bragança); e Vitória Morais (8) Rio Frio (Bragança). Para todos, saúde e paz, que o resto a gente faz!

 

A minha aldeia é maravilhosa!

Porém na minha aldeia não há transportes
não há uma só paragem
A minha aldeia é de pessoas fortes
e é maravilhosa a paisagem

Tipicamente transmontana com a tal sina
poucos jovens, pessoas idosas e menos idosas
casas rústicas de pedra em ruína
e às portas já não florescem rosas

Sem aquecimento adequado com entradas de ar
com pessoas idosas morando dentro
habitantes genuínos, autênticos, mas não dão que falar
de rostos cansados que relembram outro tempo

Tempo onde talvez foram mais fortes cheios de felicidade
hoje menos saudáveis alguns mesmo incapacitados
vão dependendo dos menos idosos de maior mobilidade
para cumprir tarefas diárias, alguns recados

Tarefas diárias... como por exemplo uma boleia
para ir à cidade em busca de medicação
uma consulta, compras poucas, que a coisa está feia
pois na farmácia ficou a maior parte do quinhão

Uma boleia porque o táxi está fora de questão
gastou-se na farmácia e nas compras, olha agora pagar portes
A minha aldeia é linda no outono, inverno, primavera e verão
mas na minha aldeia não temos transportes

Na minha aldeia vive uma senhora, incapacitada
doente numa dessas casas com entradas de ar
todo o dia queixando-se e acamada
dependendo totalmente do marido para andar

O marido a quem muitas vezes boleia dou
vai tratando da mulher e da casa com oitenta anos
nem táxi nem autocarro, ninguém parou
tal é o fado destes tristes transmontanos

Outro fado duma senhora idosa minha tia
que vai contando com o seu filho mais novo
doente, idosa, viúva e com anemia
moram os dois sozinhos lá para o fundo do povo

O combustível caro mas meu primo trabalha perto
acaba por gastá-lo em correria e vai e vem no dia a dia
medicação, consultas, papelada tudo certo
para assim alindar os dias à minha tia
 
Muitos veículos diariamente por aqui a circular
o progresso transita por aqui no CM1061 caminho municipal
a minha aldeia mete medo, ninguém quer parar
minha gente linda e autêntica está doente em fase terminal

Ancorados a esta terra o desafio estão a levantar
uns vão resistindo, outros deixaram o meio urbano
a aldeia é maravilhosa e não se está a desertificar
construíram-se duas casas novas em um ano

A população nestes últimos anos tem estado a aumentar
gente ativa que aqui se instalou e até duas crianças
era importante ver a situação a melhorar
para não acabar com sonhos e quebrar as esperanças

A dez quilómetros de Bragança com acesso por auto-estrada
como diz o ditado “perto e bom caminho”
uma aldeia linda mas esquecida e pouco falada
cujo povo ao abandono sente-se sozinho

A minha aldeia aqui bem perto da cidade
juntinho à zona industrial de Mós – Sortes
chama-se Valverde e a pura realidade
é que na minha aldeia não há transportes

David Pires (Valverde - Bragança)