Voltaram?

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Será que voltaram os comissários políticos? Da leitura de notícias publicadas neste jornal retirei a indicação do seu regresso. Não estou a referir-me a comissários carrascos também exímios no disparo na nuca, tristemente célebres na Guerra Civil de Espanha, tremendos na sinistra eficácia na salamização da Hungria, Checoslováquia e Rom
Enia, sim artifíves da secular prática da indicação de acólitos partidários para ocuparem lugares na administração pública.
O Nordeste deu-nos conta do estilo à «comissário político» de pelo menos um dirigente socialista ter vindo a terreiro assumir a autoria de nomeações, contra nomeações e reconfirmações numa jaculatória de posso, quero e mando.
O estilo é inusitado transformando em parténios os sucessivos responsáveis pela nomeação de centenas de portadores da cédula (falar em cartões neste tempo é perigoso) partidária. Socialistas e sociais-democratas executavam tais taregas quanto mais discretamente melhor, os beneficiados inúmeras vezes borravam a pintura por não resistirem a imitar o autor da boutade – pai sou ministro – ele próprio sátrapa de centenas ou milhares de nomeações.
Eu sei, nós sabemos, do efeito gerado quando os nossos projectos são nicandros (vencedores), trouxe o termo grego à baila no sentido de a natural satisfação se expressar no chamar Nicandro a um filho de forma a nunca esquecer o feito ou quem o praticou. Um homem de Lagarelhos (tinha de ser) colocou o nome de Eusébio ao filho em homenagem so «Pantera Negra», desconheço se o agora cinquentão apreciou a escolha paterna, mas que ficou Eusébio lá isso ficou.
Nesse pressuposto atrevo-me a perguntar a mim mesmo se a sorridente deputada Júlia Rodrigues está ufana do deslumbre do camarada comissário, ou se a Jorge Gomes não veio à mente sonora e vernácula imprecação ao tomar conhecimento da façanha.
Se o amigo de narrar na praça pública o modo de escolher os compinchas tivesse lido (agora é tarde) os clássicos ficava a saber quão astuciosos eram os encarregados da escolha dos colaboradores do chefe, até porque por cada contemplado arranjava-se um insatisfeito e três despeitados, agora o número dos invejosos aumentou imenso.
O desajeitado apparatchik demonstrou não conhecer as regras dos caciques a sério, discretos, mesureiros, sorridentes, matutos, nunca por nunca atreitos a gabanços despudorados, inconvenientes.
Um coronel bragançano, Direito de Morais, após transpor as exigentes provas de acesso ao generalato apressou-se a remeter telegrama à família a dar conta do sucesso, emocionados os parentes falaram, um manteigueiro contratou a banda e esta foi recebê-lo à estação de caminho-de-ferro à chegada do comboio. Tramou-se o coronel.
Com efeito, o seu rival Coronel Machado (Machadinho) logo tratou de fazer-lhe a cama tendo Direito de Morais ficada a ver a banda passar.
A deputada Radegundes (conselheira de combate) não sai ilesa deste infeliz acidente, António Costa acabará por conhecer a toleima efectuada, a tombos com o caso António Lamas murmurará ao modo do jogador de sueca: só me saem duques, menos o de trunfo. O trunfo oferecido à oposição será usado em devido tempo.
Tanto o PS como o PSD têm largo historial na matéria, mas no estilo do fazedor na rua a imitar os picadores de gadanhas não tenho registo, a surpresa é maior dado o progresso na área das tecnologias da informação.
Os leitores farão o favor de ajuizar acerca do filamento primacial deste artigo, tenho o maior respeito pela vossa opinião, a dos visados, seguramente, será negativa. Tenham paciência, quem anda à chuva molha-se, ou dito de outra forma: quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele.

Armando Fernandes