As coisas que acontecem ao longo da História e que são relatadas com algum empolgamento, são-nos, de algum modo, familiares porque são relatadas frequentemente. Episódios especialmente de cariz político, são os mais ventilados talvez porque mais apetecíveis e sujeitos a críticas. Quase todos referem mudanças abruptas em relação às linhas conceptuais até aí seguidas. Exemplos são vários. Alguns lembrar-se-ão das aulas de História, de uma rainha que começou por governar ainda menina depois de ter sido prometida em casamento, com apenas sete anos, a seu tio para que viabilizasse deste modo a governação do país. Pois ela era Maria da Glória, filha de D. Pedro, à época Imperador do Brasil e, por direito próprio, seria sucessor de seu pai D. João VI, na governação de Portugal. Pois o tio de Maria da Glória era irmão de D. Pedro, de seu nome D. Miguel, exilado pelo próprio pai, que aceitou o pacto proposto pelo irmão que tinha abdicado do trono em nome da filha que, obviamente, não poderia governar com sete anos. No governo, D. Miguel não quis saber do pacto e governou como rei absoluto e ditador, passando por cima da Carta Constitucional que o obrigava a cumprir as ideias liberais. Virou de tal forma o país que levou a que D. Pedro IV viesse do Brasil e invadisse Portugal entrando numa guerra civil em que sairia perdedor D. Miguel. Dª. Maria da Glória, com catorze anos acabou por ocupar o trono em vez do pai, iniciando um reinado atribulado e repleto de manifestações e revoltas. Antes já D. Maria I tinha sido chamada de Viradeira por alterar toda a política económica e não só que o Marquês de Pombal tinha levado a cabo. Como o detestava, era um modo de demonstrar a fraquíssima consideração que tinha por ele. O Marquês acabou na miséria. Do mesmo modo se lembrarão de ao longo da Revolução Francesa terem sucedidos episódios dignos de relevância não só pela crueldade de alguns como pelo inesperado de outros. Pois numa revolução que se sustentou na luta pela igualdade e pela liberdade, matar o rei e a rainha não só foi cruel como ficou a dever muito à liberdade e à igualdade apregoadas. No mesmo contexto, todos se lembram de Napoleão e dos seus feitos. Pois também ele protagonizou um episódio caricato, mas não único na História Universal, ao fazer um golpe revolucionário contra si próprio, o 18 do Brumário. A finalidade foi ter todo o poder nas mãos, nomear-se Imperador e conquistar um império a exemplo dos antigos romanos. A Viragem levou-o a perder e a ser expulso de França juntamente com a sua mulher Josefina, acabando por ser desterrado para a ilha de Stª. Helena onde acabou os seus dias. O destino virou-se contra ele! Mais recentemente temos o caso de Donald Trump. Numa governação repleta de sucessivos erros e falhas políticas, teimava em ser o mais lúcido, o mais apto e inteligente para governar a América e quando o poder lhe fugia debaixo dos pés, equacionou a possibilidade de uma Viragem repentina efectivando esse poder por assalto à casa da democracia americana. Saiu- -se mal. Acabou por sair pela porta das traseiras e, envergonhado, não comparecer na tomada de posse do novo Presidente para não dar o braço a torcer. Triste figura! A Viragem será feita por Biden já que ganhou e bem, onde menos os republicanos esperavam. Que tenha mais sorte. Voltemos a Portugal. No momento em que todos esperavam ultrapassar as vicissitudes ligadas à pandemia, eis que os resultados mostram uma Viragem espectacular, pela negativa, colocando-nos no ranking dos piores países do mundo. A teimosia e o bem-querer de Costa ao facilitar no Natal e no Ano Novo a circulação de pessoas, contando com a responsabilidade dos portugueses, acabou por piorar toda a situação. Agora, uma vez mais e por algumas semanas ou meses, ficaremos confinados compulsivamente na esperança de que o vírus se envergonhe e vá de férias também, como os alunos e professores. Aqui não vai haver Viragem certamente. O decréscimo esperado com esta medida não será nunca suficiente para dormirmos descansados e nem as vacinas que agora chegaram o permitem, tanto pela sua exequibilidade como pela escassez das mesmas. Aqui a viragem é outra que não a esperada. Nem as vacinas nos salvam!