Esgota-se o mês de agosto e também as férias dos portugueses. O tempo de lazer chega ao fim e com ele regressam as preocupações do tempo da continuidade. O tempo não pára, os serviços também não e se as preocupações entram em stand by para uns, a verdade é que para outros elas continuam. Nada fica parado na sua totalidade. O país não pode parar, mas houve quem quisesse fazê-lo.
Sabemos que todos devem ter o seu tempo de férias e mesmo o governo tem o direito de o gozar como qualquer cidadão em repouso e sem grandes preocupações, contudo as coisas não são bem assim. Os membros do governo estão sempre em alerta e esse tempo de lazer é muitas vezes reduzido devido a percalços diversos como os fogos ou situações mais complexas que chamam os ministros à ribalta quase sem contarem, como foi o caso da greve dos motoristas de matérias perigosas. Neste caso, um sindicato conseguiu monopolizar ministros e até o Presidente da República, face a uma greve em tempo de férias, agravando toda a circulação no país e travando a normal fluência dos veraneantes, nacionais e estrangeiros, que pretendiam deslocar-se de um lado para o outro. Realmente foi uma greve cirúrgica que atentou contra a vida dos portugueses e não só. Foi uma greve que não se limitou a exigir direitos, mas a atingir a economia do país. Perante isto, o governo teria de intervir de um modo mais ou menos subtil já que não era o visado diretamente, mas cabia-lhe resolver a parte da economia e da saúde nacionais, que ficavam reféns de um sindicato de motoristas. Foi uma situação caricata e nunca antes vista. Um país amarrado a exigências de um sindicato!
Claro que o governo teria de tentar resolver a situação. A greve estava condenada ao fracasso pois o governo ao intervir, teria de usar os meios mais eficazes para evitar o pior e minorar as consequências terríveis que poderiam surgir. O governo teria de ter uma posição de força neste imbróglio, já que tinha muito em jogo e não poderia ficar muito mal. As eleições estão à porta e era preciso contabilizar a seu favor os desagrados da população. Saiu-se mal o sindicato devido ao timing escolhido e à atuação do governo. Na verdade, ganharam todos alguma coisa.
Todos têm direito à greve. Sabemos disso. É constitucional e todos os trabalhadores têm esse direito e devem usá-lo quando é necessário, mas esta greve não deu jeito nenhum ao sindicato, mas deu algum ao governo que conseguiu demonstrar a força necessária no momento certo e contabilizou votos certamente. Interromper as férias para tentar minimizar os efeitos desta greve como intermediário, foi um tempo ganho. Se todos pensavam que o governo estava todo de férias, enganaram-se e se lhe faltava algum rumo no meio da desorientação que preconizava, encontrou-o.
Muitos criticaram o governo na forma como agiu, mas alguma coisa teria de ser feita para travar a arrogância de um pardalito qualquer que pensava que metia na gaiola todos os passarões, passaritos e cucos que andavam à sua volta. Enganou-se.
Contudo, o governo precisa de se afirmar no regresso de férias e não me parece que o decreto que acaba de sair sobre a necessidade de ter espaços próprios nas escolas para os alunos que se afirmam ter uma escolha diferente, diga-se género, não me soa muito bem e não dá certamente muitos votos ao executivo nem tão pouco afirmação. É tão prematuro como a falta de rumo que demonstra o governo. As coisas não se podem fazer de um momento para o outro, de um tempo de férias para um tempo de afirmação governativa. Não é por aí António Costa. Não sou contra a igualdade de género ou o que lhe queiram chamar, mas sempre haverá o género masculino e o feminino e as casas de banho serão sempre para quem as deve usar e nas escolas elas são diferenciadas. Sobre isto a Lei é explícita. Não vale a pena perder tempo.
Assim, não resta muito tempo ao governo para encontrar o rumo certo se quer ganhar as eleições de outubro, até porque Rui Rio está a facilitar-lhe a vida o mais possível. Até consegue dividir o próprio partido ao demarcar-se de tudo durante as férias, até mesmo da greve que, pelos vistos, não o afetou muito.
Entretanto Costa foi de viagem pela nacional 2 de Chaves até ao Algarve. É preciso encontrar o rumo certo. Será este?
Vendavais: Um governo à procura de rumo
Luís Ferreira