Antes das férias, que a maior parte dos portugueses desfrutam neste mês de agosto, acontece quase sempre os partidos contactarem os seus escolhidos para integrarem as listas que submeterão a escrutínio no próximo mês de outubro. Porém, o caminho é longo até chegar a este momento que, há alguns anos atrás, era considerado quase como idílico, tanto era o empenho que os partidos e os militantes punham nesse ato eleitoral. Hoje as coisas passam-se um pouco diferentemente.
Na verdade, embora a ânsia de poder não se tenha esbatido e candidatos sempre tenha que haver, a movimentação de pessoas mais ou menos ligadas aos partidos, está envolta num desinteresse cada vez maior. E mesmo os partidos políticos já não têm muito por onde escolher, mesmo os de maior craveira. Face a uma descrença enorme nos políticos e às suas atividades menos lícitas e também ao conhecimento delas através da comunicação social que, muitas vezes se advoga de investigadora sobrepondo-se à própria polícia, é normal que a ânsia em concorrer para determinados cargos ou até ocupar determinados lugares, seja pouco compensatória e apetecível. Para muitos, o facto de se “queimarem” não vale o risco.
No entanto, o trabalho tem de ser feito e leva o seu tempo. É o tempo de escolher os candidatos e preparar as listas para as poder apresentar publicamente. O que antes era fácil, agora tornou-se muito difícil. Alguns candidatos já o não podem voltar a ser por esgotarem o seu tempo de atividade política em determinado cargo, outros porque a idade não lhes dá a segurança suficiente para afrontar desígnios alheios e ainda outros que deixaram de ser prioridade para os próprios partidos. Quem sobra? Poucos.
E é no meio das partes sobrantes que os partidos têm de ir vasculhar vontades e preferências. E não é fácil. Surgem rostos novos que antes ninguém conhecia, surgem propostas novas, aparecem promessas renovadoras. A pouco e pouco, formam-se listas de candidatos e alteram-se à última hora. Basta apreciarmos as listas já entregues e depois de as analisarmos face ao que se conhecia e especulava e logo vemos alterações em todas elas. Uns saem, outros são preteridos à última hora, outros simplesmente desistem. Se quiséssemos escolher um exemplo, Bragança serviria na plenitude, já que as mudanças nas listas têm sido bastantes.
Os candidatos de continuidade têm sempre a vantagem de serem conhecidos e poderem ser mais atacados ou mais elogiados, mas serão sempre candidatos possivelmente elegíveis. Os outros serão a dúvida que os afronta. Nada é tido como certo e a incerteza faz movimentar cada vez mais os motores das máquinas eleitorais. A hora dos partidos apresentarem publicamente os seus candidatos e das pessoas ficarem a conhecer em quem podem votar, chegou ao fim. Mas nem tudo é assim tão certo. Só no momento em que se entregarem as várias listas no tribunal para aceitação e confirmação, é que tudo fica mais ou menos esclarecido. O Tribunal tem sempre a última palavra. Que o diga, por exemplo, Isaltino Morais. Antes, é o momento da especulação.
Para quem estava à espera de ver as listas e conhecer os candidatos, foi tempo de fazer prognósticos e eles foram e são motivos de conversa de café. Aposta-se neste ou naquele e referem-se qualidades em todos e defeitos em muitos.
Acabou-se o tempo de preparação das listas e a apresentação pública está na recta final para quase todos os partidos. As incógnitas acabaram-se e todos ficaram a saber quem são os candidatos e se merecem ou não o voto, independentemente do partido. Felizmente que nas eleições autárquicas, os eleitores ainda podem escolher apartidariamente os seus autarcas. Gente de proximidade, conhecidos de pai e mãe, amigos da escola, colegas de trabalho, visitas frequentes, enfim, um sem número de atributos que fazem deles muito mais escrutináveis. Apesar de tudo, muitos não são assim tão conhecidos do público em geral. São pessoas mais reservadas, menos sociáveis, de famílias menos conhecidas, pertença a núcleos de amizades restritas e naturalmente menos vistas nos locais mais abertos e visitados. Agora é tempo de se mostrarem. Não basta estar numa lista. É necessário aparecer. É imprescindível ser conhecido.
No dia 1º de outubro, antes do dia da implantação da República, cujo feriado voltamos a celebrar, vamos a votos e votaremos nos candidatos que nos merecerem mais confiança e mostrarem melhores projetos. Deixemos as promessas, que essas não são para cumprir, como sabemos. Debrucemo-nos nos homens, que são esses que poderão fazer alguma coisa pelo nosso concelho. Agora, vai ser tempo de reflexão para os que não pertencem às listas. É tempo de férias, ou não! Breve chegará o tempo da eleição.