Desde os tempos muito antigos, que os heróis recebiam um reconhecimento na forma de um ramo de fores ou uma coroa de louros ou de ramos de oliveira. Só os vencedores tinham direito a esse prémio que era carregado de uma simbologia enorme. Tão grande que na Grécia antiga, alguns se tornavam heróis, adorados como deuses.
Mas se recuarmos a tempos mais antigos, encontramos igualmente casos semelhantes em que os vitoriosos acabavam por receber a coroa da vitória que os distinguia de todos os outros que com eles tinham competido de alguma forma.
O problema surge quando muitos querem ter acesso ao troféu e só um o pode receber. A luta para chegar ao fim em primeiro lugar e receber essa gratidão não é fácil e muitos atropelam-se e acabam por cair antes do fim. Mas nem tudo se resume a uma corrida. E se na Grécia antiga, o desporto era o ponto alto onde os heróis se adivinhavam e eram aclamados nesses jogos olímpicos, que acabaram por se eternizar até à actualidade, a verdade é que nos dias de hoje não é só no desporto que se entregam esses troféus. Os louros banalizaram-se e as coroas também.
Significa isto dizer que quando nos referimos à coroa de louros, não passa de uma metáfora para significar simplesmente uma vitória ou a conclusão de uma obra qualquer e portanto, alguém pode ter direito a receber os louros da vitória, nem que seja somente palavras banais de circunstância.
Não sei se isto é apanágio somente dos portugueses ou se em outros países também acontece com a mesma sofreguidão estar à espera de receber os tais louros da vitória por algo que se fez. A realidade é que se não for o interessado a reclamar, outros o farão em seu nome, sejam amigos ou mesmo a comunicação social na ânsia de noticiar e abrir casos onde muitas vezes eles não existem.
Todos têm direito à sua opinião, justa ou não, mas apontar vitórias antes do tempo e chamar pelos nomes os que poderão receber a coroa de louros, não é nem simpático, nem digno, especialmente se todos os possíveis interessados percorreram o mesmo caminho para chegar à meta.
As boas obras merecem reconhecimento. Não são necessários falsos moralismos. E em termos políticos, onde mais se notam os que querem arrecadar louros, os moralismos andam um pouco por baixo porque os interesses partidários se sobrepõem ao interesse comunitário. Penso mesmo que até as obras acabam por serem relegadas para um segundo plano em detrimento dos interesses partidários, servindo somente de salvo-conduto para poder subir ao podium.
Seja como for, quando as obras são dignas e meritosas, são elas que merecem ser relevadas, já que elas ficarão muito mais tempo do que os seus mentores. É o caso do túnel do Marão. Finalmente foi inaugurado e com toda a pompa e circunstância, noticiada em toda a comunicação social e, como não podia deixar de ser, com o frisson político habitual. Uns porque estavam, outros porque não estavam, mas deviam estar, outros que estavam porque foram convidados, outros ainda porque estar era imperioso face à grandeza da obra e, talvez ao interesse comunitário. Pois é. Uns estavam porque quiseram inaugurar uma obra que não fizeram, outros estavam porque não fizeram, mas iniciaram a obra, outros porque faz parte da praxis, outros não estiveram porque não puderam ou porque não costumam ir a inaugurações.
Afinal o que é que isso interessa? Será que a obra se vai incomodar com quem esteve ou não esteve lá? Claro que não. Quem se incomodou foi quem não devia e por razões que não lhes deveria interessar certamente. A grandeza da obra deverá sobrepor-se a todos e a tudo, nomeadamente à comunicação social. O alarido não enalteceu nem o momento nem a obra do túnel do Marão. Mas quem vai receber os louros? Quem inaugurou, quem iniciou, quem acompanhou, quem suspendeu ou quem esteve presente e, sem merecer, quis ser o candidato principal à coroa de louros? Parece-me que todos se esqueceram dos mil trabalhadores que escavaram os quase seis quilómetros de montanha. Paciência!
Vendavais - Quem recebe os louros?
Luís Ferreira