Estamos demasiado habituados às palavras que a maioria dos políticos proferem e do mesmo modo percebemos que elas não dizem tudo o que deveriam.
Durante muitos anos, acreditámos que poderia haver alguma verdade por detrás das frases repletas de intencionalidade, mas depois de nos apercebermos que era somente uma mão cheia de intenções, começámos a desconfiar e a não acreditar. Contudo, ao longo dos tempos ainda fomos esperando para ver o que vinha a seguir. Desencanto, puro e simples.
Hoje, penso que todos acreditamos que há sempre algo para além do que se diz e do que se promete. De facto, nos últimos tempos, os governos que se têm sucedido, muito têm prometido e, às vezes só falta jurar que é verdade o que realmente dizem e prometem para bem do povo. Mas a inocência do povo foi-se perdendo como se se tratasse de uma rapariga bonita a quem todos querem prometer tudo e mais alguma coisa. A troco de quê? Ela acaba por perceber que a sua inocência é simplesmente a moeda de troca para outros voos, mas quando a realidade cai, a noite já está demasiado escura.
Se fizermos um esforço de memória, depressa lembraremos que a maioria dos governos sempre nos prometeram melhorar a situação do país, melhorar a vida dos portugueses, diminuir a dívida e a submissão a Bruxelas ou a quem quer que seja, aumentar o emprego e os salários, enfim um sem número de coisas bonitas de ouvir, mas difíceis de cumprir e com alguma falsidade à mistura. A realidade diz-nos que cem por cento do que se promete, somente trinta são cumpridos. Cada cem promessas, traz trinta possíveis! E se calhar nem tanto.
Seja no governo ou na oposição, as promessas são sempre fáceis de fazer e para quem não tem de as executar, ainda mais fáceis são de proferir. É curioso, pois por vezes quase não se entende como é que a oposição a um qualquer governo pode fazer promessas do que não está nas suas mãos poder cumprir! Enfim! Que sejam os elementos do governo a fazê-lo, ainda aceitamos a sua boa vontade em aquietar o povo, mas o contrário já me parece mais caricato.
A verdade é que neste governo atual, isso está a acontecer. Seja o governo a prometer o que não poderá cumprir, sejam os partidos supostamente apoiantes a adiantar o que querem fazer pelo governo, empurrando este para um beco sem saída do qual só se aperceberá demasiado tarde. Ou se calhar já se apercebeu! Mas o certo é que tanto o primeiro-ministro como os partidos que o apoiam disseram que não havia nenhum plano B e mais, disseram que não seria necessário. Centeno, por meias palavras foi dizendo que se fosse necessário algum ajustamento, não interferiria com a vida do dia-a-dia dos portugueses. Costa vem a público tentar sossegar os incrédulos e desconfiados de tanta segurança política, dizendo que não havia nenhum plano B e que nada levava a que fosse necessário implementá-lo. Portanto, todos descansados!
Eis que, de um momento para o outro, passa a haver um plano B. Afinal, há ou não há? Havia ou não a necessidade de o ter na gaveta? Claro que todos têm um plano B para a eventualidade de falhar o primeiro plano, como parece ser o caso. De facto, não se pode prometer só porque é bonito e se tenta convencer os mais distraídos. A verdade vem sem ao cimo, como diz o povo e tem toda a razão. Não adianta escamoteá-la.
Bem gostaríamos de não precisar de um plano B. Era bom sinal, mas infelizmente parece que não será assim. A oposição tinha razão ao confrontar o governo numa das últimas sessões da Assembleia da República. E quem ouviu as variadas respostas, do governo e dos partidos que o apoiam, hoje podem retirar as devidas conclusões. Todos sabiam que havia um plano B e que, mais tarde ou mais cedo, vai ser necessário implementá-lo para infelicidade dos portugueses. Porquê? Quem tem culpa disto? Não me digam que é do Banif e dos Papéis de não sei onde e dos bancos todos, nacionais e estrangeiros, porque de certeza que não é dos portugueses que têm de pagar tudo isso. Estamos fartos de mentiras e de promessas bonitas e mais falsas que Judas. Basta! Estamos fartos de falhanços!
Vendavais - Há sempre um plano … depois de um falhanço
Luís Ferreira