A guerra é, por certo, o mais complexo fenómeno social, porquanto, para lá de ser absolutamente irracional é eminentemente niilista, sendo que o seu impulso determinante é, por regra, individual e não colectivo, contrariamente ao que se faz crer, pelo que reduzi-la ao domínio da geopolítica é limitar a sua mais profunda compreensão. Assim melhor se compreende que os conflitos armados de maior dimensão que a História Universal regista foram determinados, em última análise, por verdadeiros génios do mal, dada a crueldade, a despiedade e a falta de escrúpulos com que prepararam, treinaram e lançaram as suas hostes no combate. Assim foi no passado distante. Basta lembrar, para tanto, o papel decisivo de alguns mal-afamados matadores como o huno Átila (400-453), o mongol Genghis Khan (1162-1227), ou turcomano Tamerlão (1336-1405). Também na História moderna não faltam exemplos de famosos assassinos em massa, com destaque para o russo Josef Stalin, de cujo curriculum constam 20 milhões de mortes, do alemão Adolf Hitler que foi o primeiro responsável por outros tantos milhões, ou do chinês Mao Zedong que bateu o record com 60 milhões. Por outras palavras: estes medonhos carniceiros tiveram o ensejo de se aproveitar de circunstâncias históricas, sociais e geopolíticas propícias para fazer valer o seu génio sinistro, que era determinado por punções mentais assustadoras. Assim é que Mao Zedong que tinha no coração a grande China imperial, estava determinado a matar Deus, para tomar o Seu lugar, à semelhança de Josef Stalin, que amava a grande Rússia imperial. Já Adolf Hitler tinha no cérebro o nacional-socialismo, vulgarmente conhecido por nazismo, e no coração a supremacia da raça ariana, razões determinantes, mais do que as económicas ou geopolíticas, para desencadear a terrível catástrofe que foi a II Guerra Mundial. Uma nova figura, igualmente sinistra, se junta agora às atrás referidas: o russo Vladimir Putin que tem bombas atómicas no cérebro e pouco mais, o que o leva a cuspir ameaças de guerra nuclear por dá cá aquela palha, determinado a fazer ajoelhar meio mundo ante o seu renovado império soviético. Foram estas as verdadeiras razões, de resto, que levaram Putin a ordenar a cruel agressão, não declarada, à Ucrânia, uma nação independente e democrática, da mesma forma que envolveu a Rússia em várias outras guerras desde que se assenhoreou do poder, algumas das quais foram autênticos massacres, que não distinguiram militares de civis, como aconteceu na Chechénia, em 1999 e na Geórgia, em 2000. Claro que Putin, antes de se meter nessas sinistras aventuras, estabeleceu uma pérfida teia de prosélitos e colaboradores no chamado Ocidente, com realce para todos os que se esforçam por matar a democracia a golpes de foice e martelo para em seu lugar estabelecer a ditadura comunista. Até mesmo no insignificante Portugal instalou os seus tentáculos a nível de certas câmaras municipais e nas mais altas estâncias políticas e militares, como tem vindo a ser noticiado pela comunicação social. Não será de estranhar, por isso, que os seus mais fiéis defensores atribuam aos americanos e à NATO as culpas da invasão da Ucrânia, o que não deixa de ser paradoxal porque isso poderá significar que Putin está ao serviço do Ocidente o que não é de todo verdade. Bem pelo contrário. Mais lógico seria, isso sim, que sem rodeios nem subterfúgios, declarassem a invasão da Ucrânia como um ataque alargado ao Mundo Livre que, no seu entendimento, anda prenhe de misérias e pecados, o que não deixa der ser verdade. Só que as fraquezas e ruindades do Mundo Livre, todos os que nele vivem as conhecem, podem e devem denunciar e combater democraticamente. Enquanto os terríveis malefícios dos regimes autocráticos, como é o ditador Putin, apenas aqueles que os sofrem na pele e no espirito, os conhecem verdadeiramente mas não os podem, de nenhuma forma, combater. Dramático será concluir, por tudo isto, que a III Guerra Mundial, inexoravelmente nuclear, sempre será um perigo eminente enquanto Putin estiver no poder. Agora a propósito da Ucrânia, mais tarde por causa de outra qualquer guerra que o déspota tenha no seu programa. Isto se, entretanto, Putin sobreviver a Putin.