TRABALHO DE CASA

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O Ambiente está a mudar. É um chavão que ouvimos com regularidade invocado ora como desculpa ora como acusação ou até como sentença e dito de forma mais ou menos convicta. Mas quem está mesmo convicta da verdade dessa conclusão é a comunidade científica. O degelo das calotes polares, o avanço do mar, muitas vezes com derrube das falésias, os fenómenos atmosféricos extremos de cada vez mais frequentes “el niño”, etc, são a parte visível das alterações climáticas que os ambientalistas atribuem ao aquecimento global do planeta. Não queria deixar de registar, aqui, a assertividade da sabedoria popular em abono desta tese. O facto de os nossos agricultores estarem a plantar oliveiras (árvore da terra quente) onde outrora só havia castanheiros e carvalhos (árvores da terra fria) revela que eles se movem ao ritmo de um certo pulsar cósmico, indizível, mas que sentem. Tal como as aves migrantes que, quando chega a hora, mudam. Que sexto sentido os compeliu a mudarem de paradigma agrícola, pese embora a falta de formação e informação? Que estranha sensibilidade é essa! Mas aqui, como sempre, o empirismo e a ciência andam de mãos dadas.
O aquecimento global é tido como consequência do acréscimo dos gases com efeito de estufa na composição do ar atmosférico, com especial relevância para o dióxido de carbono ou anidrido carbónico (CO2). Este, por sua vez, é resultado de qualquer combustão sendo que o grosso vem da queima dos combustíveis fósseis. Ora os combustíveis fósseis, carvão, petróleo ou gás natural, são, desde a revolução industrial, os motores de qualquer economia e por isso o seu consumo tem subido exponencialmente. É no início desse consumo desenfreado que os ambientalistas tomam como ano zero do aquecimento global, o espaço temporal 1850-1900. E é com base nos modelos matemáticos criados para este estudo (aquecimento global), tendo em atenção o período entre os anos 1000-1400 em que houve um arrefecimento de 0,2⁰C com a consequente descida da agua do mar de 8cm, que os ambientalistas projetam para 2100, caso se mantenha o paradigma do crescimento económico assente na demanda energética, um aumento de 4⁰C na temperatura global em relação ao ano 0 (1850-1900) com a consequente subida das aguas do mar em 1,3m. INCOMPORTÁVEL, dizem.
AnchorCriam então o COP, acrónimo inglês que quer dizer Conferência das Partes. Reuniu a 1ª vez em 1994. De então para cá tem reunido variadíssimas vezes, aliás vinte e uma, tirando sempre boas conclusões mas nunca nada de substantivo em termos de resoluções. (é difícil pedir a um pais subdesenvolvido que tenha contenção no consumo de petróleo porque o Planeta está em risco. Ele responderá naturalmente “em risco estamos nós”. E nem sabemos o que responderia a China.)Até que chega 2015. Já ninguém tinha grandes esperanças nas resoluções de mais um COP mas eis que os ambientalistas têm a sorte dos audazes numa ajuda de ouro do Papa Francisco. Este acabava de lançar uma Encíclica sobre o ambiente, Laudato Si, onde o Papa convoca os católicos e por arrastamento todos os outros, já que o tema corta transversalmente todas as religiões, para a defesa da nossa casa comum ou seja o Planeta. Claro que com esta ajuda inestimável, o COP21 foi um sucesso. A ponto de os 187 países votarem por unanimidade as conclusões, com caracter vinculativo, do COP21 o que chegou a emocionar o anfitrião, Laurent Fabius.. A meta é chegar ao ano de 2100 sem que a temperatura média do planeta tenha um acréscimo superior a 2⁰C face ao ano 0. É uma meta ambiciosa uma vez que precisamente em 2015 o acréscimo da temperatura média do planeta, pela 1ª vez ultrapassou 1⁰C. (mais precisamente 1,02 ⁰C).
O que é que sobra de isto tudo? Os Países vão apostar em força nas energias renováveis, sejam elas eólicas, hídricas, fotovoltaicas, de marés, de geiser, de forno solar, nos motores eléctricos, a hidrogénio, etc. Mas o que é que se pode fazer a partir de Bragança que possa aliviar a carga térmica deste 3º calhau a contar do Sol? Correndo o risco de ser repetitivo direi que os moinhos, verdadeiro “leitmotiv” deste artigo, não sendo uma panaceia, podem contribuir para esse desiderato. Falo nos moinhos por várias razões, algumas até sentimentais: Custa-me ver essas peças da nossa arqueologia industrial votadas ao abandono; Custa-me que não consigamos afectar o seu potencial de serventia às necessidades actuais; Custa-me ver presas assoreadas, onde o aluvião atinge já o perfil de equilíbrio, e com os paredões em ruina; Custa-me ver os logradouros dos moinhos, as nossas praias de outrora, cheios de silvas e plásticos. Mas não tem que ser assim. Os moinhos que produziram energia mecânica podem perfeitamente hoje produzir energia eléctrica. Para tanto basta trocar a mó por um gerador. Haveria ganhos não só pela produção energética, de energia limpa e renovável, mas também pela requalificação de autênticos nichos balneares.
É evidente que esta reafectação, se for aplicada a um caso só, pouco interesse tem e possivelmente nem terá viabilidade económica. Teria que ser uma jogada de conjunto e com uma coordenação. Há fundos Europeus para estes investimentos que, além de estarem na ordem do dia, como se manifesta, têm RETORNO.
Não que eu acredite muito no cumprimento de acordos entre 187 países e com uma vigência até ao fim do século. Mas se acontecer era bonito sermos apanhados com o nosso trabalho de casa feito.

Manuel João Pires