No início de 1976, na Estação de Caminhos de Ferro de Santarém, de segunda a sexta-feira, juntava-se um grupo onde pontificava o saudoso Fernando Salgueiro Maia, caído em desgraça na sequência do 25 de Novembro, que apanhava o comboio das sete da manhã e até Lisboa nada escapava no crivo crítico da actividade política e dos costumes para nosso gáudio e frenesim palavroso a envolver circunstantes. Em Castanheira do Ribatejo juntava-se a nós um rapaz que o Barros da família Barros da rua Direita, em Bragança, nos tinha apresentado. O Barros trabalhava na Segurança Social, na CPN, e continua a residir na capital do gótico. O rapaz era de Bragança disse-nos o Barros, logo «estava em casa», apesar da outorga do passaporte grupal, este salientava-se por ser extremamente reservado, falava quando interpelado, ante a alacridade preferia esboçar prudente sorriso porque «aquela gente» possuía Mundo assanhado pela guerra colonial, a agitação política numa oposição inorgânica cujo ponto focal era a Livraria Apolo escalabitana. O rapaz era o Teófilo Vaz. Passados alguns anos encontro-o em Bragança, ele na qualidade de professor de História, eu enquanto membro da Assembleia Municipal, na bancada do PSD. Retomamos o contacto, recordamos o indómito capitão de Abril, fomos falando. Já desligado da Assembleia Municipal, um compromisso partidário impediu-me de aceitar o convite para nesse órgão continuar, apresentei ao executivo Municipal uma proposta de construção de um livro destinado a assinalar uma efeméride cujo tema foi Bragança antes e depois da restauração da democracia. Obra de vários matizes e representações, convidei o Teófilo Vaz para escrever sobre a Toponímia do burgo brigantino, convite aceite de imediato, daí um texto de grande qualidade que pode ser apreciado na referida obra. As alteridades surgidas no Nordeste Informativo originaram a sua designação de Teófilo como Director do semanário onde já escrevia. De modo sereno, sem brusquidão, chapodou a face do jornal tornando-a glabra, escanhoou-a limpando-a de adornos espúrios, o jornal multiplicou a opinião, os editoriais do Director primavam pela justa análise tendo-se transformado em justificada leitura obrigatória, por isso, amiúde, lhe endereçava merecidos elogios dada a concisão o acertado toque na buba ou exemplo a seguir. O meu Amigo Engenheiro António Jorge Nunes deu- -me a saber do infausto acontecimento da sua morte. Fiquei pasmado, durante largos minutos meditei, relembrei o Teófilo alegre e bem disposto a mostrar-me a sede do jornal e da rádio, entusiasmado, e a apresentar-me as e os jornalistas, bebermos um café de seguida, distendido, rememorou episódios e desfiou projectos exequíveis para fortalecimento da sua paixão jornalística. Estava feliz. Ofereci- -lhe um livro da minha autoria, trocámos um abraço, zarpei. O Teófilo respirava força e vigor. Na altura do passamento de uma personalidade marcante, o caso de Teófilo Vaz, os obituários luzem encómios tal como as placas douradas a indicarem pessoas, alhos e bugalhos, secos e molhados, os chorosos de hoje, riem destemperadamente amanhã. É a vida! Faço um pedido a quem de direito, não deixem apagar a sua memória. A criação de um prémio com o seu nome destinado a jovens jornalistas seria (será) uma forma de o fazer. Assim o penso e escrevo.