Pedro Passos Coelho resolveu chumbar a redução da TSU porque, segundo ele, o PSD não vai ser a bengala do Governo. O suporte das decisões governamentais tem de ser assegurado pela Geringonça e não deve ser esperado nenhum outro apoio, vindo de qualquer partido fora da aliança de esquerda. Seja qual for a ação, o projeto ou a deliberação. A bondade intrínseca da matéria em análise não interessa, desde que a sua contestação possa representar um sinal de desunião na plataforma de apoio governamental. Acrescenta ainda que, no caso em apreço, era ao Partido Socialista que competia assegurar o respaldo político para o acordo estabelecido na Concertação Social. Foi, segundo o líder social-democrata, o partido socialista que esteve a negociar na mesa onde o PSD não teve assento. Portanto eles que se desenrasquem e que se libertem desta enrascada em que se meteram.
Começam aqui os equívocos. O PSD é representado pela sua direção mas não fica confinado na vivenda de S. Caetano à Lapa. É verdade que não houve dirigentes dos militantes, mas os trabalhadores social-democratas estavam bem representados pela delegação da UGT que aprovou e assinou o acordo em questão.
A segunda confusão vem com a descabida história das bengalas. É público que o ex-primeiro ministro anda com dificuldade de afirmação dentro do seu próprio partido e começa a olhar por cima do ombro pois são vários os lugares de onde podem surgir desafiadores da atual liderança. Provavelmente por isso, Pedro Passos Coelho resolveu mostrar serviço na tarefa de se opor ao atual governo e, como tal, trata de suportar e apoiar tudo o que, no seu entender, possa abrir qualquer brecha na maioria parlamentar do governo. Pretende com isso abanar a Geringonça e dificultar a sua continuidade. Ora o erro de avaliação, neste caso, é clamoroso. Pelo contrário, a atuação desastrada e lesa-património partidário, como Silva Peneda veio alertar em carta aberta, acaba por ser o maior seguro de vida do acordo governativo. Se não vejamos: Cumprido o primeiro ano geringonçal, com a reversão das medidas mais contestadas à esquerda, todos os analistas são unânimes em clamar que havia necessidade de encontrar novo leitmotiv capaz de reanimar e solidificar a união dos partidos da ala esquerda. Ora quem o está a fornecer é precisamente o PSD. Contrariamente ao que quer fazer crer, ao apoiar a iniciativa do PCP ao lado do Bloco de Esquerda está a ajudar estes dois partidos pois que ao obterem ganhos concretos em determinadas causas, ganham espaço para poderem continuar a apoiar a governação socialista sem terem de alienar os seus militantes.
A crer no que a imprensa vai divulgando esta união (PSD-PCP-BE) vai acontecer em outras iniciativas. A situação começa a ser idêntica à do célebre frade que na zona da Almeirim tentava, em vão, obter esmola que lhe aliviasse a fome. Conseguiu-a usando uma pedra que lavou muito bem, fazendo crer aos aldeãos que ela seria o principal condimento da sopa que se propôs confecionar, servindo apenas de indês para obter todos os outros condimentos que eram, na realidade, os verdadeiros condimentos da refeição. Consumido o repasto perguntaram-lhe o que iria fazer com a pedra. A resposta pode muito bem ser parafraseada por Jerónimo de Sousa ou Catarina Martins:
– O Pedro, perdão, a pedra? Vou guardá-la para a próxima vez!
SOPA DE PEDRA(O)
José Mário Leite