Sondagens políticas ou política de sondagens?

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S empre que há eleições aparecem as sondagens a situar as vertentes a analisar ou os opositores. Não interessa muito sobre o que são as eleições. Interessa é ter sondagens e apresenta-las para que todos vejam que houve um trabalho sério, ou não, por detrás de tudo o que foi feito. Quando se trata de sondagens sobre eleições nacionais, sejam elas em Portugal ou em outro país qualquer, todos os interessados querem saber como vão os candidatos. Para uns, são sempre bons porque até podem ser manipulados e ganha sempre o mesmo, para outros, se quem vai à frente não é da sua cor política, já é mau sinal ao que se junta uma boa dose de desconfiança. Na Rússia vai haver eleições dentro de alguns meses e já Putin está a equacionar o modo de ganhar novamente, como se houvesse outro candidato livre que lhe pudesse fazer frente! Para quê tanto alarido e tanto convencimento quando todos sabem o resultado final? Deixasse ele que as eleições fossem livres e democráticas e que os candidatos saíssem da prisão e talvez não se achasse tão forte e ganhador. Mas também lá, as sondagens existem. Antes e depois. Para quê? Arranjam um candidato fantoche, porque é de bom tom dizer que houve democracia no processo, e depois eis que afinal Putin volta a ganhar com 95% dos votos. Uma vergonha! Outro caso é o de Maduro na Venezuela. Passado a papel químico, faz o mesmo que aprendeu com Putin e sem ponta de vergonha. E mais: agora quer invadir e anexar 2/3 da Guiana como se aquele território fosse da Venezuela! Como a Ucrânia! Os melhores. E depois vêm acusar Israel de invasão da Faixa de Gaza! Gaza até pode ser o cemitério da vergonha, porque o é efetivamente, mas o caso é diferente. O Hamas não é a Palestina. É um grupo terrorista e aqui sim, pode-se comparar a um país como a Rússia já que o que tem feito é praticar o terrorismo. Enfim! Tenham vergonha. Mas se as sondagens existem por lá, também existem por cá. O PS, agora sem secretário geral, assiste, não a dois, como se supunha, mas a três putativos candidatos à liderança. O terceiro, não me lembro do nome e a maioria dos socialistas também não. Os outros dois, todos conhecem. E aqui as sondagens já estão a funcionar em força. Já deram a vitória a Pedro Nuno Santos e, mais recentemente, dão a vitória a José Luís Carneiro, ainda ministro de um governo de gestão e já voltaram a virar, como se de uma dança se tratasse. Neste confronto é sempre de questionar se há uma política de sondagens ou umas sondagens políticas, porque elas interessam sempre aos dois, mas mais a um que ao outro. A qual? As moções de estratégia já foram apresentadas e no que respeita a eventuais alianças, Nuno Santos é omisso, ao passo que Carneiro quer promover consensos alargados. Mas as diferenças não se ficam por aqui. Há muitos ouros aspetos onde se notam diferenças. A justiça e os lobbys são um padrão de exigência ética do PS e pode ser a faísca que os vai dividindo. Por outro lado, sabemos que Pedro Nuno Santos quer cortar com Costa e embora não o diga abertamente, sempre vai referindo aspetos que pretende mudar adiantando promessas como a devolução do tempo congelado dos professores, coisa que Costa sempre recusou fazer. E José Luís Carneiro? Também ele promete muitas coisas e uma delas é apostar num compromisso para a justiça e a especialização dos tribunais. Para justificar a sua posição, atira-se contra o PSD que, quando foi governo, fez alterações na justiça, fechou tribunais e alterou decretos na justiça. Claro que agora vêm os rabos de palha. Muita água vai passar debaixo das pontes até às eleições do PS, mas depois vêm as legislativas e a contenda será pior e mais profunda. Sem tempo para preparar toda a campanha e as acusações sérias para arremesso em tempo certo, tudo é mais difícil. Entretanto, as sondagens vão aparecendo e ora dão vantagem ao PSD, ora dão ao PS, mas a diferença não lhes permite ter certezas de nada. Ganhe um ou outro, os números só servem como moeda de troca. Sabem bem que o troco virá do outro lado e de outro partido. Qual? Seja como for, as sondagens não têm esquerda, centro ou direita. Têm números, percentagens. Mas quem ganhar tem de contar com as três variantes e esperar que as sondagens sejam menos políticas do que outra coisa qualquer. No meio de tudo isto é curioso que as sondagens deem como favorito dos portugueses José Luís Carneiro em vez de Nuno Santos ou mesmo de Montenegro. Para secretário geral do PS preferem Nuno Santos, para Primeiro Ministro preferem Carneiro. Quem percebe isto? Será que são sondagens políticas ou uma política de sondagens? Uma coisa é certa: José Luís Carneiro é mais centrista e menos arruaceiro que Nuno Santos. E o PS sabe disso. As asneiras que Nuno Santos fez enquanto governante, marcou- -o muito e essa marca não sairá tão depressa. Para equilibrar ou talvez não, vem novamente à baila o novo aeroporto. Uma aberração e as manias de grandeza de um país que não tem onde cair morto, dão o mote para a campanha e as brasas para o novo governo apagar, se tiver força e coragem. Por enquanto Montenegro aguarda na espectativa de um alargamento eleitoral com o CDS e talvez a IL para assim ter a certeza que o governo tem assinatura social democrata. Ventura não gosta, claro! No fundo é apenas mais um duelo do qual somente as sondagens nos dão algum sinal e já não há muito para mudar. Restam-nos as sondagens de 10 de março para nos entreter. Enfim, sondagens!

Luís Ferreira